Rio de Janeiro: cidade à venda?

Depois de anunciar o projeto “Estação Patrocinada”, o Metrô Rio, concessionária que administra o metrô do Rio de Janeiro, teve que voltar atrás em seus planos de “vender” o nome das estações de metrô da cidade, que passaria a ser associado ao nome de empresas privadas. No dia 16 de maio, o governador Sérgio Cabral vetou a proposta, que, de acordo com a imprensa, havia sido idealizada pela empresa IMX, de Eike Batista. O site do Metrô Rio já tirou do ar todas as informações relativas ao projeto.

Em nota, a assessoria de imprensa da concessionária afirmou que “o projeto Estação Patrocinada não muda em absoluto o nome das estações, e sim permite a adoção comercial de cada uma. Destacamos que a receita acessória é revertida para o conforto dos usuários e ambientação das estações, conforme previsto no contrato de concessão.” A assessoria diz ainda que “os patrocinadores se comprometerão a oferecer serviços adicionais para os usuários nessas estações. […] Desta forma, poderão surgir nas estações espaços de convivência, internet Wi-fi, ações culturais e exposições.” Parece que o que foi enterrado, portanto, foi apenas a possibilidade de associação do nome das empresas às estações.

Essa possibilidade de fato surpreendeu muita gente. Pelo visto, nem o governador aguentou. Vale a pena lembrar, porém, que desde o final de 2011, a SuperVia, concessionária privada que administra os trens suburbanos e o teleférico do Alemão, já deu início a uma iniciativa semelhante. Das seis estações do sistema, duas já tiveram seus nomes “vendidos”: Alemão-Kibon e Bonsucesso-Tim. Mas o fato é que estamos falando de coisa pública. Por serem administrados por concessionárias, o metrô, os trens e os teleféricos não são menos públicos. As concessionárias não são “donas” nem das estações, nem dos trens…

Catapultado pelo boom internacional de sua imagem, o Rio de Janeiro está passando por um intenso processo de transformações. Se por um lado o Brasil inteiro se alegra em ver a dinâmica positiva por que passa a cidade, com criação de empregos, geração de oportunidades e melhoria da autoestima dos cariocas, por outro, chega a ser assustador o sentido comercial e a selvageria privatizante dessas mudanças. Qual o limite da comercialização da cidade e de seus atributos? Até onde a publicidade pode tomar conta da cidade e se sobrepor aos agentes e processos que a constroem?

Depois do frenesi imobiliário (que tem expulsado muitos moradores da zona sul e do centro), depois de tantos recursos públicos transferidos para empresas privadas na PPP do Porto Maravilha, de remoções forçadas de favelas, da metáfora do processo em curso na cidade expressa no jogo Banco Imobiliário Cidade Olímpica (produzido pela Estrela com recursos da prefeitura), vender os nomes das estações de metrô pode até parecer normal… No limite, se a toada é esta, o próximo passo será vender os próprios cariocas?

Em tempo: Soube recentemente que a prefeitura do Rio teve que recolher as unidades do Banco Imobiliário distribuídas para as escolas públicas municipais e que o Ministério Público do Rio de Janeiro instaurou um inquérito para investigar o contrato com a Estrela.

Texto originalmente publicado no Yahoo!Blogs.

2 comentários sobre “Rio de Janeiro: cidade à venda?

  1. Raquel, virou moda, São ideias de gerico dos nossos legisladores e do executivo.
    Cito um exemplo daqui do Rio. Há poucas semanas a Deputada Estadual Clarissa Garotinho, fiel torcedora do Fluminense, entrou com um Projeto de Lei que acho que foi aprovado a mudança do nome da Estação do Metrô do Largo do Machado para colocar o nome do seu Clube de seu coração. A questão de se enterrar uma simples história secular, como é o caso do Largo do Machado, em que um açougueiro raivoso por tanto preconceito pela sua profissão de açougueiro, colocou um grande machado na porta do seu estabelecimento comercial, E ai pegou o nome pela iniciativa popular, que acabou dando o nome a esse famoso largo. E ai vem uma pessoa que não conhece a peculiaridade e a identidade histórica do bairro, e acha-se no direito de tirar um nome pelo simples prazer de homenagear o seu time pelo qual torce. É chocante dizer-lhe isso, pois, mostra o nível de pessoas que se dizem “nossos” representantes.

  2. A AUSÊNCIA DO ESTADO
    Atualmente quando alguma empresa estatal é privatizada, todos dizem: UFA! Até que enfim isto, ou aquilo irá funcionar direito. Seja uma empresa de telecomunicações, ferrovia, estrada de rodagem, portos, aeroportos, estádios de futebol, autarquias, etc. “Até que enfim vai ficar livre da burocracia, da corrupção e vai ficar nas mãos de quem entende do assunto…” Cuidado com suas comemorações! Esta é uma ação para a retirada do Estado de suas reais responsabilidades e fazer com que empresas e empresários privados sejam beneficiados com a incompetência dele. Em nosso país, a maioria das chamadas privatizações atuais vendo sendo feitas, com o produto já feito. Com toda a infraestrutura pronta, já construído, com verbas públicas, ou seja, com o seu dinheiro. Na medida que são privatizadas, sua compra é feita através de consórcios ditos milionários, no entanto a verba obtida para a realização do negócio provem do BNDES. Mais uma vez o seu dinheiro foi utilizado duas vezes no mesmo negócio. Estamos emprestando o nosso dinheiro para particulares comprarem algo que já foi feito com o nosso dinheiro. Certamente algum economista político deverá ter uma série de boas razões para justificar tal engôdo. Nada contra a privatização de uma estrada ruim. Mas que se faça a coisa privatizada com dinheiro privatizado e desde o início. Isso ninguém quer fazer. Que se faça uma rodovia nova a partir do nada e com dinheiro próprio. Isso sim seria uma privatização honesta! Mas não… aqui se privatiza um aeroporto, uma rodovia, uma ferrovia, uma Universidade, depois que eles já foram construídos. Mas isso tudo é apenas um exemplo para introduzir neste texto, um conceito muito antigo : A ILUSÃO DE UMA SOCIEDADE QUE POSSA FUNCIONAR SEM O ESTADO, TEORICAMENTE LIVRE DA BUROCRACIA, DA CORRUPÇÃO E DO ABUSO DO PODER É NA VERDADE, A DITADURA DO CONSUMO E DO PODER ABSOLUTO DO LUCRO SOBRE A VIDA DOS CIDADÃOS.
    Funciona assim: é você OU eu, e, não você E eu.
    PAÍS SEM JUÍZO E QUE NUNCA TERÁ!

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