Para aquecer a economia, governo incentiva indústria do carro. Mas e os impactos territoriais desta medida?

Ontem todos os jornais repercutiram o anúncio do ministro Guido Mantega sobre medidas para aquecer a economia diante da crise financeira global. Basicamente, o governo reduziu impostos e juros para compra de carros, liberou mais crédito, ampliou o prazo para compras de veículos a prazo, e reduziu os juros do BNDES para empréstimos a empresas. Para se ter uma ideia, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros nacionais 1.0 foi zerado e, além disso, as montadoras darão descontos no preço de tabela dos automóveis. Estas medidas valem até 31 de agosto.

De acordo com o portal do Estadão, de um lado, o governo estima que deixará de arrecadar R$ 1,2 bilhão no período; de outro, as montadoras se comprometeram a não demitir funcionários durante o período do acordo. Em entrevista ao jornal, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, afirmou: “Isso atende à demanda do setor. Os estoques estão altos e é preciso fazer girar a máquina da indústria automobilística.”

Resta saber ONDE esta máquina vai girar, já que nossas cidades e estradas estão abarrotadas de carros, sem perspectivas de enfrentamento de uma das maiores crises de mobilidade que este país já conheceu. A realidade é que nosso modelo de cidade e de país, baseado na mobilidade sobre pneus de carros e caminhões, consome um enorme espaço, público e privado, uma quantidade gigantesca de recursos, e não tem atendido as necessidades de circulação da população. O triste é que uma política industrial – definida para bombar a economia e o emprego – tem enormes impactos territoriais que sequer são considerados, muito menos planejados…

8 comentários sobre “Para aquecer a economia, governo incentiva indústria do carro. Mas e os impactos territoriais desta medida?

  1. Carro é status, é indicativo de que a economia vai bem, carro é sinônimo de sucesso … nessa hora, o transtorno é “apenas um detalhe”.

  2. Será que essa crise na indústria automobilística não é um reflexo justamente dessa crise de mobilidade? Imagino que as pessoas estejam cada vez menos animadas para comprar carros dados os crescentes congestionamentos.
    Se isso estiver acontecendo mesmo, a medida do governo não vai surtir um efeito satisfatório nas vendas. O governo estará forçando algo não natural.

  3. É essa a resposta mais inteligente de nossa sociedade aos problemas: criar mais problema? esta falta de sensatez e visão mais ampla sobre a questão só reforça o anúncio de S. Hawking: antes do mundo acabar, iremos nos destruir (resolvido o problema)!

  4. Será que não existem outros setores da indústria que mereçam atenção e que também são capazes de ajudar a aquecer a economia? Por que não se concentrar em desonerar cadeias produtivas ligadas à infraestrutura: energia limpa, saneamento, transportes não rodoviários…?

  5. Onde estão os transportes públicos de qualidade e na quantidade adequada à demanda – tais como metrô, bondes, ônibus elétricos e a gas, etc, necessários à mobilidade do cidadão e à redução do uso dos carros nas grandes cidades?

  6. BARROADA OU DÉCIMA DO ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO

    Os empresários incautos
    Só pensam no quanto lucram
    E aos poucos lacram, sepulcram
    A paisagem com seus autos;
    Desando hoje aos sobressaltos
    E a conclusão que me invade
    É pura necessidade
    Não é para tirar sarro:
    Até não me falta carro
    O que me falta é a cidade.

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