O governo do Estado de São Paulo anunciará nos próximos dias a construção de uma “ciclopassarela” que ligará a USP ao Parque Villa Lobos e às ciclofaixas de lazer da marginal Pinheiros. A informação saiu ontem em alguns veículos de imprensa. Me chama a atenção a quantidade de ideias e projetos anunciados nesta área – eventualmente até realizados – sem nenhuma conexão entre si, com o bairro, a região e a cidade.
De acordo com matéria da Folha Online, para viabilizar o projeto um pedaço do muro que separa a USP da marginal Pinheiros terá que ser derrubado. Ninguém está pensando em derrubar o muro a partir de um projeto urbanístico que relacione a USP com a cidade. Hoje já temos uma ciclofaixa de lazer que vai até o portão da USP, mas não entra, até porque a universidade fica fechada nos finais de semana. O que vai acontecer com essa “ciclopassarela”? A USP será finalmente aberta?
Outra questão que já abordei aqui no blog é que São Paulo vem construindo ciclovias e ciclofaixas apenas de lazer, ignorando a enorme quantidade de pessoas que utiliza a bicicleta como transporte diariamente. Com isso a priorização das ciclofaixas é questionavel, e mais ainda seu desenho, já que o elemento fundamental da integração da bibicleta como meio de trasnporte é sua ligação com a rede de trem , metrô e corredores de ônibus.
O caso da ciclopassarela da USP é emblemático: uma estação de metrô foi inaugurada sem que sua ligação com a universidade tenha até hoje sido equacionada de forma decente (hoje o percurso deve ser feito de ônibus, sujeito aos congestionamentos infindáveis no Portão 1). A ligação da USP com a estação de trem da CPTM é outro absurdo! E, agora, uma ciclopassarela, um novo investimento no mesmo lugar, não resolve nenhuma das questões colocadas… Haja des-planejamento!
“Haja des-planejamento!”
E haja improvisação!
O acesso à “ciclovia” da Marginal Pinheiros – que não passa da antiga via de manutenção da ferrovia – é feito por um buraco aberto no muro da ponte Cidade Universiária, no meio da calçada confinada por um muro de proteção do tráfego de concreto, por onde circulam os passageiros que entram e saem da estação da CPTM.
Toda a implantação de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas em SP não passa de uma improvisação cíclica e ciclópica!
Quase dez mil ciclistas vieram do estado inteiro para entrar na “ciclovia” da Marginal Pinheiros – via de manutenção da CPTM – por essa passarela de pedestres. E os mesmos dez mil tiveram que esperar até 4 horas para atravessar a balsa da Billings no Bororé, sem apoio da CET e sob ameaças da PM.
É bom porque assim os paulistas de todo o estado aprendem a conhecer a realidade da periferia de SP:
A mureta de concreto citada por Jura em comentário anterior ganha ares cômicos aos domingos. A ciclofaixa de lazer passa EM FRENTE à passarela que dá acesso à ciclovia no viaduto Cidade Universitária. Quem quiser passar de uma a outra é obrigado a empurrar a bicicleta pela calçada até o final do viaduto e contar com a boa vontade dos motoristas para atravessar a via expressa, sem semáforo. Isto nem se pode atribuir à falta de planejamento; já é um caso explícito de falta de bom senso mesmo.
O que há de errado no projeto? A crítica parece um caso de NIH – “not invented here”.
A ligação entre a USP e a estação Cidade Universitária, concordo que é vergonhosa. Quanto a estação Butantã, cabe lembrar que a estação não foi feita para atender só aos alunos e funcionários da USP, e sim também à toda a população dos distritos Butantã, Rio Pequeno, e parte da população de distritos próximos, como Raposo Tavares e Jaguaré. Para essas pessoas, a atual localização da estação, na Av. Vital Brasil, faz todo o sentido, pois é lá onde passam a maioria dos ônibus da região (e nem haveria como “realocar” os ônibus para a Portaria 1 da USP, pois a Av. Afrânio Peixoto não dá acesso ao corredor de ônibus da Rebouças-Francisco Morato).
