Em Niterói (RJ), desabrigados das chuvas encontram-se em situação extremamente precária

Ontem visitei em Niterói dois abrigos para onde foram encaminhadas vítimas das chuvas que assolaram o Rio de Janeiro em abril. São quase mil pessoas que ainda estão abrigadas em dois quartéis há seis meses. Entre elas há mais de trezentas crianças.

Segundo os desabrigados, inicialmente eles foram levados para escolas públicas e, quando as aulas retornaram, foram transferidos para os quartéis. Naquele momento, foi montada uma estrutura de apoio para oferecer serviços como limpeza, segurança, alimentação, além de trabalho de apoio social e educacional com as crianças.

Passados tantos meses, além de não ter apresentado ainda uma alternativa definitiva de moradia pra essas famílias, a prefeitura está retirando todos os serviços que estavam sendo oferecidos. Em um dos quartéis, a situação é de total abandono.

Segundo os moradores, a prefeitura tem pressionado pra que eles deixem os abrigos e usem o auxílio moradia de R$ 400 mensais que está disponível. No entanto, as famílias que estão lá não conseguem alugar uma casa, seja por conta do valor do auxílio, seja pela exigência de fiador, ou até mesmo porque muitas vezes os proprietários não aceitam alugar imóveis para famílias com mais de cinco filhos. Ou seja, sem um efetivo apoio da prefeitura, o programa de aluguel social é inviável. Além disso, as pessoas reclamam que às vezes o auxílio não é disponibilizado.

Impressiona também a absoluta falta de informação para essas pessoas. Ninguém sabe se vai receber uma nova casa ou não, se será gratuita ou não. E o mais chocante ainda é constatar que um dos quartéis já está em posse da prefeitura e trata-se de uma área enorme onde poderia ser produzida uma grande quantidade de moradias.

No fim das contas, passadas as chuvas e desligadas as câmeras da televisão, as verdadeiras vítimas, as pessoas mais vulneráveis, que perderam suas casas e tudo o que tinham, estão simplesmente esquecidas.

2 comentários sobre “Em Niterói (RJ), desabrigados das chuvas encontram-se em situação extremamente precária

  1. Aqui em Niterói o que está ruim sempre pode piorar. Então no dia 16 junho de 2010, vide D.O do município, o prefeito assina vários decretos desapropriando 1600.000 m2 de terras para fins de utilidade pública: (construção de 9000 moradias populares).

    Seria ótimo se não fosse os seguintes fatos: estas terras são ocupadas por 1500 pessoas a mais de 60 anos e que nem foram levadas em conta; a maior parte das terras tem topografia acidentada (mar de morros) cobertos com Mata Atlântica em estágio secundário de regeneração; as partes planas onde se poderiam se construir as unidades do proj. Minha casa minha vida tem rios, córregos e nascentes; estas pessoas que ocupam a áreas são pessoas de muito humildes até classe média, mas não estão em área de risco e possuem um modo de vida ainda rural com pequenas plantações e criações de animais domésticos.

    Por que então desapropriar uma área tão grande? Resposta: o RGIs das terras em questão pertencem a amigos dos administradores municipais, e tinham essas terras como “perdidas” pela longa ocupação mansa e pacífica dos moradores dos seus atributos ambientais. Com as chuvas, enquanto pessoas eram enterradas vivas, estes lobos uivavam de satisfação em seus covis, vislumbrando os negócios futuros. Outra alegação dos administradores municipais é que aqueles conjuntos pequenos feitos nas próprias comunidades e que melhor atendem a população são pouco rentáveis para os construtores. Outro fator é que esta administração atual precisa de uma grande obra para ficar na lembrança dos eleitores.

    Curiosamente as outras desapropriações que se seguiram, coicidiram em sua maior parte sobre áreas de froresta, inclusive tem uma sobre a reserva Darcy Ribeiro.
    Podemos, depois de 7 meses constatar que a população está totalmente desvalida, as pessoas por puro desespero e falta de alternativa, voltaram paras os mesmos lugares onde perderam familiares e amigos na ocasião da catástrofe.
    A única obra de contenção de encostas está sendo feita para salvar o anexo do museu do MAC (o Maquinho) este construído em área de risco, na área que tem o solo mais instável do município segundo geólogos.
    Não bastasse os prejuízos sócio-ambientais e econômicos que nossa cidade teve por causa das chuvas e ocupações em área de risco, por omissão e até apoio do governo como o caso do Morro do bumba, ainda vem esta grande ação entre amigos que visa predar a cidade, coberta pelo manto da utilidade pública.

  2. Prezada Professora Raquel Rolnik, estou desenvolvendo pesquisa para dissertação de Mestrado sobre as remoções e o reassentamento das vítimas do Morro do Bumba em Niterói – RJ e a situação dos desabrigados é cada vez pior. No dia 01/02 a Prefeitura da Cidade removeu as famílias alojadas no 4º GCAN (Grupo de Companhias de Administração Militar) para o 3º Batalhão de Infantaria, a 2 km de distância, com ajuda do Batalhão de Choque da PM que portava escudos, armas de borracha e bombas de efeito moral para garantir a operação contra famílias já tão fragilizadas e marginalizadas. A mudança foi realizada em caminhões de lixo da CLIN (Companhia de Limpeza de Niterói), reafirmando a humilhação das pessoas e não foi permitido que os desabrigados levassem seus móveis e eletrodomésticos. Segundo o Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói o 3º BI não possui condições básicas de habitabilidade e a imprensa foi impedida de entrar no local.

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