Sinais de mudança nos padrões de mobilidade de São Paulo

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Foto: Helton Rodrigo Barbosa/Ciclocidade

Nesta Semana da Mobilidade, além de muitas matérias na imprensa sobre o tema, foram divulgadas algumas pesquisas realizadas por organizações como a Ciclocidade e a Rede Nossa São Paulo. Os novos dados mostram que, aparentemente, está em curso uma mudança nos padrões de mobilidade da cidade.

Em primeiro lugar, uma das informações mais importantes é que depois de décadas em que a proporção de usuários de transporte individual crescia sem parar, finalmente houve uma queda: em 2014, 56% dos paulistanos diziam usar o carro diariamente, em 2015, essa parcela caiu para 45%, conforme pesquisa da Rede Nossa São Paulo.

Isso confirma os dados das últimas pesquisas realizadas pelo Metrô (Origem e Destino 2007 e Mobilidade Urbana 2012), que já mostravam um crescimento em proporção maior das viagens realizadas em transporte coletivo com relação às viagens feitas em veículo particular.

Entendemos, assim, que uma parte das pessoas deixou de se deslocar de carro e passou a usar o transporte coletivo? Não necessariamente. Essa seria uma leitura simplista… Se verificarmos na pesquisa OD de 2012 a evolução do índice de mobilidade (média de viagens diárias realizadas por pessoa), veremos que as pessoas estão se deslocando mais nos últimos anos. O índice, que era de 1,93 em 1997, passou para 2,07 em 2007 e chegou a 2,24 em 2012. Isso significa que muita gente que antes não se deslocava ou se deslocava apenas de casa para o trabalho ou a escola passou a se deslocar em razão de outras finalidades, certamente incrementando o número de usuários do transporte público. Sem dúvida isso tem a ver com o aumento da renda média da população, especialmente entre os mais pobres, que são a maioria.

Só que esse grande aumento de usuários no transporte público não foi acompanhado de expansão semelhante da rede de transportes. Ainda que nos últimos anos uma nova linha de metrô tenha sido inaugurada e mudanças tenham sido feitas na rede de ônibus com o objetivo de torná-la mais eficiente, tudo isso foi insuficiente diante das necessidades da população.

Isso explica que na pesquisa da Rede Nossa São Paulo a lotação do ônibus seja o item mais mal avaliado entre os usuários, seguido do preço da passagem. De acordo com a pesquisa, 59% dos entrevistados têm a sensação de que a lotação aumentou de 2014 para 2015.

Com relação ao uso da bicicleta, pesquisa realizada pela Ciclocidade mostra que está correta a tese de que quanto mais infraestrutura a cidade oferece para os ciclistas, mais pessoas aderem ao uso da bicicleta como transporte. Contagem realizada pela organização em setembro mostra que o número de ciclistas que trafega na Avenida Paulista mais do que dobrou após a inauguração da ciclovia. Na contagem anterior, de junho (antes da inauguração), foram registrados 977 ciclistas, enquanto no último levantamento esse número chegou a 2.112.

Outro dado importante revelado na pesquisa da Ciclocidade é que 70% dos ciclistas usam a bicicleta para se deslocar ao menos cinco vezes por semana: ou seja, são pessoas que se deslocam de bicicleta não para passear ou fazer exercício, mas para se locomover para suas atividades diárias, para o trabalho, a escola etc. O perfil predominante do ciclista em São Paulo é de homens na faixa etária dos 25 aos 44 anos (totalizando 67% dos usuários). A ciclovia da Avenida Paulista foi a que registrou maior proporção de mulheres: 14%.

A pesquisa também mostrou que a resistência do paulistano ao uso da bicicleta diminuiu: em 2014, 24% dos entrevistados responderam que não usariam bicicleta de jeito nenhum para se deslocar. Este ano essa proporção caiu para 13%.

Obviamente, a participação da bicicleta no total de deslocamentos em São Paulo ainda é baixa. Mas os dados mostram que a tendência é que essa proporção aumente na medida em que a infraestrutura seja expandida e consolidada. Quem caminha pela cidade já percebe que muito mais gente tem usado as ciclovias e ciclofaixas.

