O tema da mobilidade urbana vem sendo pouco discutido nestas eleições. Mas acho que este é um assunto que interessa a todos nós. Para se ter uma ideia, do total de viagens realizadas no país, 41% não são motorizadas, ou seja, são feitas a pé ou de bicicleta. E pedestres e ciclistas sofrem com a ausência de políticas públicas nesta áreas. Um dado impressionante é que o Brasil tem praticamente o mesmo número de usuários de transporte individual – carro, moto – e coletivo – ônibus, trem, metrô. Cada um representa cerca de 30%.
Nas cidades com mais de um milhão de habitantes, no entanto, o transporte público é responsável por uma parcela maior do deslocamento, entre 36 a 40%. Mas infelizmente é no transporte público que as viagens são mais demoradas. O tempo médio é de vinte minutos, sendo que em algumas cidades esse tempo está chegando a quarenta minutos. E essa á uma das principais queixas dos usuários, além da superlotação e da precariedade do transporte.
Uma das formas de enfrentar essa questão está relacionada com o custo do transporte. Hoje, é o usuário quem paga o custo do transporte e compensa as gratuidades. Então, poucas linhas são disponibilizadas, os ônibus ficam lotados, tudo pra fechar a equação.
A verdade é que, em todos os lugares do mundo onde o transporte público é eficiente e de qualidade, ele é também subsidiado pelo governo com dinheiro público. Claro que, dependendo do transporte, o subsídio precisa ser maior. Qual seria, então, a maneira de enfrentar essa questão?
Os profissionais da área de transporte defendem há muito tempo a desoneração do setor, ou seja, custos mais baixos, gasolina e eletricidade mais baratas etc. Com isso a tarifa poderia ser mais baixa para o usuário e os custos mais baratos para as empresas que operam os transportes. Para se ter uma ideia, existe um cálculo que afirma que o custo da operação do metrô no mundo é de U$ 3,5 por pessoa. Um valor muito alto pro usuário arcar.
E sem metrô, é possível melhorar o transporte público? Sim, muitas coisas podem ser feitas independentemente do metrô, como os corredores exclusivos de ônibus. Mas aí aparece uma outra dificuldade histórica: enfrentar a briga com o usuário do carro, que não quer perder o seu espaço.
Oi Rachel Rolnik,
Uma possível alternativa à desoneração do setor dos transportes através da isenção de impostos, como se tem proposto, seria mudar o modelo de financiamento do transporte. Ao invés de ser sustentado pelas tarifas pagas apenas pelos usuários, o transporte coletivo poderia ser financiado através de impostos pagos por diversos setores da sociedade que também dependem dele. Afinal o comércio, os setores de serviço e de produção também causam impactos na cidades influenciando o fluxo e densidade dos deslocamentos realizados nelas.
Mal também não faria investir o dinheiro geralmente gastos em elevados, túneis, estacionamentos e duplicações em melhorias no transporte público para torná-lo mais atrativo!
Bom, desafios temos alguns. Mas é legal ver o pessoal pensando sobre eles.
Um abraço.
Carolina Cruz
Acho que a maior dificuldade é a “cultura do carro” cuja posse é considerada um diferencial em todos os extratos sociais. Muitas pessoas têm preconceito de andar de ônibus, alegando desconforto e insegurança (que são reais), mas em muitos casos não são as verdadeiras razões. Precisaria de uma grande campanha educacional para que os mais favorecidos deixem seus carros nas garagens, utilizando-os para os percursos mais longos.
Oi, Raquel,
Assim como a Eleonora, acho que o problema é mais amplo – é cultural.
É óbvio que os transportes públicos de qualidade são fundamentais.
Contudo, me parece que algo tão simples como investir em boas calçadas para pedestres, com locais seguros para travessia e iluminados (não apenas nas áreas nobres), assim como investir em ciclovias poderia fornecer motivos para as pessoas utilizarem os próprios pés e bicicletas também. Afinal, o modelo do motor à combustão não é o único paradigma existente.
E muito legal o blogue.
Um abraço,
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