Vira e mexe, alguma experiência urbanística vira a referência do momento. Foi-se o tempo de Curitiba. Barcelona teve seus dias de glória. A bola da vez, até pouco tempo, era Bogotá.
Matéria publicada no portal do Estadão, domingo passado, mostra como a cidade vem enfrentando problemas de trânsito, violência e corrupção na gestão municipal, desconstituindo aquilo que a havia notabilizado.
O fato é que algumas experiências concretas de intervenção urbanística acabam se transformando em produtos de exportação e gerando um enorme marketing.
Com isso, essas experiências acabam se descarnando, no sentido de que, quando se transformam em um produto de marketing, elas perdem totalmente a relação e a inserção que tinham com todo o processo que as gerou e se tornam uma espécie de coisa em si.
O mundo real das cidades é feito de propostas inovadoras e de “sacadas” urbanísticas, mas não só. Ele é principalmente feito de um dia-a-dia, de um cotidiano com uma qualidade de gestão capaz de manter as coisas e de transformá-las na medida da exigência das necessidades diárias.
Infelizmente, essa capacidade de gestão não gera marketing, não cria uma imagem de cidade e de governante que depois satisfaça egos e bolsos que vendem essas soluções para outros lugares. Esse exemplo de Bogotá é muito emblemático.
Por conta do projeto do TransMilenio e das intervenções nas suas periferias, Bogotá virou a miss universo do urbanismo. Propostas de reprodução das obras que ali foram feitas se espalharam pelo mundo.
Entretanto, a parte não contada da história de Bogotá foi todo o processo anterior, intangível, imaterial, de reconstrução de um tecido cidadão, de transformação na esfera política que foi justamente o que se perdeu hoje.