Com fim da festa, legado olímpico poderá ser melhor avaliado

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Foto: @andreviidal/Instagram

Passado o alvoroço em torno dos Jogos Olímpicos, é importante avaliar o evento, principalmente a partir da perspectiva do famoso “legado” que se prometeu deixar.

Claro que o consumo das pessoas que visitaram a cidade do Rio de Janeiro durante as competições se converterá, em alguma medida, em impostos pagos aos cofres públicos, assim como são importantes os empregos gerados pelas obras realizadas. Mas boa parte da herança deixada apenas reproduz a lógica que impera sobre nossas cidades, com investimentos que se concentram em bairros ricos ou para onde se pretende oferecer novos territórios para os setores de mais alta renda.

Como já falamos antes, apontado como um dos mais importantes legados do evento, os BRTs serviram mais  ao interesse de induzir a frente de expansão imobiliária na direção da Barra da Tijuca do que resolver os graves problemas de locomoção da população carioca.

Outro bom exemplo disso é o sistema de trens metropolitanos. Evidentemente, seria incrível para a cidade a realização da Linha 3, projetada há quase 50 anos, e que seria a maior integração intermodal do Brasil ao ligar a capital fluminense a municípios da região leste do Rio, incluindo Niterói e São Gonçalo. O investimento representaria a melhoria e expansão do sistema de trens metropolitanos, que transporta atualmente, em média, 620 mil pessoas por dia de maneira precária.

Mas esse não foi o legado olímpico escolhido pelo Estado. Preferiu-se investir na Linha 4, que liga a Barra da Tijuca à Zona Sul do Rio, região mais rica da cidade.

Segundo dados da Agenda Rio 2017, documento elaborado pela Casa Fluminense – entidade que reúne pesquisadores, movimentos e ativista para pensar um futuro mais justo e igualitário para a população do Rio de Janeiro – essa linha teve custo de R$ 8,5 bilhões e pode transportar no máximo 300 mil passageiros por dia. Enquanto isso, o sistema de trens metropolitanos que carrega mais que o dobro de pessoas diariamente deve receber do governo do estado entre 2010 e 2020, apenas R$ 1,2 bilhão.

Outro dado levantado pela Casa Fluminense é que, se tomarmos um tema como o saneamento, um dos maiores flagelos do Rio, dois terços da região metropolitana do Rio de Janeiro despejam seu esgoto diretamente na Baía de Guanabara. Mas, nos últimos 24 anos, o custo para despoluí-la foi equivalente a um terço do total gasto para a realização dos jogos.

É essa lógica que ficará evidente com o fim da festa. Especialmente porque seu custo financeiro deve ser sentido nos próximos anos, como ocorreu em outras cidades que sediaram o mesmo evento esportivo ou outros similares. O impacto social que vem sendo sentido há muito pelos mais de 20 mil removidos em breve será avaliado por toda a população na forma de um projeto que não priorizou o que deve ser priorizado.

Publicado originalmente no portal Yahoo!

A questão da mobilidade é uma das dificuldades do Brasil para a Copa de 2014

A questão da mobilidade para a Copa é bastante preocupante. As pessoas têm perguntado: vai sair metrô para a Copa? Eu diria que não existe a menor chance de que alguma extensão ou linha nova de metrô consiga estar pronta a tempo. Esta hipótese não existe. Por outro lado, são várias as cidades que estão planejando os BRT’s (Bus Rapid Transit), que são corredores de ônibus. Isso, sim, é factível.  São cidades como Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além de Curitiba que está com um projeto de ampliação do sistema já existente.

Há várias cidades que já implantaram corredores. A primeira foi Curitiba. Em São Paulo também há alguns, com plataforma de embarque no canteiro central, em nível com os ônibus para facilitar o embarque e o desembarque. Mas a grande referência hoje na América Latina em corredor de ônibus é a cidade de Bogotá, na Colômbia, com o transmilênio, que avança muito mais do que as experiências que temos no Brasil.

Mas não vamos nos iludir. O corredor melhora muito o transporte, mas um VLT (veículo leve sobre trilhos) tem capacidade para carregar até seis vezes mais passageiros do que o ônibus. Então para determinadas quantidades de pessoas que precisam se deslocar, um corredor de ônibus não dá conta, e por isso é preciso um sistema sobre trilhos, que é o trem, o metrô, o VLT ou essa solução que está sendo proposta em São Paulo e em Manaus, que é o monotrilho, um tipo de bonde, mas elevado, em cima de uma espécie de viaduto. Me parece uma forma de não enfrentar a briga com o carro. E é discutível, inclusive, do ponto de vista da interferência que tem na cidade.

