Sábado tem churrasco contra uma Higienópolis excludente

Em protesto contra a reação negativa de moradores de Higienópolis, um dos bairros mais nobres de São Paulo, à construção de uma estação de metrô na Avenida Angélica, internautas marcaram ontem, através do facebook, um churrascão em frente ao Shopping Higienópolis, sábado, às 14h. Mais de 45 mil pessoas já haviam aderido ao protesto até a tarde de hoje.

A iniciativa, além de bem humorada – a ideia do churrasco é uma resposta à declaração de uma moradora que afirmou que uma estação de metrô atrairia “gente diferenciada” ao bairro – mostra que muitos paulistanos rejeitam a ideia de uma cidade excludente, de bairros exclusivos onde supostamente viveriam somente um grupo social.

O limite do imaginário dessa cidade excludente seria o condomínio fechado, isolado, murado, com torres de vigilância, “defendido” das contradições da cidade real. No outro extremo, a cidade heterogênea, multiclassista, multiétnica e multifuncional.

A direção do Metrô afirmou hoje, em nota oficial, que a decisão de mudar a localização da estação se deu por razões técnicas (excessiva proximidade entre a estação Angélica e a estação Higienópolis/Mackenzie) e não para atender a solicitação de moradores insatisfeitos. O Ministério Público de São Paulo diz que vai apurar junto ao governo do Estado quais, de fato, foram as razões.

O fato é que Higienópolis já nasceu, no final do século XIX, de um projeto de loteamento residencial classe A, com grandes lotes e amplas avenidas arborizadas, destinado às elites paulistanas. Esse projeto contou, inclusive, com uma regulação urbanística para garantir essa exclusividade, assim como com investimentos urbanísticos diferenciados. A verticalização do bairro, que se intensificou muito a partir dos anos 1970, mudou esse perfil, mas não desconstruiu, simbolicamente, esse projeto.

A resistência que o bairro tem hoje para receber uma estação de metrô está justamente relacionada com a sua possível popularização e, consequentemente, desvalorização imobiliária, postura rejeitada por muitos, inclusive moradores do próprio bairro, como bem demonstra as manifestações dos internautas.

Mas a questão fundamental nisso tudo é a forma como se dá todo o processo de decisão sobre as novas linhas e estações: estas vão sendo anunciadas e desanunciadas sem nenhum planejamento estável – aliado a uma estratégia urbanística pactuada coletivamente na cidade – e, portanto, ao sabor das pressões dos interesses que conseguem ter acesso à mesa de decisão.

8 comentários sobre “Sábado tem churrasco contra uma Higienópolis excludente

  1. Ola!!!! sou arquiteto e Urbanista. Para mim, é triste ver isto que esta ocorrendo, pois quando o metro for implantado beneficiará a todos. Ricos e pobres!!
    O que é engraçado….
    Os chamados elitizados de “higienópolis” ficam vangloriados quando vao ao Nova York, Paris ou Londres onde há um sistema de metro super eficiente, e costumam a criticar… “No Brasil poderia ser assim, metro em todo lugar!!!!” Agora quando o trem chega na porta deles agem desta forma, é claro que eles só estão pensando no seu interesse.
    Que o metro possa atrair camelos, criminalidade. Pode até ser… Mas isso existe em todo o lugar. No mundo real!!!!! Não no “mundinho deles”

    Meus caros amigos “ricos” pensem mais no coletivo, pensem na empregada que trabalha na sua casa que pega cerca de 2 horas de transporte para chegar até seu bairro.
    Pensem nos varredores de lixo que acordam cerca de 5 horas da manha e enfrentam horas no trem, e que isso encurtará o tempo deles para limparem suas preciosas calçadas.

    Mas acrdito que infelizmente, o ego dos nossos queridos amigos de higienópolis vão vencer este jogo, pois todos nós sabemos, que quem manda aqui neste Brasil. Por mais que se diga o contrário

    Lamentável

  2. Oi, Jefferson

    Esse episódio mostra que o brasileiro enxerga o transporte público como “coisa de gente pobre” e isso é lamentável. Carro, no Brasil, é símbolo de status social.

    Aqui em Belo Horizonte soube de um caso que me deixou indignada. O metrô (trem na superfície que serve pouquíssimos bairros) foi estendido até o novo centro administrativo, que foi construído numa região de comunidades carentes. Soube que os funcionários do Estado que passaram a usar o metrô estavam sendo agredidos pelos antigos usuários (moradores da região) e que estes alegaram que os “ricos” estavam ocupando um espaço que é só dos pobres.

    Eis o que brasileiro pensa sobre o transporte coletivo.

  3. Sou Arquiteta e sei dos problemas da falta de visão do futuro que os nossos governantes não possuem porque não são arquitetos.
    Nós os ARQUITETOS e URBANISTAS temos essa visão espacial que pela ignorância deles falta de especialização na area específica não possuem,. não tem.
    Fátima MONTEIRO MANO/73990837

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