Depois de degradar a região da Luz, Governo de São Paulo quer se livrar dos viciados em crack da área

Sexta-feira passada, a Folha divulgou na coluna da Mônica Bergamo que o governador Geraldo Alckmin e a vice-prefeita Alda Marco Antonio estão planejando enviar viciados em crack que vivem na região da Luz para suas cidades de origem.

Diante de uma ideia “incrível” como esta, é preciso lembrar que a chamada “cracolândia” é produto da política municipal e estadual para o bairro da Luz. Onde existia um bairro, o poder público construiu uma terra de ninguém, demolindo uma parte e degradando a área. A Luz foi simplesmente abandonada pela prefeitura, que parou de recolher o lixo, de cuidar das ruas, da iluminação, fechou o shopping Fashion Luz, que gerava um grande movimento comercial, e com isso essa área, que ficou semi-abandonada, passou a atrair pessoas semi-abandonadas.

O problema das pessoas que vivem nas ruas da região da Luz não é urbanístico; precisa ser enfrentado no âmbito da assistência social e da saúde mental, onde há profissionais capacitados para cuidar dessas pessoas que, pelas mais diversas razões, acabaram numa situação limite entre a vida e a morte. Mas o delicado trabalho que começou a ser feito por profissionais de saúde para aproximar essas pessoas sempre foi desfeito pela ação truculenta da polícia, que bate e ameaça os moradores de rua.

Agora vem o governo do Estado e a prefeitura com a ideia de exportar essa população, enfiando os moradores num ônibus e mandando-os embora, em vez de encontrar lugar para essas pessoas no âmbito das políticas públicas, independente de suas cidades de origem e de como chegaram ao vício.

Que a situação é terrível e precisa de atenção, cuidado e intervenção, está claro. Mas a proposta do governador e da vice-prefeita é ilegal, imoral e desumana, tratando as pessoas como lixo. Não podemos permitir que isso aconteça em São Paulo.

27 comentários sobre “Depois de degradar a região da Luz, Governo de São Paulo quer se livrar dos viciados em crack da área

  1. E ISTO MESMO RAQUEL O PROBLEMA E DE SAUDE PUBLICA E ATE QUANDO AUTORIDADES VA0 EMPURRAR PARA O OUTRO RESOLVER ATE AS CIDADES FICAREM HABITADAS POR ZUMBIS???
    E NAO E SO NA CRACOLANDIA ,NA PERIFERIA MAIS ESPECIFICAMENTE NOS PEQUENOS CENTROS DE COMPRAS LOCAIS ESTA CHEIO DE VICIADOS PERAMBULANDO.
    QUE FALTA DE SENSIBILIDADE DAS AUTORIDADES O QUE ACHAM DE EXPORTAR POLITICOS CORRUPTOS PARA ……………………….

  2. Pois é… mais uma “política pública” do governador. É inadmissível uma postura dessas. Há quem diga em nova “Luz”, que nunca sai do papel. Desde que nasci o centro da cidade fora abandonado. Nunca vi a Luz, com luz…. sempre aquele aspecto sombrio. Mesmo sem os usuários de drogas, que estão espalhados por todos os bairros. Pra mim não é questão de sensibilidade: quando um governo não tem programa educacional, de moradia, de saúde, esse tipo de coisa acontece. Coisas sempre por debaixo dos panos e que causam um certo mal-estar…e o pior que ninguém se sente ultrajado com isso. Mas por quê? Porque boa parte da população associa o comportamento “degenerado” como culpa dos outros e não se importam com nada. E o governo de São Paulo faz tudo por questões “eleitoreiras”, lamentável…

  3. Também concordo que isso não pode acontecer, e quais são os meios para manifestar isso? há algum abaixo-assinado em vista?

  4. Pior é que, se essa medida significa “limpar a área” para se instalar um “novo bairro ultrasuperhipermoderno” na região, estão bem longe de realizar seu objetivo, simplesmente porque falta uma coisa à Nova Luz: vida.

    Falando sério, de que adianta ter um projeto de bairro que não tem uma imagem, uma cara gostosa, algo que atraia pessoas para morar e investir na região? Infelizmente, falta isso à atual cracolândia, que vai continuar lá mesmo que tentem enviar esse pessoal para suas cidades de origem – primeiro, porque muitos deles são de São Paulo; segundo, porque no mesmo ônibus em que forem a grande maioria voltará.