Agora, metrô ou mesmo os VLT’s, que têm muito mais capacidade do que o corredor de ônibus, não estarão prontos para a Copa. Com exceção, talvez, do VLT de Brasília, que já teve licitação e a obra já começou a andar. Enfim, os torcedores irão para os estádios ou de ônibus ou de carro. Exceto, evidentemente, os estádios que já estão bem localizados e já têm acesso por rede de transporte coletivo de massa, como é o caso do Maracanã.

Da mesma forma o trem-bala. Sem chances de estar pronto para a Copa e eu diria, muito dificilmente, para as Olimpíadas, porque sequer aconteceu o processo de licitação das empresas. O governo está estudando intensamente, pesquisando a melhor alternativa tecnológica, dimensionando, fechando custos, está fazendo o projeto, comparando todas as alternativas tecnológicas e os modelos que já existem no mundo, os asiáticos, os europeus, porque há dois grandes fornecedores na área do trem-bala, mas até terminar esse processo, até que isto se transforme no modelo que será adotado para construção, até que se feche um modelo de parceria, de negócio, até isso ir para a rua, com licitação para contratar e executar, serão cinco ou seis anos.

Olimpíada e Copa trazem prejuízo social

Reportagem de Jamil Chade publicada em O Estado de S. Paulo no dia 5 de março. Para ler a versão no papel, com infográfico sobre as Olimpíadas, clique aqui.

A organização de Copas do Mundo e Jogos Olímpicos causou a expulsão de milhares de pessoas de suas casas e, na grande maioria dos casos, teve impacto negativo sobre a situação de moradia para a população. A conclusão é da ONU, que apresenta hoje, em Genebra, seu primeiro relatório completo sobre o impacto de megaeventos esportivos sobre a vida das pessoas nas cidades que os sediam e desfaz o mito de que apenas trazem benefícios à população.

No caso do Rio de Janeiro, alerta o estudo, a ameaça de expulsão de moradores de áreas que serão usadas para os Jogos de 2016 é real e o governo terá de dar uma solução.

O trabalho de elaboração do levantamento coube a uma brasileira, Raquel Rolnick, relatora das Nações Unidas para o Direito à Moradia e hoje uma das principais especialistas mundiais na questão. A ONU buscou contato com a Fifa para tratar do assunto. Sequer foi recebida. “Experiências passadas mostram que projetos de reurbanização adotados para a preparação de eventos resultaram em violações extensivas de direitos humanos, em especial o direito à moradia””, alertou Rolnick em seu documento, que será apresentado hoje a governos de todo o mundo.

Expulsões, encarecimento de moradia, falta de alternativas e pressão sobre os mais pobres, que acabam empurrados para as periferias, têm sido algumas das marcas mais características das Copas e Jogos Olímpicos. Para a brasileira, os benefícios econômicos desses eventos não são distribuídos de forma adequada à população e o legado “é longe de ser positivo””.
“Velhas disparidades parecem se exacerbar diante de um processo de regeneração e embelezamento das cidades””, afirma. “As consequências de longo prazo de megaeventos incluem fatos preocupantes.””

Os exemplos citados pela ONU são inúmeros. Em Seul, em 1988, a Olimpíada afetou 15% da população, que teve de buscar novos locais para morar – 48 mil edifícios foram destruídos. Em Barcelona, em 1992, 200 famílias foram expulsas para a construção de novas estradas. Em Pequim, a ONU admite que 1,5 milhão de pessoas foram removidas de suas casas. A expulsão chegou a ocorrer em plena madrugada. Moradores que se opunham foram presos.

Outra constatação é a alta nos preços de casas. Em Seul, a inflação foi de 20% nos oito meses anteriores aos Jogos. O preço da terra subiu 27%. Em Barcelona, a alta foi de 131% nos cinco anos antes da Olimpíada, contra mais de 50% em Sydney. Em Atlanta, 15 mil moradores foram expulsos de suas casas em 1996 e a inflação no setor imobiliário passou de 0,4% para 8% no ano dos Jogos.

Para Londres/2012, as áreas próximas aos locais dos eventos já sofrem inflação quatro vezes maior que a média nacional.

