Vira e mexe, alguma experiência urbanística vira a referência do momento. Foi-se o tempo de Curitiba. Barcelona teve seus dias de glória. A bola da vez, até pouco tempo, era Bogotá.
Matéria publicada no portal do Estadão, domingo passado, mostra como a cidade vem enfrentando problemas de trânsito, violência e corrupção na gestão municipal, desconstituindo aquilo que a havia notabilizado.
O fato é que algumas experiências concretas de intervenção urbanística acabam se transformando em produtos de exportação e gerando um enorme marketing.
Com isso, essas experiências acabam se descarnando, no sentido de que, quando se transformam em um produto de marketing, elas perdem totalmente a relação e a inserção que tinham com todo o processo que as gerou e se tornam uma espécie de coisa em si.
O mundo real das cidades é feito de propostas inovadoras e de “sacadas” urbanísticas, mas não só. Ele é principalmente feito de um dia-a-dia, de um cotidiano com uma qualidade de gestão capaz de manter as coisas e de transformá-las na medida da exigência das necessidades diárias.
Infelizmente, essa capacidade de gestão não gera marketing, não cria uma imagem de cidade e de governante que depois satisfaça egos e bolsos que vendem essas soluções para outros lugares. Esse exemplo de Bogotá é muito emblemático.
Por conta do projeto do TransMilenio e das intervenções nas suas periferias, Bogotá virou a miss universo do urbanismo. Propostas de reprodução das obras que ali foram feitas se espalharam pelo mundo.
Entretanto, a parte não contada da história de Bogotá foi todo o processo anterior, intangível, imaterial, de reconstrução de um tecido cidadão, de transformação na esfera política que foi justamente o que se perdeu hoje.
Disse tudo.
Estimada Raquel,
Não concordo que Bogotá seja vítima do “marketing” das boas experiências, como foram os corredores de ônibus exclusivos Transmilenio, ou os 400 kms de ciclovias, ou ainda os centros culturais e as ruas para pedestres (calles peatonales), muito pelo contrário, o desafio que a cidade encontra e’ reflexo da disputa política que ronda todas as nossas cidades. Muda-se políticos e abondanam-se os projetos sem planejamento técnico adequado e isso sim causa transtornos para a população… (somados aos lobbies internacionais que sempre fomentam “metros” como a solução aos desafios da mobilidade e não entregam nada que prometem e iludem os politicos de plantão).
Histórico Político: Quando os prefeitos Penalosa e Mockus se revezaram em três mandatos e criaram todas essas inovações urbanas para priorizar as pessoas e pedestres que conhecemos, a cidade melhorou muito, drasticamente. Infelizmente, em 2003 eles não concorreram, mas na última eleição em 2007 (que tem somente 1 turno) o candidato Penalosa (pai dos corredores de ônibus Transmilenio) estava ganhando as pesquisas ate’ poucos dias antes, quando a oposição publicou mentiras sobre ele ser acionista de empresas de ônibus, o que fez com que eles perdesse votos. Isso se somou ao fato que ele era contra a proposta do Metro liderada pelo Moreno (simples disputa política, sem base técnica e com financiamento de construtoras) o que fez com ele que perdesse a eleição…
A proposta de Metro foi feita pela Agência de cooperação da França (assim como eles estão fazendo em Curitiba), com o simples objetivo de “confundir” as cidades/pessoas do mundo sobre os benefícios dos sistemas BRT. Como mais de 119 cidades estão fazendo sistemas de BRT pelo mundo, Franceses e Japoneses querem “acabar” com a imagem de sucesso dos corredores de ônibus de criados por Curitiba, aperfeiçoados por São Paulo e melhorados, ainda mais, por Bogotá com as linhas expressas, faixas de ultrapassagem e mapas da rede. Não foi isso que a JICA (Agencia Cooperação do Japão) fez também com os inúmeros projeto furados de monotrilhos pelo mundo, ou com o monotrilho pela M’Boi Mirim em São Paulo?
