Moinho Resiste: Criminalização é usada para eliminar território popular

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Foto: Bruno Sousa/Folhapress

No começo desta semana, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo afirmou que a prefeitura de São Paulo prepara uma grande operação de remoção das famílias da favela do Moinho, a última do centro da cidade, localizada muito próxima à chamada cracolândia, nos Campos Elísios. Desde o dia 21 de maio, aquela região está sendo alvo de várias ações do governo municipal, que decidiu dispersar os usuários de crack que se concentravam no chamado fluxo com força policial.

Supostamente, tanto a ação na cracolândia – onde cortiços e pensões foram lacrados e tiveram paredes derrubadas com gente dentro e moradores foram ameaçados de remoção – quanto o anúncio da remoção de cerca de 900 famílias do Moinho teriam como motivação o combate ao tráfico de drogas. Ainda segundo a mesma reportagem, a favela do Moinho abasteceria de crack a cracolândia. Ali foram efetuadas prisões e um rapaz de 17 anos foi assassinado. A polícia alega que ele reagiu à abordagem.

Em nome do combate ao tráfico de drogas, a prefeitura está classificando o conjunto de pessoas que moram, trabalham e convivem tanto nos Campos Elísios quanto na favela do Moinho como criminosos, sujeitos a desaparecer do local. O anúncio da remoção da favela faz parte de um conjunto de ações que querem remover dali um território popular constituído por moradores, comerciantes, agentes culturais, entre outros,  que não são, obviamente, todos traficantes. Para piorar, não há nenhum projeto claro de para onde essas pessoas poderão ir depois de serem removidas.

É importante dizer que é necessário intervir nas condições de moradia da favela do Moinho, que não são nada dignas. No Plano Diretor, inclusive, a área está demarcada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) com o objetivo de que seja urbanizada, garantindo melhores condições de vida para quem está lá, sem a sua eliminação. Inclusive, seus moradores, fixados há mais de 20 anos no local, estão requerendo na Justiça o usucapião para regularizar sua situação fundiária, assessorados pelo Escritório Modelo da Faculdade de Direito da PUC-SP.

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PIU Terminal Princesa Isabel: Fonte: PIUs Terminais Municipais Caderno de Referências: Diagnóstico Sócio Territorial e Programa de Interesse Público

Não por acaso, no mesmo dia em que se anuncia a remoção do Moinho, a prefeitura coloca em consulta pública um Projeto de Intervenção Urbana (PIU) no entorno da Praça Princesa Isabel. O projeto prevê uma série de intervenções positivas para a praça e os espaços públicos do entorno: instalar wifi, arrumar calçada, arborizar, iluminar. Mas, também com o objetivo de atrair incorporadores imobiliários para a região, oferece para o mercado uma possibilidade de estabelecimento de PPPs que reestruturam a forma de ocupação da região, com a introdução de novos produtos imobiliários, como torres. O PIU  tangencia a favela do Moinho.

É inequívoca a relação entre as tentativas de desconstituir o que é hoje um dos territórios populares de São Paulo, e a abertura de uma nova frente de expansão imobiliária na cidade.  E para isso, a operação de criminalização, que reduz o conjunto do bairro ( e da favela)  e seus moradores ao tráfico de drogas, aparece como justificativa para o uso extensivo da violência e mecanismos de extralegalidade para banir, derrubar, remover, enfim eliminar sua presença.

Também falei sobre esse assunto na minha coluna da Rádio USP desta semana. Ouça aqui.

5 comentários sobre “Moinho Resiste: Criminalização é usada para eliminar território popular

  1. A escolha deste local,o Bom Retiro, entendo ser a única das opções abaixo a mais estratégica, pois consegue englobar em uma única estação as composições das antigas Sorocabana e Santos a Jundiaí e futura estação da linha 6-Laranja do Metrô no lugar da de Água Branca, além possíveis trens regionais, em uma descentralização tardia.

    O sistema metrô ferroviário paulista vem aumentando continuamente o número de usuários, e os governantes tem que justificar suas intenções de priorizar o transporte coletivo de qualidade em detrimento do individual.

    A estação da Luz já esta superlotada e com sérios problemas de segurança após a instalação uma estação subterrânea da linha-4 Amarela do Metro, sem que a estação Nova Luz estivesse concluída, ou em outro local conveniente.