Continuar com os investimentos em ciclovias, melhorar as calçadas, investir pesado no transporte público, com expansão da rede de trem e metrô e melhorias profundas na rede de ônibus, sem esquecer o necessário investimento em acessibilidade para pessoas com deficiência em todos os modais, é um desafio permanente e fundamental. A cidade, inclusive muitos usuários do carro que hoje ainda se opõem a algumas medidas, ainda vai agradecer.

5 comentários sobre “Sinais de mudança nos padrões de mobilidade de São Paulo

  1. Tenho até dó do Haddad. Fez coisas boas em São Paulo como as ciclofaixas que a ignorância teima em aceitar como um avanço. Mas deu um tiro no pé ao obedecer à orientação do seu partido e permitir em meio à crise hídrica a ocupação do parque dos Búfalos, uma área de preservação de mananciais.

    A derrocada do governo federal petista jogou lá embaixo os índices de aprovação do prefeito. Talvez melhore com a chegada da nova iluminação pública com lâmpadas de LED e a substituição do que resta de ônibus velhos por veículos novos com ar-condicionado, suspensão a ar, câmbio automático, piso rebaixado, lixeiras.e ausência de cobrador (se o sindicato dos cobradores permitir, claro)

    Para salvar-se Haddad precisa fazer como fizeram a Marta, Erundina e Marina Silva que pularam fora do Titanic do PT, partido que está atolado até o pescoço em um mar de fezes.

    Que o diga Hélio Bicudo.

  2. Cara Raquel e Leitores deste Blog
    Instaladas as Ciclovias, é necessário cuidar e preservar a segurança dos usuários e não usuários. O convívio entre as bikes e os pedestres deve ser harmonioso, sendo que sempre o pedestre terá preferencia. Como mostra a foto desta matéria, veja que o cidadão não usa capacete e tão pouco as crianças que ele carrega em sua bicicleta. A prefeitura , deveria, pelo menos na Ciclovia da Paulista colocar Fiscais, orientando quanto a segurança, e cobrando o uso de equipamentos de segurança, tais como capacete, joelheira , cotoveleira, etc. Em caso de queda que será onerada é a própria Prefeitura ou o Estado, dependendo do Pronto Socorro que o acidentado for atendido, isto se o mesmo não tiver plano de saúde.
    A Regulamentação e Sinalização de velocidade máxima e de “pare” na ciclovia é primordial. Quando se entrega um novo equipamento a população tem que se pensar principalmente na segurança e bem estar.
    Grato pela oportunidade mais uma vez
    Antonio da Ponte
    Ambientalista da Aclimação.

    • Senhor Antônio, vá se informar mais sobre o assunto, pois está usando uma abordagem totalmente incorreta e descabida. Me fale um país considerado seguro e com tradição de bicicletas onde esse discurso de “capacete, joelheira e cotoveleira” ainda existe. Senhor, leia o código de Trânsito do pais e saiba que nada disso é obrigatório. Não venha culpabilizar a vítima, numa situação como essa. Numa situação fatal, onde um veículo colide com uma bicicleta ou pedestre, estes quase sempre são os que morrem, o carro, o que mata. Não venha me falar de onerar a prefeitura com gastos, onde diariamente milhares estão nos hospitais por imprudência no trânsito (não são acidentes), onde quase 70% dos leitos atualmente em hospitais são ocupados por acidentes com automotores. Se a pessoa opta por usar a bicicleta, ela tem todo o direito de usar a via, todo direito de pedalar com segurança. A regra é clara, o maior protege o menor!

  3. Concordo com o Antonio da Ponte e acrescento que também tem que se investir em educação urbana, não só para ciclistas como para os motoristas de ônibus, sempre tendo como prioridade o pedestre. Não basta ter só a sinalização, ela precisa ser respeitada.
    No Rio de Janeiro, onde moro, precisamos ter cuidado ao descer de um ônibus, que não para junto ao meio-fio e onde ciclistas trafegam no pequeno espaço entre o ônibus e a calçada, colocando em risco os que descem do veículo. As ciclovias são precárias, mal sinalizadas e muitos ciclistas andam em velocidade nas calçadas.
    Outra questão é que a população idosa aumenta cada vez mais e a bicicleta não é a opção.
    É preciso inclusive uma campanha de gentileza urbana, que poderia ser patrocinada pelas empresas que têm em seu discurso ambiental a promoção de bicicletas compartilhadas.
    Ciclovias mal planejadas, ciclistas imprudentes são uma ameaça aos pedestres que está aumentando com muita rapidez.

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