Em relação à Copa da África, a relatora alerta que os compromissos do governo de proporcionar ganhos sociais com o evento não estão se confirmando. O orçamento para isso é baixo e a Fifa sequer aceitou falar com Raquel sobre o assunto. A ONU pede que a entidade modifique seus critérios para a escolha da sede das próximas Copas. Não houve resposta.
JOGOS DE 2016

Para a Olimpíada do Rio, a ONU já alerta para possíveis violações ao direito à moradia. Um dos problemas seria a Vila do Autódromo, que poderia ter seus moradores expulsos para as obras do evento. Outra preocupação é com relação à falta de informação sobre compensações que moradores de algumas áreas terão de receber.

OS IMPACTOS NA HABITAÇÃO

1988 – Olimpíada de Seul
Em Seul, 15% da população foi violentamente expulsa e 48 mil edifícios foram demolidos em 1988 durante a preparação dos Jogos Olímpicos. A especulação imobiliária aumentou em mais de 20% o valor dos apartamentos e em mais de 27% o de terrenos

1992 – Olimpíada de Barcelona
Duzentas famílias foram despejadas para abrir caminho para a construção de novas rotatórias e outras adaptações urbanísticas antes do Jogos Olímpicos de 1992. A especulação imobiliária em torno dos Jogos resultou num aumento de 131% no preço dos imóveis

1994 – Copa do Mundo dos Estados Unidos
Em Dallas, cerca de 300 pessoas foram expulsas de suas residências por causa da preparação para a Copa do Mundo 1994

1996 – Olimpíada de Atlanta
Em Atlanta, em torno de 15 mil residentes de baixa renda foram expulsos da cidade por causa dos Jogos. Cerca de 1.200 unidades de habitação para os pobres foram destruídas em nome dos Jogos

2000 – Olimpíada de Sydney
Em Sydney, os relatórios indicam que cerca de 6 mil pessoas foram desalojadas na preparação para os Jogos Olímpicos de 2000. A especulação imobiliária em torno dos Jogos elevou em 50% o preço dos imóveis

2008 – Olimpíada de Pequim
Projeto envolveu realocação de moradores em larga escala. Foram relatadas denúncias sobre despejos em massa, por vezes conduzidos por homens não identificados. Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram deslocadas

2010 – Copa da África do Sul
Mais de 20 mil moradores foram removidos e transferidos para áreas empobrecidas da cidade. O ministro da Habitação observou que os planos de construir milhares de casas de baixo custo poderiam ser afetados por mudanças nas demandas do orçamento na preparação para a Copa de 2010

2010 – Jogos da Commonwealth de Nova Deli
Em Nova Deli, na Índia, 35 mil famílias foram expulsas das terras públicas na preparação para os Jogos

2010 – Olimpíada de Inverno de Vancouver
Em Vancouver, mais de 1.400 unidades habitacionais de baixa renda foram perdidas em relação à especulação imobiliária gerada pelos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010

2012 – Olimpíada de Londres
Na capital da Inglaterra, sede dos Jogos de 2012, que antecedemo os do Rio, o preço médio dos imóveis no entorno olímpico aumentou mais de 3%, enquanto no restante da cidade os valores caíram aproximadamente 0,2 por cento

2016 – Olimpíada do Rio
No Rio de Janeiro, diversos assentamentos informais estão sob ameaça de despejo, por causa da construção de instalações esportivas para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016

Reforma da zona portuária do Rio para Olimpíada é chance para equacionar acesso à moradia na região

Farei alguns comentários mais detalhados sobre o plano para a zona portuária do Rio, que pode ficar bastante interessante.

É uma discussão que já se arrasta há muitos anos no Rio, por ser uma área com enorme potencial de renovação. Inclusive porque lá mais de 70% dos terrenos são de propriedade pública. A maior parte é do Governo Federal, em função do Rio de Janeiro ter sido a capital federal, e também porque muitos terrenos pertencem ao Porto do Rio, que também era de propriedade federal e agora se transformou bastante.

A proposta para revitalizar a zona portuária começou a acelerar. O prefeito Eduardo Paes apresentou uma proposta, que se chama “Porto Maravilha”, e enviou três Projetos de Lei para a Câmara Municipal.

Um altera o Plano Diretor, outro cria uma Operação Urbana para permitir a venda de potencial construtivo para poder realizar obras públicas, a exemplo do que foi feito em São Paulo, nas Águas Espraiadas e na Faria Lima. E o terceiro cria uma companhia de desenvolvimento, uma empresa de economia mista pra cuidar do porto, das obras e da gestão dessa área.

