Duas novidades para o transporte público em São Paulo: finalmente o bom senso

Nas últimas semanas, circularam na imprensa dois anúncios (por enquanto de intenções) para  o transporte público no Estado de São Paulo: o lançamento do edital para contratação das obras da linha 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a aprovação de um modelo de parceira público-privada para a construção de 432 km de linhas de trens de passageiros interligando 14 cidades à capital. (Veja matérias da Folha e do Estadão).

A linha 13-Jade terá 11 km, com três estações: Aeroporto, Guarulhos-Cecap e Engenheiro Goulart, que será conectada à Linha 12-Safira. Orçada em R$ 1,2 bilhão, a construção da nova linha deve começar em março do próximo ano e a previsão é que seja concluída em setembro de 2014. A estação do Aeroporto de Guarulhos será ao lado do terminal 4, e não próximo aos terminais 1 e 2 como anunciado anteriormente.

De qualquer forma, a GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, diz que implementará um sistema de transporte interno gratuito que fará a conexão com os demais terminais, por ônibus ou monotrilho. A proposta é bem razoável, especialmente se lembrarmos que o governo do Estado chegou a cogitar a possibilidade de não haver a estação do aeroporto, apenas a do Parque Cecap, o que obrigaria as pessoas a gastar mais tempo e dinheiro tomando outra condução para o aeroporto. Finalmente parece que o bom senso baixou nessa história.

Já o modelo de parceria público-privada aprovado pelo governo do Estado para a construção de duas novas linhas de transporte ferroviário, interligando 14 cidades com a capital, entrará ainda em fase de consulta pública para depois ser licitado. Estimada em R$ 20 bilhões, a proposta foi apresentada por duas empresas, a Estação da Luz Participações (EDLP) e o banco BTG Pactual, após um ano de estudos, e prevê que 30% do investimento seja público e 70%, privado. As duas novas linhas ligarão Sorocaba a Pindamonhangaba e Americana a Santos, passando pela estação Água Branca, na capital paulista.

De acordo com a proposta, a previsão é que uma viagem de Campinas até São Paulo dure 50 minutos e custe cerca de R$ 18,00. Ainda não está fechado se estas linhas passarão pelos aeroportos de Guarulhos e de Viracopos. Para os que ficarão nos congestionamentos quilométricos neste final de ano, pensar que daqui a oito anos poderemos sair da capital de trem é no mínimo um alento…

Ainda restam, entretanto, várias questões em aberto na novela dos trens: por exemplo, como estes projetos se articulam ao trem-bala? Por que as novas linhas de trem de passageiros anunciadas não passam de uma vez por Guarulhos? Como se articulam o projeto da linha de trem de passageiros com a nova linha da CPTM? O que parece é que se trata ainda de um planejamento setorial, feito simultaneamente por vários órgãos, que não conversam…

8 comentários sobre “Duas novidades para o transporte público em São Paulo: finalmente o bom senso

  1. Não vejo motivo para achar que exista alguém propondo que o trem bala se articule com qualquer coisa que seja. É apenas um projeto de luxo, de vaidade pessoal, de autopromoção. Não tem nenhuma relação com transporte.

    • No fundo, o trem-bala não deixa de ser um ótimo projeto. Daqui a alguns anos, será praticamente inviável circular entre São Paulo e Rio (sem mencionar Campinas, Ribeirão e futuras estações) com carros. O trem-bala surge como opção, adotada em diversos outros países. A não ser que a ideia seja construir dezenove, vinte novas faixas na dutra nos próximos 20 anos (algo completamente irracional), o trem, bala ou não, é extremamente necessário.

      • Um bom trem é indispensável. O trem-bala é faraônico, inviável. Pensa apenas em quem quer viajar mais rápido do que de avião – políticos e grandes empresários. Não é para dar certo, e não vai dar certo.

  2. Será que em algum momento conseguiremos concluir que nunca existiu planejamento urbano em SP? Que tal começarmos repensando setores e modelos de circulação urbana e metropolitana?

  3. Começou mal a tal Invepar, a empresa responsável pela administração do aeroporto de Guarulhos. Jogaram fora o belo e premiado projeto do arquiteto Mário Biselli para fazer um novo ‘puxadão’, o terminal 3 do maior aeroporto da mais importante cidade da America latina.

    Alguns sites trazem um vídeo mostrando como será o novo terminal. Feio, pobre, sem qualquer traço de arquitetura, a construção que já está em fase de terraplanagem é o novo cartão postal às avessas de São Paulo. Mais um monumento à feiura da cidade que vai ganhando uma imagem negativa no Brasil e no mundo.

    O governo de estado foi leniente, o IAB mais uma vez ausente e os paulistas vão sofrer com as futuras piadas. É a assim que São Paulo pretende sediar uma Copa do mundo, a Expo 2020 e consolidar sua posição de metrópole global? Lamentável.

    Fosse no Rio, o governador rasgaria o contrato de concessão na cara deles. Essa é uma das muitas diferenças entre Rio e São Paulo. Enquanto os cariocas brigam pelo Rio, os paulistas deixam sua cidade apanhar.

