Pobre arquitetura residencial paulistana

Ontem o convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, foi o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, e eu participei como entrevistadora. Um dos melhores momentos do programa foi quando, perguntado sobre a qualidade dos projetos de arquitetura dos edifícios de São Paulo, Jorge lamentou a perda de uma tradição de projetos de edifícios residenciais notáveis, verdadeiras lições de arquitetura moderna que nos foram legadas por arquitetos como Abrão Sanovicz, Rino Levi, Vilanova Artigas e muitos outros. O trabalho desses arquitetos está entre o que há de melhor na arquitetura moderna brasileira e internacional.

Todos os entrevistadores concordaram. A opinião unânime entre eles é de que hoje não se veem mais projetos como esses na cidade de São Paulo. Infelizmente, o que é valorizado hoje nos edifícios são penduricalhos e traquitanas, como espaço gourmet, espaço zen, ou (pasmem!) pet play, ou seja, playground de cachorro… Tudo acompanhado por um marketing raso que valoriza esses produtos. Aliás, a propaganda abaixo, enviada por uma leitora do blog que assistiu ao programa, ilustra muito bem essa situação grotesca.

 

 

A entrevista completa com Jorge Wilheim pode ser vista abaixo ou no site da TV Cultura.

 

19 comentários sobre “Pobre arquitetura residencial paulistana

  1. Realmente esses edifícios com vocação para Disneylandia são grotescos, cafonas e refletem a mentalidade provinciana dos que consomem e preferem estes “equipamentos” de lazer que terminam ociosos. Enquanto isso os moradores se espremem em cubículos com pequenas janelas para a realidade. Uma verdadeira agressão à cidade.

  2. Vocês precisam ver como está ficando Recife!! Me mudei de São Paulo para cá faz 10 anos e é triste o que está sendo feito por aqui.

  3. Pena que o vídeo acabe antes do final da entrevista. Pena maior que a interrupção se dê justo no momento em que Jorge Wilheim vai responder à pergunta sobre a qualidade da arquitetura dos edifícios de São Paulo. Alguém sabe de outro endereço onde eu possa encontrar o que faltou? Obrigado.

  4. Também acompanhei o arquiteto e urbanista Sr. Jorge Wilhem na edição de Roda Viva de 04/02/2013, mesmo nunca tê-lo visto em nenhum programa de TV. Quando ele menciona o quanto estão ‘feias’ as edificações dos dias de hoje na cidade de São Paulo, concordando com uma pergunta de uma jornalista, achei que ele tem um pensamento que está em sintonia com muitas pessoas que conheci; ele também salienta o quanto os novos estilos arquitetônicos estão distanciados daqueles anos áureos dos períodos dos anos de 1950, 1960, 1970 que tanto o encantava. Concordo com ele quando indagado sobre a Nova Luz e reconhecer que esta região não atrai para si interesses de investimentos por parte do capital privado. Segundo o arquiteto, o Estado deve sim investir muito nessa região no sentido de revitalizá-la agregando dois tipos de investidores, o privado e o público. Não é a toa que ele participa da administração pública no cargo de secretário de habitação em diversos períodos de governos municipais. De formação e opiniões sólidas e ainda demonstrando muita vitalidade, ele é pura sabedoria.

  5. Também gostei do programa mas achei que faltou tempo. Não se falou nada sobre a ausência de estruturas logísticas na cidade. Logística de distribuição urbana. Só se fala de verticalização, taxas de ocupação etc etc.

  6. Outra coisa que me choca, além da transformação de moradia em mercadoria pasteurizada, é a infantilização/retardamento mental evidenciado pelo comportamento histérico das tipas na propaganda da Rossi. Claro que existem muuuuitas mulheres assim, mas generalizar é um desrespeito.

  7. …apesar de haver alguns esforços pontuais em produzir edifícios com qualidade arquitetônica, cuja primeira referência me é a Idea!Zarvos.

  8. Ainda não vi a entrevista, mas imagino que seja ótima. Tive em São Paulo em 2009 e fiquei impressionado com a porcariada que estão fazendo, pois achava que arquitetura residencial ruim só se fazia no rio de janeiro. Isso é algo que não aceito em São Paulo, pois lá realmente se fez boa arquitetura residencial, como expoente do modernismo brasileiro.