    Para a droga, e a degradação

  5. Problema de saúde pública?

    Não conheço ninguém que pagou para pegar dengue, aids ou câncer mas é preciso pagar pela pedra de crack. Não é problema do estado mas de famílias desestruturadas.

    Por que nós, contribuintes, temos que pagar essa conta?

    Quanto a mandar para os estados de origem, cabe a mesma pergunta: porque nós temos que carregar nas costas o fardo brasileiro? É justo enviar todos os problemas do Brasil para São Paulo, onde já há problemas demais e não cabe mais ninguém?

    A ‘mais rica’ é também a mais vulnerável das metrópoles e a que reúne os maiores e insolúveis problemas. São Paulo está doente.

    • POis é …SPaulo está doente, fruto deste Governo Medíocre e Demagógico que o PSDB vem praticando há longos 16 anos!! O Alckim devia levar todos pra casa dele.

      • A cracolândia já nao está mais apenas na região da Luz, mas tb no eixo leste – oeste da cidade de SP. Sinceramente, nao sei qual é a melhor solucao para o problema que reúne pobres e ricos… Na cracôlandia você encontra desde crianças de ruas até milhonários viciados, portanto, nao é apenas uma questao social e de educacao. Acho que esse é um problema típico de qualquer megalopole do mundo…. Sinceramente, nao sei como eliminar esse tipo de problema.

    • Carlos, justificar o problema de crack com “famílias desetruturadas” é simplorio demais, para não dizer moralista demais.Além do mais, é nas tais “familias destruturadas” que os caras compram crack, ou num submundo do tráfico que existe por falta de fiscalização e abandono de diversas áreas da cidade, como a Luz, gerada por uma rede enorme de corrupção policial que sustenta o tráfico? Isso não é problema do estado?

      Quanto a São Paulo carregar fardos, novamente responsabilidade do estado que nunca teve a menor preocupação de fazer um planejamento urbano adequado, e que por conta de seu crescimento desenfreado sugou a mão de obra de áreas mais pobres do Brasil para depois descarta-la como lixo, empurrando-a para apêndices urbanos em condições desumanas.

      Se São Paulo está doente, é porque fez por merecer. Enquanto não sair do imaginário coletivo brasileiro que São Paulo é a terra das oportunidades, porque a cidade se vende assim, iremos nos afundar cada vez mais…

    • Caro amigo, esta conta é do contribuinte, é da sociedade. Esta conta é nossa sim.
      Não podemos ser egoístas e excluir pessoas desequilibradas, tratando-as como animais. Oferecemos o sonho da riqueza, e uma vida melhor, em São Paulo. Após a carnívora sociedade paulista as engolir, quando elas preferem optar pela ilusão de uma droga mais carnívora ainda, o Estado Paulista não pode despachar estas pessoas doentes para outros governantes, mas sim cuidar delas da melhor maneira possível.

      Sabemos que a mídia prefere dar foco àquelas pessoas que tinham oportunidades e sucumbiram ao vício, mas a grande maioria destes doentes são pessoas que não tiveram uma família estruturada, nem oportunidade de educação de qualidade, tratamento e acompanhamento adequado no princípio de seu problemas com o crack. Falhas graves de um Estado que prefere colocar a culpa de seus problemas em sua população do que assumir sua incompetência.

      abs

  6. TODOS sabemos que a melhoria desse quadro das drogas é lento e gradual. Mas muitos preferem “soluções” imediatistas, independente do que isso acarrete. O que mais assusta não é ter um governador e um prefeito com posturas desse tipo, afinal eles (os atuais) são representantes da direita. O que realmente assusta é ver uma parcela considerável da população apoiando essas ações. A mesma análise vale pro que aconteceu na USP recentemente. Não me surpreende a atitude do governador e do reitor, mas sim a reação da sociedade. Muitos atribuem essa reação reacionária e impregnada de ódio, às distorções que a grande mídia fez do caso. Eu não sou tão otimista assim.

  7. É mesmo uma proposta desumana, dolorida e fascista. Atitude “normal” para este grupo que está no poder em SP há mais de vinte anos, estão cada vez mais impunes nas insanidades deles. Jovens trabalhadores são mortos na periferia e é ‘normal”. Professores grevistas apanham e a mídia golpista não dá uma notícia.