  4. Além das linhas anunciadas, precisamos de um monotrilho interligando os três aeroportos de São Paulo, aumentando a eficiência do transporte aéreo. São Paulo é responsável pela geração da maior parte das viagens de avião no país.

    Discordo porém da proposta apresentada pela Invepar, a empresa que administra o aeroporto de Guarulhos. Imagine uma família chegando cansada de viagem com bagagens, crianças, eventualmente um idoso ou deficiente físico. Ainda tem que subir em um ônibus para depois pegar um trem e finalmente chegar à cidade? A estação de trem ou metrô deveria ser contígua ao terminal de passageiros do aeroporto.

  5. Caso a linha expressa ligando o centro da cidade ao aeroporto de Guarulhos e/ou de Viracopos seria criada uma concorrente ao Trem-bala. Com este impasse o Governo de São Paulo se viu inicialmente obrigado a engavetar o projeto da Linha 14 – Onix, que previa ligação expressa da Estação Luz aos Terminais 1, 2 e 3 de Guarulhos, inclusive com Check-in na Estação Luz.

    Com o pretexto de transportar os funcionários do aeroporto até o mesmo foi justificada a extensão da Linha 13 – Jade até CECAP. Com o mesmo intuito de transportar os funcionários pelos terminais do aeroporto a concessionária fará um Monotrilho conectando-os.

    Claro que estes meios de transporte poderão levar também os passageiros, mas não conte a ninguém, o Governo Federal não vai gostar de “saber”.

    A ideia dos trens regionais deverá operar totalmente independente aos demais sistemas existentes. Não haverá qualquer integração tarifária entre os modais, apenas conexões físicas. A passagem do trem regional deverá ser cobrada por distância, sendo o marco zero um grande Hub em Água Branca, onde inclusive é pedido ao Governo Federal que construa lá sua estação do Trem-bala. Vale ressaltar que esta área em Água Branca é enorme e ali terão estações da CPTM, Metrô, Regionais e possivelmente do Trem-bala.

  6. Prezada Raquel, já estamos em Maio de 2015, e mais uma vez, as promessas de ambos os governos não aconteceram!!!

    A ligação ferroviária para trens de passageiros Guarulhos (Cumbica) linha 13-Jade com a linha 10-Turquesa ABC (Santo André).
    Entendo ser uma melhor opção a ser planejada é a ligação desta futura linha 13-Jade (Guarulhos) com a região do ABC, mais precisamente com a existente Linha 10-Turquesa no município de Santo André.
    Portanto concordo com as críticas da professora urbanista Raquel Rolnik a respeito da superposição de traçado (ferrovias paralelas) entre TAV, Expresso Aeroporto e Trem para Guarulhos.
    Dentre as propostas apresentadas, entendo ser a do prolongamento da Linha 1-Azul do Metrô partindo do Tucuruvi, a mais sensata, porém não é a que será feita, outra opção teria como destino, no mínimo até a ¹*Barra Funda utilizando composições de dois andares (double decker), que também não será feita, com esta opção da nova Linha 13-Jade chegando até engº Goulart com transbordo obrigatório para a sobrelotada Linha 12-Safira (Imagine a cena, que situação humilhante e vexatória com as pessoas tentando transitar com as malas e bagagens dentro de um vagão destes) .
    Nota: ¹*Para chegada até a Barra Funda devera ser reformada a Estação Agua Branca, readequada a Júlio Prestes e construída a de Bom Retiro.
    Devemos ficar vigilantes, e que a ligação até esta estação seja só uma primeira etapa, e que no mínimo seja feita utilizando bitola de 1,6 m e a largura padronizada dos carros de 3,15 m iguais aos existentes, permitindo a interpenetração e expansão, pois nem conseguiram acabar com o caos da estação da Luz, e já estão “planejando” outros inúmeros transbordos na nova estação Tamanduateí com as linhas 10-Turquesa, 2-Verde, e os monotrilhos Expresso ABC e Expresso Ipiranga Tiradentes, com um agravante, de que as plataformas da estação Tamanduateí são mais estreitas que a Luz, e não satisfeitos, já prevendo a expansão em linha reta em monotrilho, é assim nas linhas 2-Verde na estação Vila Prudente com a futura ligação com a 5-Lilás na estação Chácara Klabin e com a linha 1-Azul na estação Santa Cruz, e o projeto da futura linha 6-Laranja com transbordo obrigatório entre Metrô e Monotrilho caso os usuários desejem prosseguir viagem, fazendo que tenham que fazer múltiplos transbordos provocando enorme desconforto.
    Em uma concorrência governamental recente da CPTM-SP, os valores cotados pelas montadoras, foi ~ 80% superior aos praticados pela indústria chinesa e em relação ao fornecimento recente para a SUPERVIA-RJ e as carruagens já vieram na bitola de 1,6 m e na largura de ~3,15 m, com ar condicionado e circuito interno de TV, e sem a necessidade de se adaptar estribos nas portas (gambiarra) para compensar o vão com a plataforma, ou seja exatamente conforme as condições brasileiras, sepultando os argumentos de custo menor dos defensores deste padrão europeu com carruagem de 2,9 m e bitola de 1,43 m.

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