Essa companhia mista poderia ter a participação do Governo Federal e do Governo Estadual, sob a forma de terrenos, e da Prefeitura, sob a forma de venda de potencial construtivo.

A zona portuária é uma área histórica importantíssima para o Rio de Janeiro. Há um grande patrimônio histórico ali, como o Mosteiro de São Bento, que data do início do século XVIII, e o Morro da Conceição, que é uma das primeiras áreas ocupadas no Brasil, além do primeiro arranha-céu da América Latina, o edifício “A Noite”, construído nos anos 20, e muitos outros elementos históricos importantes.

Também há 14 comunidades de moradores que vivem nessas áreas. Pelo que pude ver nos planos, está prevista a construção de edifícios altos, que podem chegar a até 40 pavimentos. Mas nas não vi ainda qual será o destino das pessoas que estão lá. E já notei repercussões no Rio reclamando da falta de discussão pública desse projeto, já que ele está tramitando na Câmara e está sendo aprovado a toque de caixa. Há um certo receio sobre como é que esse projeto vai atender a várias questões colocadas no espaço.

A área hoje tem 22 mil habitantes e a previsão é que ela passe para 100 mil habitantes, o que é super positivo, ter mais gente morando na zona portuária. Mas a questão é quem, como, como é que isso pode ser feito para incluir as várias faixas de renda e o que vai acontecer com quem está lá.

O Rio de Janeiro estabeleceu uma relação muito positiva entre Prefeitura, Estado e Governo Federal para tocar essas obras, e isso é muito bom. Também tem planos e propostas de intervenção. Mas alguns pontos estão desconectados e precisamos ver como é que serão feitos.

Por exemplo, fui procurar um número mais preciso sobre as favelas instaladas na Barra da Tijuca. São mais de 63 comunidades, mais de 30 mil pessoas moram lá, e eu olhei e re-olhei os planos, vi as propostas para o saneamento, para o transporte, de onde vêm os recursos, mas eu não vi o que será feito em relação a essas comunidades.

Tenho um pouco de receio, porque é  tipo de pressão que ocorre muito no Brasil. Quando aparece uma oportunidade dessas, alguns poucos saem correndo para se aproveitar, para ganhar muito dinheiro, fazer seus empreendimentos, e os interesses públicos mais gerais da cidade acabam indo pra trás.

Mas o Rio de Janeiro está com uma oportunidade na mão enorme para fazer diferente. E acho que nós temos que acreditar que pode ser diferente, e precisamos acompanhar esse processo.

Limpar a Baía de Guanabara, sanear lagoas para jogos e instalar redes de esgoto são desafios do Rio 2016

Um dos principais desafios para a preparação da Olimpíada no Rio é o saneamento ambiental. Uma das razões é viabilizar os próprios jogos, já que uma parte das competições ocorrerá em lagoas, como a Rodrigo de Freitas e a de Jacarepaguá.

As competições precisam ocorrer em lagoas limpas e, à exceção da Rodrigo de Freitas, que já passou por várias intervenções e tem condições de ficar completamente despoluída em breve, nas demais será preciso intervir.

Mas não é só isso. Uma das principais sedes dos jogos, que é a região oeste, na Barra da Tijuca, não tem sistema de esgoto. A ocupação da região começou sem sistema de esgoto e os próprios condomínios faziam suas estações de tratamento, cada um a sua. Mas a urbanização da região foi adensando e surgiu uma briga nos anos 80, entre a população que estava lá e a Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (Cedae), para que um sistema público de esgoto fosse implementado.

Finalmente, nos anos 80, fez-se um projeto para construir um sistema de esgoto, que só começou a ser implantado em 2001 e atende hoje menos que 50% dos domicílios da Barra. Essa área precisa ser completamente saneada, o que beneficiará a população da região.

Também temos no Rio, no campo do saneamento ambiental, outro tema recorrente. Você com certeza já ouviu falar do projeto de despoluição da Baía de Guanabara… É um projeto que foi lançado em 95. Hoje, depois de vários investimentos, temos por volta de 30% de melhora, de acordo com os dados oficiais.

O que está previsto neste projeto? Para sanear a Baía de Guanabara, várias sub-bacias têm que ser trabalhadas, inclusive a própria Baixada Fluminense, que também não tem nada de sistema de tratamento de esgoto até hoje, e a Baixada de Jacarepaguá.