Acho que a solução ideal seria criar algum tipo de corredor de ônibus exclusivo no caminho entre a estação de metrô e a USP.
Eu gostaria muito de saber de onde tem partido a diretiva de retirar os ônibus da SPTrans da USP…
As linhas que entravam no campus estão deixando de fazê-lo. Restará o tal circular, que serve gratuitamente apenas à ‘comunidade USP’ – terceirizados que se explodam, não é mesmo? – e que aparece de vez em nunca.
A USP, cada vez mais, busca se fechar em si mesma evitando a todo custo a contaminação.
Essa passarela, levada adiante nas condições que o campus reserva a seus visitantes, vai escancarar mais uma vez o apartheid: sem carteirinha da USP, nada feito. Aos não-motorizados que não sejam ungidos, que se matem na travessia das outras pontes.
Observem que na sua atual posição, a estação Butantã é facilmente acessível para quem vêm de ônibus tanto da Corifeu Azevedo Marques, Raposo Tavares, Eliseu de Almeida e Francisco Morato. Isso não seria o caso se a estação ficasse próximo a qualquer uma das portarias da USP (muito menos dentro da USP, como alguns sugeriram).
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=18766
“Mais uma vez ficou patente a improvisação com que as ciclovias estão sendo implantadas em São Paulo. Sem planejamento sério e sem coordenação entre os governos locais e estadual e seus órgãos competentes. O acesso de ciclistas à estrada de manutenção da linha da CPTM paralela à Marginal Pinheiros – a chamada “ciclovia” da Marginal – é feito por uma passarela de pedestres improvisada. Na ponte Cidade Universitária foi feita uma abertura no muro em plena calçada, isolada da rua por muro de concreto, por onde passam ciclistas e passageiros de outra estação da mesma linha de trens. Diante da sede da CET – na Praça Ramos de Azevedo – há uma ciclovia pintada no chão, que pedestres, ciclistas e autoridades de trânsito seguem ignorando.”
O que me enfurece nessa história é que a prioridade parece ser apenas bajular os formadores de opinião que estudam ou trabalham na USP e moram no Alto de Pinheiros. É o PSDB olhando pro próprio umbigo como sempre. Inúmeras ciclovias, muito mais baratas, deixaram de ser construídas em São Paulo apesar de aprovadas.
Enquanto isso, a travessia de qualquer ponte em SP continua humilhante para qualquer pessoa fora de um carro.
Entendo que a proposta de criação de uma passarela entre a USP e o Villa Lobos (VL) é interessante, sim, desde que seja feita concomitantemente ao projeto de criação da nova estação da CPTM. Concordo com a observação de que só a passarela é mais um “projeto solto”. Todas as estações da CPTM (Linha 9) deveriam ter uma ligação em passarela (com área não paga de livre circulação) entre os dois lados da Marginal Pinheiros.
A distância entre as estações Cid. Universitária e Jaguaré é de 2.500m. Isso é suficiente para inserir uma estação intermediária que proporcione acesso mais efetivo para a USP, utilizando uma grande passarela. Seria interessante e, mais do que isso, uma necessidade; ainda mais se associada ao uso cicloviário – além de ser também mais uma forma de quebrar o isolamento da USP.
Por falar em projeto solto, um exemplo das antigas na ponte Jaguaré: há uma ponte antiga escondida que pode ser revitalizada para abrigar passagem de ciclovia ou usar como base para uma … A ponte nova ( feita no Governo do Paulo Maluf ) esconde um mal projeto, pois a passagem de pedestres foi mal feito, e, hoje não comporta até mesmo pedestres. Uma reforma e algumas modificações no local iria economizar muito aos cofres públicos e o bolso dos cidadãos.