Churrascão da gente diferenciada: versão “cracolândia”

Agora, o churrasco da “gente diferenciada” será no centro de São Paulo. A provocação está sendo organizada como forma de protesto e acontecerá neste sábado, dia 14, contra o tratamento que o Estado está dando para os dependentes químicos que vivem na região conhecida como “cracolândia”, entre a Santa Ifigênia e os Campos Elísios.

A violência e o desrespeito que têm caracterizado a ação da Polícia Militar fazem parte de um processo de limpeza social e segregação disfarçado por um discurso de combate às drogas, que também oculta o aumento do interesse do setor imobiliária na área . O problema é que a estratégia  de “dor e sofrimento” que a polícia tem adotado de nada vai adiantar para resolver a questão dos dependentes químicos em situação de rua, que só têm se dispersado pelo centro.

O churrascão deste sábado é uma reação bem humorada e bem organizada para mostrar que nem todos concordam com a mera expulsão dos dependentes da região como meio de solucionar o problema das drogas: um problema de natureza muito mais complexa do que aquilo com que o tratamento policial, comprovadamente, pode lidar.

A organização do churrascão pede que as pessoas levem instrumentos musicais, cartazes, vassouras e sacos de lixo, para a limpeza do lugar, além, obviamente, da comida e da churrasqueira – para quem puder. Acesse aqui a página do facebook do churrascão para mais informações.

Quando: Sábado, 14/01, às 16h
Onde: Rua Helvétia com Dino Bueno, São Paulo

O churrascão que São Paulo jamais vai esquecer

O Churrascão da Gente Diferenciada, sábado passado, em plena avenida Angélica, em São Paulo, mostrou, com muito bom humor e ironia, que muitos paulistanos não aceitam segregação e intolerância.

A manifestação foi marcada depois que o governo do Estado anunciou a mudança de local da estação Angélica, da futura linha 6 do metrô, supostamente por pressões de moradores do bairro que não querem “gente diferenciada” nas redondezas.

No mesmo dia saiu um artigo meu sobre este assunto no Caderno Aliás, do Estadão. Abaixo, seguem fotos* dessa bela tarde de sábado que São Paulo jamais vai esquecer.

* Fotos divulgadas na página do evento no Facebook por: Ricardo Fernandes (1, 7 e 8); Saruana Martins (2 e 13); Wolney Castilho Alves (3 e 4); André Scholz (5); Isabel Moraes (6, 9 e 11); Maíra Kubik Mano (10, 12 e 14); Pedro Nassif (15); e Bira Crosarial (16 e 17).

Sábado tem churrasco contra uma Higienópolis excludente

Em protesto contra a reação negativa de moradores de Higienópolis, um dos bairros mais nobres de São Paulo, à construção de uma estação de metrô na Avenida Angélica, internautas marcaram ontem, através do facebook, um churrascão em frente ao Shopping Higienópolis, sábado, às 14h. Mais de 45 mil pessoas já haviam aderido ao protesto até a tarde de hoje.

A iniciativa, além de bem humorada – a ideia do churrasco é uma resposta à declaração de uma moradora que afirmou que uma estação de metrô atrairia “gente diferenciada” ao bairro – mostra que muitos paulistanos rejeitam a ideia de uma cidade excludente, de bairros exclusivos onde supostamente viveriam somente um grupo social.

O limite do imaginário dessa cidade excludente seria o condomínio fechado, isolado, murado, com torres de vigilância, “defendido” das contradições da cidade real. No outro extremo, a cidade heterogênea, multiclassista, multiétnica e multifuncional.

A direção do Metrô afirmou hoje, em nota oficial, que a decisão de mudar a localização da estação se deu por razões técnicas (excessiva proximidade entre a estação Angélica e a estação Higienópolis/Mackenzie) e não para atender a solicitação de moradores insatisfeitos. O Ministério Público de São Paulo diz que vai apurar junto ao governo do Estado quais, de fato, foram as razões.

O fato é que Higienópolis já nasceu, no final do século XIX, de um projeto de loteamento residencial classe A, com grandes lotes e amplas avenidas arborizadas, destinado às elites paulistanas. Esse projeto contou, inclusive, com uma regulação urbanística para garantir essa exclusividade, assim como com investimentos urbanísticos diferenciados. A verticalização do bairro, que se intensificou muito a partir dos anos 1970, mudou esse perfil, mas não desconstruiu, simbolicamente, esse projeto.

A resistência que o bairro tem hoje para receber uma estação de metrô está justamente relacionada com a sua possível popularização e, consequentemente, desvalorização imobiliária, postura rejeitada por muitos, inclusive moradores do próprio bairro, como bem demonstra as manifestações dos internautas.

Mas a questão fundamental nisso tudo é a forma como se dá todo o processo de decisão sobre as novas linhas e estações: estas vão sendo anunciadas e desanunciadas sem nenhum planejamento estável – aliado a uma estratégia urbanística pactuada coletivamente na cidade – e, portanto, ao sabor das pressões dos interesses que conseguem ter acesso à mesa de decisão.