São vários subsistemas que precisam não só de um sistema de coleta, mas de estações elevatórias para que o esgoto possa ser lançado no emissário da Barra da Tijuca, construído mais recentemente, e nos outros emissários que atendem bairros já saneados.

De acordo com as previsões, com um investimento em torno de 2 bilhões de reais o Rio chegaria em 2016 com mais ou menos 50% a 60% de melhora em relação ao que temos hoje.

É um desafio complexo, de gestão difícil, pois envolve vários municípios da região metropolitana. O esgoto não é apenas uma questão municipal, é um problema regional, há uma companhia estadual no meio disso tudo e ainda uma grande dependência de recursos da União.

Desses 2 bilhões, pelo que entendi, 650 milhões já estão garantidos. Mas e o resto? Ainda temos um belo caminho pela frente para imaginarmos um Rio de Janeiro totalmente saneado antes dos jogos olímpicos.

Projeto de mobilidade para Olimpíada no Rio investe em corredores de ônibus

Farei alguns comentários sobre a proposta de mobilidade para a Olimpíada. Um dos pontos fortes do projeto apresentado ao comitê olímpico foi o seu realismo. Ele se baseia na criação de corredores de ônibus, que eles chamaram de BRT (Bus Rapid Transit) e que o prefeito Eduardo Paes já está chamando de ‘TransCarioca’. Trata-se de um corredor exclusivo, que em Curitiba é chamado de ‘Ligeirinho’ e em Bogotá de ‘Transmilênio’, um corredor com um desempenho próximo, mas ainda inferior, ao do metrô de superfície.

A proposta apresentada ao COI previa algumas novas linhas destes corredores de ônibus. A principal, que chama T-5, liga a Barra da Tijuca à Penha. Há outra que liga a Barra da Tijuca à Arena Deodoro, no bairro de Deodoro, que também receberá os jogos olímpicos. E está previsto ainda um BRT na Avenida Brasil, substituindo o caos de ônibus que existe lá hoje, também passando por Deodoro e chegando até o Maracanã.

Resumindo, o projeto permitiria uma ligação por meio de corredor de ônibus exclusivo entre todas essas áreas. Uma das hipóteses que foi levantada, inclusive, é que em algumas dessas avenidas as faixas para carros de passeio pudessem ser pedagiadas e o corredor fosse construído por meio de uma Parceria Público-Privada.

Esse projeto todo teria um custo de aproximadamente 5 bilhões de reais, dos quais uma parte já está hoje garantida no PAC da mobilidade, que é o corredor T-5. Acontece que nessa semana já se começa a falar no Rio de Janeiro de, em vez de fazer um corredor de ônibus de Ipanema até a Barra, se trabalhar com a extensão da linha do metrô. O que evidentemente torna o projeto muito mais caro e as perspectivas de realizá-lo um pouco menos evidentes.

Também já começou a desaparecer, na proposta que acabou de ser recolocada pela prefeitura, o corredor exclusivo de ônibus na Avenida Brasil, que a meu ver seria algo absolutamente fundamental.

Moral da historia. A única coisa que parece ser líquida e certa é o corredor que vai da Barra da Tijuca até a Penha, ligando esses espaços dos jogos olímpicos. Este sim está reafirmado, e estão estudando o que vai da Barra até a Arena Deodoro. No mais, a ver.

Qual é o problema disso tudo? Planejamento é planejamento. Uma vez planejado, a gente pega e implementa. Fazendo assim, reabrindo as discussões a todo momento, muito dificilmente teremos essas obras implementadas na sua totalidade, com controle do gasto público, até a data prevista, que é 2016.

Mas lembro também que esse não é todo o projeto de mobilidade do Rio. Há também melhorias no sistema de subúrbio e extensões de metrô já previstas e em obras, como até Ipanema e novas interligações, que também fazem parte da proposta do Rio de Janeiro.

O jornal carioca “O Dia” preparou dois infográficos sobre o projeto de corredores de ônibus. Estão disponíveis aqui e aqui.

Centro da Olimpíada será na Barra e moradores de favelas estão apavorados com projeto de remoção

Vamos falar um pouco sobre o plano básico para a Olimpíada de 2016, como as regiões do Rio de Janeiro serão afetadas e os principais desafios para a implementação das mudanças de infra-estrutura na cidade.

Todos nós estamos torcendo para que o Rio aproveite ao máximo essa oportunidade, para que possa não apenas acolher os jogos olímpicos com qualidade e organização, mas também promover mudanças importantes na cidade maravilhosa, para que ela possa ficar mais maravilhosa ainda e enfrente seus problemas, que não são poucos.