  8. A política proibicionista das drogas tem relação com tais medidas higienistas.
    Hipertrofia-se um Estado Policial – que é mínimo somente no que diz respeito às garantias fundamentais, mas máximo na repressão ao “crime”.
    De pessoas que sofrem com a drogadição – independentemente de como foram sugadas para esse mundo, é possível falarmos em escolha aí? – passam a ser criminosos.
    Não à toa, à semelhança das favelas do Rio – que, por acaso, tiveram crescimento significativo com uma política higienista no início do séc. XX – a presença do Estado só se faz com as suas Armas.
    Doenças, drogas, pobreza, baixa escolaridade são todos sinônimos de ausência de cidadania garantida pelo Estado.
    O espaço urbano só pode ser o espaço da ordem do Estado, qualquer outra situação é inaceitável. E como é que o Estado ocupa um lugar de ‘desordem’? Com suas Armas.
    A expulsão para o interior revela ainda que o próprio Estado de São Paulo ignora a condição de ‘espaço da ordem’ dessas cidades (dentro dessa mentalidade distorcida, claro).
    Portanto, para garantir a ordem e a lei, será necessário militarizar todo o território… Na capital paulistana, basta conferir o número de subprefeitos que são PMs ou antigos PMs: 29 de 31, número que se pode aferir em acesso ao sítio da PMSP.
    Talvez essa gestão da coisa pública, essa militarização, essa truculência, não seja exatamente deliberada ou consciente, mas nem por isso menos preocupante.
    Escolhe-se a remoção, eliminação, ocultação de uma tragédia humana por meio de ação policial. Ignora-se que, com isso, a cidadania destas pessoas, os moradores da cracolândia, jamais será realizada plenamente.
    Os governos tem preferido, então, garantir uma ordem onde a cidadania é questão secundária. Esse é o problema.

  9. A região da Luz sempre foi objeto de ‘pesquisa’ por parte de inúmeros governos passados e de inúmeras prefeituras. Trabalho há dez anos na cracolândia durante o dia e o espetáculo de abandono é revoltante. Sempre foi. Da prostituição ao álcool ou da ladroagem ao proselitismo a Luz enfrenta desde o Século XIX um problema geofísico de ordem radiestésica. Muito se fala, se fala mais ainda, mudam os tóxicos mas a situação continua a mesma.
    Criar centros culturais, ocupar com armas, criar albergues para os estrangeiros ilegais que abarrotam a área, montar um parque de diversões, distribuir sopa do Exército da Salvação, inundar para criar uma represa, aquela zona, literalmente, manter-se-á sempre um papel em branco à espera de um novo e definitivo plano.Quem se habilita?

  10. Minha cara Maria Fernanda

    Em atenção ao seu comentário, diria que sua colocação é um tanto ingênua.

    São Paulo nunca importou mão de obra barata como se fossem escravos à disposição do feitor. Isso é um discurso velho, batido e furado. Quem veio, o fez por sua livre e espontânea vontade e recebeu dinheiro para trabalhar. Principalmente na construção civil, aquela que utilizava mão de obra desqualificada e que literalmente engessou a cidade nessa selva de concreto sem solução.

    Moro na periferia de São Paulo. É possível contar nos dedos das duas mãos os trabalhadores com carteira assinada do bairro. A grande maioria vive do trabalho clandestino onerando ainda mais o INSS e sobrecarregando os serviços públicos. Melhor nem falar na violência endêmica desses locais.

    Há mais de dez anos o nordeste vem dando show de crescimento a taxas de 7,0% ao ano enquanto o Brasil registra 2,5%. Mas não conheço um só conterrâneo que tenha feito as malas e voltado para trabalhar lá, onde o crescimento chama pela mão de obra.

    É fácil atirar pedras no prefeito, subprefeitos, no governador ou em São Paulo. Nos dias de hoje, se algo não vai bem na vida os culpados são sempre ‘os outros’. Especialmente as autoridades pertencentes a um partido diferente daquele no qual você votou.

    Entretanto, o que São Paulo mais precisa é de planejamento urbano. Porém reduzidos a meros síndicos da cidade, os seguidos prefeitos ocupam-se em consertar os estragos advindos da brutal imigração. Acabaram assim afastando-se da função para a qual foram eleitos, fundamental para a qualidade de vida da cidade.