Bem, os Franceses (grandes produtores de metros) patrocinaram o projeto do Metro para o Moreno para que ele defendesse e implantasse o Metro. Por isso, o Moreno ganhou (o Metro tem alto apelo político e ajuda a financiar campanhas caras), daí ele passou os últimos três anos fazendo de tudo para o Transmilenio aparecer ruim (assim ele teria força para continuar sua ideia de fazer o Metro, que no mundo todo, costuma ser associado a propinas, projetos “otimistas” e dados irrais e …..).
Agora, o Moreno foi cassado, digo “afastado” do poder por 3 meses, e a linha 3 do Transmilenio, que era pra ter ficado pronta em 2009, ainda esta’ em construção… (Detalhe: Os estudos técnicos demonstraram que o Metro não tem sua equação financeira sustentável, por isso, já o abandonaram, embora, oficialmente, eles ainda falam estar “estudando”… Hum… Já ouvi isso antes…)
Assim, quando formos debater os problemas de Bogotá hoje, por favor, tenhamos em mente que brigas políticas levaram Bogotá a “sofrer” com seu próprio sucesso, em especial aos sistemas de corredores de ônibus Transmilenio, que foram construídos com menos de 10 milhões de reais o Kilometro, e atualmente levam mais 45 mil passageiros hora sentido, o que o transforma num sistema com capacidade superior a 95% dos Metros no Mundo… O desafio de Bogotá não e’ de “fazer marketing” de seus sucessos passados, mas ser uma cidade que consegue superar as disputas políticas, a troca de prioridades e abandono de projetos, e de se livrar dos poderosos lobbies que não entregam o que prometem ao custo que dizem custar…
E’ só ver o caso dos Metros de Brasília, Salvador, entre tantos outros… Promessa ganham campanhas, mas não entregam soluções REAIS de mobilidade para a cidade toda… E nossa população precisa de soluções hoje!!!
Queria ver se Bogota tivesse feita a linha 3 e 4 dos Transmileio, criando uma super rede de corredores pela superfície, se eles estariam com o problema de ser “vitimas de seu sucesso” como diz o estadão… Assim como São Paulo… Imagina só se tivéssemos todos os corredores de ônibus propostos no plano diretor? São Paulo seria outra cidade… com certeza.
Olá Adalberto,
Não afirmei que Bogotá foi vítima do marketing. O que falei tem diretamente a ver com o que você está levantando, que é justamente a questão da gestão.
Abraços,
Raquel.
Raquel,
Tenho blogs do Blogger, e há pouco criei dois pela WordPress; este, ao que me parece, não tem SEGUIDORES. Será que você pode me dizer como criar aqui no WordPress um grupo semelhante ao que se tem no Blogger?
Abraços,
Pedro.
No meu entender
O que mais gera prolemas nas gestões da cidades é a vaidade. Todos governantes de plantão, pensam em criar algo, normalmente uma obra, em que possa perenizar seu nome, como se fosse um marco da sua administração. O planejamento contínuo, seja do transito, do transporte ou das construções na cidade, não pode e nem deve ter donos ou criadores, porque sabemos da dinamica das cidades. Elas precisam de gestores que não estejam de olho nos votos e sim, na soluçao integrada dos orgãos municipais, estaduais, federais. Também nas soluções regionais. Mas isso cada dia fica mais difícil. Incrivelmente ainda assistimos cada gestor novo, criticar o anterior anular ou apagar o que foi feito, para começar tudo de novo num disperdício sem fim. Não se acumula conhecimento, a cada gestão tenta se criar o conhecimento do mandato tal e qual. Importa-se solucões, contrata-se consultorias, num circulo vicioso nocivo ao interesse e aos cofres públicos.
Gestão de trânsito para cidades com 30 a 40 mil habitantes.
Um trabalho para o presente e futuro de qualidade de vida, segurança e sustentabilidade.