Ocupa Sampa, Rio, Salvador, Campinas e Curitiba: aqui também tem movimento nas ruas

Na semana passada, relatei na minha coluna do Yahoo (reproduzida aqui no blog) a visita que fiz ao acampamento do movimento Ocupe Wall Street, em Nova York. Em função disso, recebi muitos comentários e informações sobre o movimento em cidades brasileiras.

O Luis e a Juliana, por exemplo, falaram do Ocupa Sampa, que desde o dia 15 de outubro está ocupando o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. A Elaine e o João Evangelista contaram que no Rio de Janeiro também está acontecendo o Ocupa Rio, na Cinelândia. A Elaine reclamou que “a mídia está ignorando completamente, e quando divulga são informações deturpadas”. O leitor Mau compartilhou aqui no blog o site do Ocupa Salvador. O movimento também acontece em Campinas, onde dezenas de jovens ocupam a praça da catedral, no centro da cidade, desde o dia 15 do mês passado, de acordo com a leitora Beatriz. Há informações de ocupações também em Curitiba e em Belo Horizonte.

Evidentemente, em cada país e em cada cidade, há pautas e reinvindicações específicas, mas é interessante ver a conexão internacional desse movimento.

Como os participantes reclamam muito da pouca atenção dada aos movimentos de cada cidade por parte dos meios de comunicação, seguem abaixo os sites, perfis no Twitter e páginas no Facebook para quem quiser mais informações:

Ocupa Sampa: http://15osp.org/  Twitter: @ocupasampa /Página no Facebook: http://www.facebook.com/acampasampa

Ocupa Riohttp://ocupario.org/ Twitter: @ocupario /Grupo no Facebook: http://www.facebook.com/groups/249360678448319/

Ocupa Campinashttp://ocupacampinas.blogspot.com/ Twitter: @cpsanon / Página no Facebook: http://www.facebook.com/ocupacampinas

Ocupa Salvador: http://ocupasalvador.wordpress.com/ Twitter: @ocupasalvador / Página no Facebook: http://www.facebook.com/OcupaSalvador

Ocupa Curitiba: Grupo no Facebook: https://www.facebook.com/groups/ocupacuritiba/

Ocupe Wall Street: mais do que um bando de jovens desempregados contra banqueiros yuppies

Acabo de voltar de Nova York, onde além de apresentar um relatório à Assembleia Geral da ONU, como Relatora para o Direito à Moradia, tive a oportunidade de conhecer de perto o Ocupe Wall Street, um movimento de desobediência civil não violento, que questiona as formas hegemônicas de organização socioeconômica e de ação política nos Estados Unidos e no mundo, e que, há quase dois meses, ocupa a Liberty Plaza, bem em frente à Wall Street.

Liberty (Liberdade) é, na verdade, o antigo nome da Zuccotti Park, que foi retomado para representar o que o movimento pretende naquele lugar: mais do que um simples espaço de protesto, uma espécie de cidade dentro da cidade, estruturada a partir de princípios de solidariedade, respeito mútuo e tolerância, e da democracia direta, sem líderes nem comitê central. Para as milhares de pessoas participantes do movimento, o atual modelo econômico e político que gerou a crise financeira é responsável pelas “flagrantes injustiças perpetradas por 1% da população – elites econômicas e políticas – afetando a vida de todos nós, os 99%”.

Diariamente, entre 7h e 9h da noite, quem passa pela Liberty Plaza pode participar de uma Assembleia Geral em que as decisões sobre as estratégias do movimento são tomadas por consenso. Engana-se quem pensa que se trata apenas de um protesto contra os ganhos absurdos dos banqueiros e a não regulação do sistema financeiro. Embora esta questão esteja presente, os temas, pautas e ações vão mais além. Caminhando pela praça, encontrei os mais diversos grupos, com as mais diversas agendas sociais: coletivos feministas, grupos anarquistas, jovens, idosos, indígenas, brancos, negros, roqueiros tatuados da cabeça aos pés, religiosos, ambientalistas, entre tantos outros grupos, com causas individuais e coletivas das mais variadas.

Em um dos cantos da praça, há uma biblioteca com mais de dois mil volumes; em outro, há uma tenda de auxílio médico, onde médicos e enfermeiras voluntários mantêm um plantão de 24h. No meio da praça fica um microfone permanentemente aberto para quem quiser falar. As tarefas cotidianas são dividas entre os grupos de trabalho. Mais de duas mil refeições são distribuídas diariamente; artistas e designers trabalham na comunicação, grupos saem pelo metrô para convocar assembleias gerais nos subúrbios da cidade. E, em todo canto, há barracas, sacos de dormir e muita, muita gente.

Enraizado na história e nas tradições estadunidenses – sim os Estados Unidos não são apenas fast food, carrões e valentões – o Ocupe Wall Street retoma as lutas dos movimentos pelos direitos civis, do pacifismo e da contracultura dos anos 1970, passando pelas lutas antiglobalização em Seattle, no início dos anos 2000, com uma tremenda capacidade de organização e solidariedade da sociedade civil.

Apesar das tentativas da prefeitura de Nova York de acabar com o movimento e das ameaças da polícia, a ocupação física da praça não parece estar com os dias contados, nem muito menos sua influência, que, via internet, tem se multiplicado em marchas, ocupações-relâmpago e protestos em muitas outras cidades dos Estados Unidos e do mundo, como ocorreu no dia 15 de outubro.

Fotos: Lia Rolnik de Almeida

Texto originalmente publicado no Yahoo!Colunistas.