Resultado das eleições em São Paulo: a periferia abandonou o PT?

haddad-doria

As áreas mais escuras mostram as zonas eleitorais em que cada candidato teve percentual de votos maior do que sua votação final

Boa parte dos comentários após a divulgação dos resultados da eleição em São Paulo aponta para um elemento decisivo: a chamada “periferia” da cidade, base histórica do Partido dos Trabalhadores, teria, pela primeira vez, abandonado o partido e migrado para outras agremiações. Será?

Evidentemente, a cruzada de setores da mídia, do empresariado e operadores do judiciário procurando identificar a endêmica e estrutural relação perversa entre os negócios e a política como “roubalheira do PT” teve um enorme impacto sobre as eleições. Além disso, era fundamental para a consolidação das forças políticas que promoveram o impeachment minar a possível resistência de uma cidade com a importância de São Paulo.

Seus efeitos aparecem com clareza na diminuição da participação do PT no quadro institucional municipal de todo o país (prefeituras e câmaras), mas também contaminaram de forma mais genérica o resultado eleitoral como um todo, com um aumento significativo das abstenções, votos nulos e brancos, fenômeno crescente nas últimas eleições e que atingiu os espantosos 38,48% em São Paulo.

Isso nos ajuda a entender a eleição de um “não-político”, ou “antipolítico”, como se autodenominou João Doria Jr. (PSDB), o que, na verdade, já tinha também beneficiado a eleição de Fernando Haddad (PT) em 2012, quando se apresentou como professor universitário sem carreira de político profissional. Em suma, políticos profissionais e política partidária em baixa.

Por outro lado, é necessário também olhar para a própria cidade e sua dinâmica para entender o que ocorreu no dia 2 de outubro. Em primeiro lugar, ao contrário do que uma olhada rápida nos números eleitorais pode fazer parecer, a periferia não “abandonou” o candidato do PT. Nos extremos da cidade, ainda que tenha tido menos votos que o prefeito eleito, Haddad teve uma votação acima de sua média e o resultado de Doria nessas regiões não garantiria ao tucano a vitória em primeiro turno, como mostram os mapas acima.

O pior desempenho de Haddad e do PT, além dos tradicionais bairros da elite paulistana que historicamente votam no PSDB, ocorreu na chamada “periferia consolidada”. São bairros tradicionalmente operários que passaram por processos significativos de transformação urbanística e elevação de renda nas últimas décadas e de onde a população mais pobre foi “empurrada” para mais longe, como a Vila Carioca e Pirituba. Em 2014, na eleição presidencial, Dilma Rousseff já havia perdido em boa parte desses lugares. E desde que PT e PSBD começaram a polarizar a corrida eleitoral na cidade, a disputa por esses territórios é aberta, conforme os mapas abaixo.

2012-2014

Mapas mostram zonas onde cada candidato foi vitorioso na corrida eleitoral para a prefeitura em 2012 e para a presidência em 2014

Além disso, é necessário entender os processos de transformação político-culturais nas periferias. Entre eles está a perda crescente da hegemonia de velhas formas de organização social, como os sindicatos, historicamente responsáveis pela formação de base dos trabalhadores dentro das fábricas, e as associações de bairro, que impulsionaram a urbanização nesses locais por meio da organização de moradores. Em seu lugar, emergiram outras formas de agregação, especialmente as igrejas evangélicas, sem vínculos com o PT ou com valores de justiça social, tradicionalmente identificados como de esquerda.

Sem a formação de base que era feita pelo partido e com narrativa onipresente dos meios de comunicação valorizando o individualismo e a meritocracia, o eleitorado desses bairros é facilmente seduzido por discursos antipolíticos como o de Doria, o “empresário” que “se deu bem”, que “não precisa roubar porque é rico”.

Mas quem pensa que essa mudança veio para ficar, não se engane. Esta eleição – e este é um consenso – foi a mais desmobilizada e a que menos interessou aos eleitores, bastante contaminados pelo ambiente nacional de descrédito com as instituições políticas. A disputa ocorreu justamente no momento em que a cidade é discutida como nunca pela população. Dificilmente quem tem participado da política nas ruas de maneira tão intensa abrirá mão de ser sujeito das transformações.

Mapas: Caroline Nobre

Texto publicado originalmente no portal Yahoo!

Para você que reluta em votar no PT: por que eleger Haddad prefeito e Nabil Bonduki vereador em São Paulo?

Não são poucas as pessoas que tendo, durante anos, acreditado e lutado para levar o Partido dos Trabalhadores (PT) e sua agenda de reformas ao poder no país, hoje se sentem, no mínimo, muito pouco estimuladas a votar em candidatos do partido. Para elas, em diferentes graus – da decepção ao ódio – testemunhar a mimetização do partido com a geleia geral do modo de fazer política no país é razão de indignação e rejeição a seus candidatos.

Infelizmente, a lógica dos fins que justificam os meios, da necessidade da governabilidade acima de tudo sob um presidencialismo de coalizão e um sistema político eleitoral arcaico, tem esvaziado aquilo que o PT prometia – o novo na política, a radicalização da democracia.

Entretanto, o momento eleitoral na cidade de São Paulo exige uma reflexão: nas eleições municipais, acreditar que o que está em jogo é ser contra ou a favor do PT é entrar justamente nesta lógica perversa e desqualificada da política brasileira. E a cidade? E São Paulo?

É na cidade e em seu destino nos próximos quatro anos que devemos refletir ao votar no próximo domingo. Apesar de um crescimento recorde do orçamento público e de uma disposição inédita dos cidadãos em se abrir para uma mudança de modelo de cidade, o mal estar urbano que vivemos hoje é o retrato dos limites e possibilidades da repetição da experiência Serra-Kassab.  A cidade está melhor do que há 8 anos? Para quem?

Como uma espécie de fenômeno midiático, na esteira da redução das múltiplas dimensões da cidadania em apenas uma – o consumo, surge um candidato que denuncia o desrespeito aos direitos do consumidor. Russomano convence porque o desrespeito (ao cidadão, não ao consumidor) é real, porque a inauguração da obra é mais importante que a manutenção e os serviços… O problema é que não se conduz uma transformação da cidade com denúncias. O grande perigo – já vimos este filme! – é a eleição de uma espécie de candidatura-imagem no estilo das mais perversas manobras conservadoras que já vivemos.

E Fernando Haddad? É novo ou é velho? É novo ao priorizar e valorizar um projeto de cidade e procurar apresentá-lo no processo eleitoral; é novo ao se abrir para possibilidades mais amplas de transformação, ao não se apresentar como salvador da pátria e detentor de fórmulas mágicas. É novo porque, sendo novo na política, talvez não seja capturado pela lógica da reprodução dos mandatos a qualquer preço. É uma aposta!

Mas só será uma aposta se sua eleição for acompanhada pela eleição de uma bancada de vereadores também nova. Nova não no sentido de políticos que nunca tiveram mandatos, mas sim de uma Câmara Municipal qualificada, comprometida com as mudanças necessárias na política, inclusive dentro do PT. E como eu já afirmei aqui no blog, o candidato Nabil Bonduki tem exatamente este perfil.

Por isso, é em nome da cidade que ouso sugerir a você, que está com bode do PT, a votar em Haddad prefeito e Nabil Bonduki vereador no próximo dia 7. Por São Paulo!

Para mais informações sobre os candidatos, acesse:

Fernando Haddad 13

Nabil Bonduki 13633