  11. Meu caro Ivan Netto

    Sou favorável a que o estado trate das pessoas doentes. Mas o governo federal, não o estado de São Paulo que já tem problemas demais.

    O Brasil é muito grande. Nada justifica a concentração de tanta gente descaminhada aqui enquanto sobram oportunidades e espaço em outros lugares.

    Penso que seria mais humano dar a essas pessoas a chance de recomeçarem suas vidas em suas pequenas cidades de origem – e já não estou referindo-me apenas aos drogados mas aos desvalidos em geral.

    Nordestino que sou, conheço a alma desse povo. Posso garantir a você que o nordestino que está lá em sua pequenina cidade do interior é infinitamente mais feliz que este daqui de São Paulo.

    Como diz meu amigo baiano Ferreira, ‘o nordestino que está lá é feliz e não sabe. Já o que está aqui é infeliz e sabe’.

    abraço

  12. Tenho uma solução simples e barata: transferir a cracolândia para o campus da USP, onde se prega a liberação ampla e irrestrita das drogas. Os dependentes poderiam morar de graça no Crusp e ter alimentação boa e barata com assistência integral, voluntária e gratuita dos estudantes que atrapalham o trânsito na Paulista. Dessa forma, creio que seus protestos ganhariam finalmente uma razão plausível. Quando cursei Faculdade (na FAAP, com dinheiro do meu trabalho e não ás custas da população pobre), levei muita borrachada de policiais comandados pelo Cel.Erasmo Dias, figura de triste memória, por estar em passeatas contra a ditadura. O povinho que apressa-se a criticar a atitude do governo, simplesmente não possuem uma causa decente para lutar. Não vamos esquecer que o partido que hoje comanda o país tem como única realização até o momento, a criação de empregos para os “cumpanheiru” a fim de recolher os 10% de dízimo e encher os cofres do partido …

  13. Carlos,
    O maior PIB do Brasil não é motivo o bastante para a migração?
    São Paulo é a maior cidade do país e não há motivos para que deixe de sê-lo, muito menos motivos para que expulse ou desestimule que outros brasileiros para cá venham fazer suas vidas.

    O Brasil é muito grande, as desigualdades regionais devem ser duramente combatidas… mas, assim? E que oportunidades que sobram no Nordeste?No interior?

    Há quantas décadas as mesmas oligarquias familiares lá comandam o poder político sem mover uma palha sequer pelo bem comum?
    E aqui?

    Explora-se desde as capitanias hereditárias o cultivo monocultor, latifundiário, exportador e agora com superexploração do trabalho (não se esqueça das inúmeras denúncias de trabalho escravo – em Goiás, só nesse ano, 200).
    Quanto há de inclusão e desenvolvimento de mercado interno nisso?

    O trabalho clandestino não onera o INSS, esses trabalhadores não se aposentam, trabalham até a morte…

    Pagamos impostos, numa desleal carga tributária, e é este o resultado: Expulsem os “anormais”! É lícito responsabilizar os cidadãos por problemas estruturais?

    O cidadão de bem é aquele que, apesar de pagar todos os impostos, supera sozinho as falhas de um Estado falho e ainda em silêncio, numa quase obediência religiosa?

    Isto é completamente incompatível com a ideia de República.
    Dizer que é melhor responsabilizar o governo federal não é a responsabilizar alguém de um partido no qual você também não votou? Também não empurra esta responsabilidade? Qual é a responsabilidade de cada um de nós? Simplesmente votar?

    Nada justifica a não realização da cidadania plena no país, seja em São Paulo, seja em Garanhuns, seja em Porto Velho, seja em Florianópolis.
    Política urbana não se pensa sem a inclusão das pessoas nos serviços e prestações estatais – em qualquer âmbito federativo. Caso contrário, teremos belas cidades vazias e cidadania SEMPRE em segundo plano, em manobras eleitoreiras…

    Abraço,

  14. Quanta baboseira! Tratam a cidade como se ela fosse um ente vivo com vontade e discernimento próprios, e não um mecanismo comandado alternada e sucessivamente por grupos e interesses sociais distintos. A cidade não é uma pessoa, é um lugar, que é tão bom ou ruim quanto as pessoas que o ocupam e habitam. A cracolândia, assim como os seus “nóias”, também fazem parte do acolhimento da cidade. Quem encara a cidade com esse olhar fantasioso e de coisa viva e encantada como costumam fazer as crianças, não tem a menor condição de propor ou de contestar medidas. Antes de tudo, pé no chão: passeiem pela Cracolândia à noite, ou mesmo de dia, sem guarda-costas.