    Sou assinante de uma revista de arquitetura e urbanismo da Argentina, e em um exemplar passado, fizeram uma matéria sobre o Rino Levi, muito boa mesmo. E aqui? Ignoramos completamente esse legado de exemplo a ser seguido e desenvolvido.

    Antes eu duvidava, mas agora, tenho certeza. Temos vergonha de ter heróis, dos verdadeiros, não os de capa preta nem de collant azul. Mas os de carne, osso e atitude.!

  9. A entrevista foi excelente e o Jorge Wilheim foi fundo e não ficou na superfície, mesmo o programa exigindo respostas rápidas Gostei muito das opiniões dele sobre ciclovias e calçadas, e sobre a miséria da arquitetura residencial paulistana, horrorosa e neoclássica, e seu senso de observação sobre isso. Senti falta de críticas à gestão Serra/Kassab, embora gostei muito da critica ao Nova Luz. Também não ficou muito claro o link entre o Arco do Futuro com o Plano Diretor e os PREs. Aliás você falou que a Outorga Onerosa do Fundurb gerou R$350 milhões e não se sabe onde foi aplicado. Tai um bom tema para o Kazu e o Haddad explorarem. Aonde está o dinheiro arrecadado? Onde foi aplicado? E ninguém falou nada dos milhões gastos em consultoria para o Plano São Paulo 2040 que é uma cópia do PDE!

  10. Eu ja trabalhei com construção, e acho melhor vcs nem saberem como istó é feito na pratica, usam gesso em vez de reboque, canaletas de bloco em vez de coluna, a contrução tem um custo bem menor, é o pior são vendidos por um abisurdo, tem muita gente comprado gato por lebre.

  11. Raquel bom dia, há muito tempo eu nao registrava analises que resgatavam ha historia dos valores culturais que marcaram a produção arquitetônica daquela geração .Me alegrou a alma.
    Grande abraço ,
    Edu Sanovicz

  12. Sou arquiteto e urbanista e me arrepiei com a citação de Recife. Moro na frente de um empresarial que acabou de ser inaugurado. Mais uma caixa de vidro sem nenhuma estética. As construtoras estão vendendo como se fossem algo sustentável. Já fiz até criticas a um projeto de uma delas e um representante veio falar que o vidro era especial e reduzia a entrada de luz solar, mas ele não citou que o mesmo não irá impedir o uso dos aparelhos de ar condicionado, pois os mesmos não serão abertos nunca. Recife está ficando feia também. Os arquitetos daqui também não tem o menor senso de estética e vão no caminho das construtoras, que pensam apenas em vender. Se prolifera na cidade as tais caixas de vidro sem nenhuma estética e nada sustentável como vendem.

  13. Eu estou muito feliz de ver inumeras indagacoes minhas abertamente expressas nesse Roda Vida. Fazia tempo que eu estava procurando manifestacoes publicas sobre a situacao lamentavel da nossa cidade e do descaso a ela dirigidos.
    Espero que muita gente repense nao so o seu papel quanto cidadao, mas tambem a falta de visao e engajamento da politica brasileira (e ainda mais neste caso especifico a paulistana).
    Parabens Raquel, todos os envolvidos com o programa e, mais do que todos, a Jorge Wilheim pela participacao excelente.

  14. Infelizmente é verdade, por falta de conhecimento o comprador acaba valorizando aquilo que o marketing vende, e não o verdadeiro valor de uma obra arquitetônica, que valoriza o bem estar, o bem morar, que ao contrário desses assessórios prediais, é eternizado com um bom projeto.
    Marcos
    http:arquitetonline.com.br

  15. A 38 anos atras, meu primeiro referencial do urbanismo foi Jorge Wilheim, e foi quando ouvi pela primeira vez que a verticalização era inevitável, tendo em vista o custo da infraestrutura urbana de uma cidade horizontal, mas dai aceitar o que estão fazendo é outra história, a 38 anos já se sentia a redução dos espaços habitados de um prédio e isso vem acontecendo ao longo dos anos, mais precisamente nos apartamentos da classe média, basta visitar um apartamento modelo e notar a quantidade de espelhos utilizados para camuflar as dimensões dos espaços. A arquitetura, no meu ponto de vista, deixou a muito tempo de se preocupar com a qualidade e o conforto necessários a habitação em prédios de apartamentos, porisso a necessidade de se criar belas fachadas e espaços coletivos como atrativos de venda.
    Meu respeito e admiração pelo colega Jorge Wilheim.

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