    A estação da Luz é uma estação de característica de passagem, e é um desperdício logístico utilizá-la como terminal, pois o tempo perdido em que as composições tem que manobrar para mudar da plataforma de desembarque para a de embarque na linha 7 em plena área central de .
    Ou no terminal do expresso leste na Barra Funda, em que as composições estão no contrafluxo.

    Esta é a última das áreas periféricas paralelas disponíveis para estações metrô ferroviárias em SP, após as
    Iª Pátio do Pari, hoje transformada em feira da madrugada;
    IIªEstação da Mooca até a Av. do Estado na antiga engarrafadora de bebidas desativada no município de São Paulo.

    Com relação a esta confrontação de violência assim como já aconteceu na invasão nas escolas estaduais é a incansável procura por grupos políticos de uma vítima de confronto com policiais e a utilização de seu cadáver para provocar uma comoção nacional.

    Nas ultimas em relação as escolas até que surgiu um, mas não servia, pois foi pela droga.

    • Leoni

      Com relação ao penúltimo parágrafo do seu bom comentário acrescento que estamos em São Paulo, cidade onde tudo tem que ser problematizado e virar uma estéril e infindável discussão. A cidade precisa de mais mobilidade via metrô e trem mas isso fica em segundo plano. O que importa é a partidarização das questões.

      O melhor exemplo é a cracolândia. Ninguém nunca tratou de ouvir as pessoas realmente interessadas em acabar com aquele inferno: os moradores da região. Por fim, quando a TV Record lhes deu voz no programa Camera Record (exibido logo após a ação da polícia) o apoio era unânime em relação ao trabalho da Prefeitura.

      • Celso,
        Primeiramente quero agradecer as palavras elogiosas.
        Devemos ter algumas reflexões sobre o texto apresentado, o qual é citada a origem como uma reportagem da Folha de S. Paulo.
        Não sei se este texto apresentado é o completo, pois li e reli e não encontrei nenhuma menção que exatamente nesta área já estava reservada para utilização como estação Metrô ferroviária desde 25/01/2013 pelo Alkmin, conforme anunciado em inúmeros blogs como do Estadão, São Paulo Trem Jeito, Jovem Pan entre outros.
        Tão desencontrada como esta informação é o motivo oficial alegado para sua desocupação, o que demonstra um total desconhecimento dando a impressão que prefeito e governador não se conversam e são de partidos diferentes.
        Causa-me estranheza a omissão ou o desconhecimento por parte do jornalista uma pesquisa mais abrangente com relação aquela área, pois em uma das informações ainda consta uma demarcação de forma equivocada como uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), ou seja nem revisar o plano Diretor os responsáveis fizeram.
        A finalidade da proposta da construção da estação no Bom Retiro seria reagrupar todas elas além o aproveitamento de área já reservada para esta finalidade, em que as linhas da antiga Sorocabana e Santos a Jundiaí correm em um plano paralelo, o que facilita muito sua implantação, além do uso para os planejados futuros trens de longo percurso que já existiam no passado, revitalizando a Júlio Prestes e aliviando a Luz.
        Também poderia ser aproveitada na transversal como uma futura estação do Metrô (Não necessariamente a Linha 6-Laranja).
        Também é importante ressaltar que esta é a ultima área estratégica na capital para esta finalidade, pois a do Pari foi transformada em feirinha, e na Barra Funda em Memorial. Por falar em museu, foi planejado em São Bernardo um “Museu do Trabalho e do Trabalhador” para guardar o acervo de um ex-presidente no qual já foram gastos R$ 21 milhões e se encontra desocupado.

  2. Off topic

    Na minha opinião, as parcerias que estão sendo feitas visando manutenção dos parques é boa. Porém, alguns grupos deturpam as informações fazendo colocações toscas do tipo ‘a cidade não está à venda’ como aqueles sujeitos que picharam o muro da casa do prefeito.

    Tentando atingir a figura dos governantes, algumas pessoas protestam com vandalismo, pichações e queima de pneus. Na verdade estão agredindo a cidade e as pessoas que nela moram. Quer protestar? Então faça isso na hora do voto.

    http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,nike-vai-reformar-campo-de-futebol-e-pistas-do-ibirapuera,70001897856

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