  15. Meu caro Mario Augusto

    Pelo seu comentário, imagino que você conhece o nordeste apenas pelas imagens de miséria e penúria mostradas na televisão.

    Há mais de dez anos aquela região vem batendo recordes de crescimento a taxas de 7% ao ano enquanto o Brasil não passa de 2,5%. Existem hoje três nordestes: o rico, das esplendorosas capitas, o pobre em algumas regiões do interior e o miserável morando nas favelas e barracos de São Paulo alimentando o insaciável monstro da violência.

    Conheci há pouco tempo um conterrâneo de Acari-RN, cidade que se auto intitula ‘a mais limpa do Brasil’. Procure imagens no Google e você poderá constatar: linda cidade! Parece um presépio. Quando perguntei ao meu amigo por que ele havia imigrado para São Paulo, não soube responder. O máximo que justificou foi que uns primos vieram para cá e haviam convidado-o a vir também. Ou seja, ultimamente os nordestinos que completam 18 anos emigram por uma contingência, uma aventura. Não sabem direito o porque de estarem indo embora.

    O tão propalado PIB paulista não significa necessariamente geração de empregos para a população imigrante. Se nos anos 70 a atividade informal representava 17% da ocupação, hoje esse numero beira os 40%. O motivo é que a baixa qualificação da mão de obra empurra o excedente humano para a atividade informal, a perigosa fronteira onde termina a vida e começa a sobrevivência. O resultado aí está: uma cidade e uma anti-cidade, ambas do mesmo tamanho provavelmente. Nem a fuga de indústria nos anos 80 e 90 arrefeceu o fluxo migratório rumo à capital paulista. A razão é simples: a partir da segunda metade do século 20 o nordestino migrou não mais em busca de emprego mas de sobrevivência.

    O problema em acolher tantos milhões esbarra na falta de espaço e na perigosa ameaça de racionamento de água. A crônica falta de áreas verdes no tecido intra-urbano é do conhecimento de todos. Seria preciso demolir nacos inteiros de bairros para criar praças parques e áreas verdes. Porém, como fazê-lo e ao mesmo tempo construir moradias dignas para tanta gente é o que eu gostaria de saber. Encaixotando e empilhando pessoas em prédios sem qualquer qualidade construtiva nos horrendos conjuntos habitacionais da Cidade Tiradentes não me parece uma solução mas um novo problema.

    No mês passado, prefeitos da RMSP reuniram-se em Salesópolis para debater com técnicos da Sabesp a iminente falta de água que vem por aí. São Paulo hoje já faz captação de água a 100 km de distância da capital e os técnicos estimam que em 2020 será preciso aumentar esse raio. Água é uma das poucas coisas que não podem ser fabricadas pelo homem mas somente pela natureza. Mas como falar em produção de água em uma metrópole cujos mananciais estão poluídos ou foram sepultados justamente por barracos e favelas?

    Há mais questões de difícil solução a resolver. Só a capital de São Paulo produz hoje 17.000 toneladas de lixo por dia. Não é erro de digitação não. Isto sem falar na região metropolitana e na geração de entulho, outra dor de cabeça. Mesmo que a reciclagem fosse turbinada, nem tudo pode ser reciclado. Em um cálculo otimista sobrariam aí umas 10 ou 12 mil toneladas por dia, fora o que a RMGSP recebe de lixo de outras regiões como a baixada santista. Onde vamos arrumar espaço para dispor esse tsunami de lixo, eu gostaria de saber. Se falarmos em incineração provocamos a ira dos ambientalistas.

    Melhor jogar a bomba no colo do prefeito e tratar de consumir menos, ensinando o mesmo às crianças.