As obras para os jogos olímpicos vão tomar lugar principalmente na região da Barra da Tijuca. Para quem não conhece o Rio, seguindo pelo litoral, há Copacabana, Ipanema, Leblon e, depois, chega-se na Barra.

Do ponto de vista urbanístico, a Barra da Tijuca funcionou como uma espécie de zona de expansão urbanística da zona sul, com o mesmo tipo de uso, grupo social e produto imobiliário dessa região, embora ela se situe mais a oeste. Antes dessa grande expansão imobiliária, já havia ali o Rio Centro, uma área de convenções.

Vários equipamentos esportivos e a Vila Olímpica serão construídos ali na Barra. Mas como isso será feito?

A Vila Olímpica é um projeto privado, em um terreno privado, de uma construtora, com financiamento garantido pelo governo federal. Essa construtora fará os apartamentos que serão utilizados durante a Olimpíada e depois eles serão vendidos no mercado. Um modelo semelhante ao adotado na Vila do Pan.

Temos algumas questões que precisam ser enfrentadas na Barra. Primeiro é a questão do saneamento. Por incrível que pareça, a Barra, vendida como lugar chique, bacana e etc, até hoje não tem rede de esgoto. É um lugar que precisa melhorar muito do ponto de vista ambiental.

A segunda questão é a mobilidade para chegar na Barra, que hoje é complicada, congestionada, difícil.

Mas vou focar em outro assunto. A Barra é hoje um dos lugares do Rio com mais apartamentos vazios,  construídos mas não ocupados. E isso significa um desafio enorme sobre como esses apartamentos da Vila Olímpica serão vendidos. É uma quantidade muito grande, será que tem mercado para isso? Não irá virar um lugar fantasma depois dos jogos? São indagações necessárias.

Também há naquela região mais de 20 favelas instaladas. Todas estão neste momento absolutamente apavoradas com a perspectiva de remoção, já que o projeto apresentado para as Olimpíadas propõe a retirada de várias comunidades, como Pedra Branca, Restinga, Cortado, Vila do Autódromo e Canal do Anil.

Na época do Pan já havia a proposta de retirá-las. Mas elas resistiram, inclusive judicialmente, defendendo seu direito de permanecer lá e muitas acabaram não saindo. Agora isso será novamente colocado.

É uma questão delicada, que precisa ser tratada com muito carinho, pois qualquer remoção implica, do ponto de vista do direito daquelas pessoas, em um reassentamento adequado, para que na prática não acabem surgindo outras favelas.

*O jornalista Luis Megale acrescentou outra informação. Metade dos apartamentos construídos para a vila dos Jogos Pan-americanos está desocupada. Não são apartamentos caros, ficam na região de Jacarepaguá, custam pouco mais de 100 mil reais, mas nem metade foi vendida.

Olimpíada é oportunidade para o Rio superar seus problemas, mas obras precisam ser debatidas

Esta semana discutirei na coluna Nossa Cidade os desafios da cidade maravilhosa para se preparar para os jogos olímpicos de 2016.

Como a maior parte da população, também estou comemorando a escolha do Rio como cidade olímpica, porque isso representa para a cidade uma oportunidade muito importante de superação de seus problemas e mazelas, se souber utilizar.

Mas os comentários na imprensa só estão preocupados com a questão do superfaturamento, corrupção e malversação dos recursos públicos. Evidentemente, isso é uma preocupação legítima, mas está longe de ser a única.

Devemos nos preocupar também com o conteúdo do que será feito. Porque está parecendo que não importa o que será feito, mas apenas que os recursos sejam gastos de forma correta, sem roubar.

Porém a discussão necessária é exatamente o que será realizado em termos de obras e investimentos. Se são as melhores opções e quais serão suas conseqüências.

Eu começo, por exemplo, levantando uma questão que me preocupou bastante na apresentação do Rio de Janeiro. Não a mostrada em Copenhagen, mas um vídeo promocional que o Rio soltou logo no começo da disputa, no qual – e todos podem ver isso no Youtube –  os morros do Rio com favelas aparecem simplesmente pintados de verde, como se as favelas não existissem.

Acho que uma boa política para pensar a Olimpíada no Rio é partir dos verdadeiros desafios que a cidade tem, e planejar como ela pode ser mobilizada para enfrentá-los.