    Para finalizar, deixo uma questão para reflexão: como vamos recuperar as áreas verdes urbanas que foram erradicadas para dar lugar a novas ocupações? É possível conciliar criação de áreas verdes com ocupação do solo? E se isto não for possível, como ficará o ar de São Paulo e a saúde da população? Temos aí sim, um sério caso de saúde pública a resolver.

    grande abraço

  16. Transcrevo aqui uma experiência que comentei no blog do Sakamoto:

    Minha empregada Luzinete está decidida a ir embora. ‘São Paulo é uma ilusão’ disse ela. ‘O dinheiro que a gente ganha, não para na nossa mão, vai para a mão dos outros’.

    É verdade. O que ela ganha trabalhando de domingo a domingo mal dá para pagar o aluguel do barraco. Água, luz, condução, alimentação, roupas, prestações das Casas Bahia e criação dos três filhos consomem o restante do apertado orçamento. Passeios, cultura, lazer? Nem pensar. É como se ela não pertencesse a São Paulo mesmo morando na cidade de maior riqueza cultural.

    Mas a brava Luzinete tem visão. Ela está juntando dinheiro e pelas suas contas, com algo em torno de três ou quatro mil reais dá para começar um pequeno negócio em sua cidade natal de 40 mil habitantes no norte de Minas. Ao menos estará perto da família, dos amigos de infância, das tradições do lugar e de sua gente. Agora, os filhos pequenos poderão brincar em segurança na rua em vez de ficarem trancafiados vendo TV no barraco úmido e escuro onde moram.

    Enfim, é o que poderíamos chamar de recuperação da identidade perdida na cidade grande, sem falar no ponto principal defendido pelo Carlos no comentário acima: a falta de espaço para construções em São Paulo.

    Há violência maior que iludir pessoas humildes com promessas de um futuro melhor em São Paulo, cidade que sacrificou todos os seus recursos naturais para dar lugar á ocupação de milhares de barracos? Sabemos que esse futuro nunca virá. Mas para a classe política é importante a manutenção desses imensos rebanhos eleitorais por perto com lenitivos que mais tarde revelam-se inócuos como Favela Bairro e PAC das favelas. Um eterno enxugamento de gelo.

    Como o Carlos, também acho que devemos fazer essas perguntas ao governo federal. Afinal não é justo jogar nas costas do prefeito ou do governador um secular problema brasileiro enquanto o Brasil é um país enorme e desabitado.

    Porém, como dizia meu velho professor, o primeiro passo para resolvermos um problema é admitirmos que temos esse problema.

  17. Por circunstãncias, tenho passado dia sim dia não, às 7 da manhã, na rua Vitória. Um horror a destruição de sacos de lixo, que é espalhado por tofa calçada. As pessoas têm que passar pelas ruas. Na praça Julio Mesquita o lixo ocupa bem uns 10 m2. Ou seja, a degradação é grande. Se nem isso é resolvido, como acreditar que um grande projeto como o Nova Luz possa ser levado adiante? Quanto às responsabilidades, sim, creio que é de todos nós, da socieadde como um todo, a situação de cada drogado que se degrada nas noites da boca do lixo. Vão gastar bilhões na Nova Luz, sem antes resolver o problema social das pessoas que ali vivem? Complicado!

  18. Tem q mandar embora mesmo…SP não tem nada que ser abrigo de viciados e vagabundos que chegam aqui construindo favelas e exigindo moradia, emprego, hospitais, escolas e etc….tudo de graça, sem trabalhar nem pagar imposto. Basta de favelados em SP, voltem pro lugar de onde vieram.

  19. Não é de surpreender (por incrível que pareça) tais ideias (demonstração cabal da tacanhez do pensamento político a que estamos entregues) – mas não é novidade isso, pois era bastante comum nas cidades do interior ‘botar’ mendigos nos trens (quando ainda existia uma malha férrea) e ‘despachar’ para outras cidades e capital. A mediocridade das soluções perduram, afinal.

  20. Prezada Raquel,
    Discordo somente quando você diz que a cracolândia surgiu por causa das demolições. A terra de ninguém já existia pelo menos duas décadas antes, em minha opinião fruto de processos sociais e econômicos que o professor Flavio Villaça explica em um de seus livros. Ou seja, enquanto não houve interesse econômico, o poder público abandonou na região. Agora que há, para tirar o atraso, implantam-se políticas estapafúrdias como essa. Enfim, é a velha história do planejamento urbano priorizando o interesse econômico de poucos em detrimento do interesse social de muitos.

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