Avança consenso em São Paulo sobre prioridade para transporte coletivo, pedestres e ciclistas

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Fernanda Ligabue/Flickr

A Rede Nossa São Paulo apresentou recentemente sua pesquisa anual sobre Mobilidade Urbana. O estudo é divulgado desde 2008 durante a semana do Dia Mundial Sem Carro. Trata-se de uma pesquisa sobre a percepção dos moradores da capital paulista sobre vários aspectos e políticas urbanas, realizada através de entrevistas com uma amostra distribuída regionalmente, por idade, gênero e renda.

Como toda pesquisa de percepção, esta tem de ser interpretada com cuidado.  O “esgoto”, por exemplo, aparece apenas como 12ª problema de São Paulo no estudo, apesar de menos de 20% do esgoto coletado da cidade ter algum tipo de tratamento. Em São Paulo, rios e córregos são super poluídos e esse é, sem dúvida, um grande problema. Mas, como temos uma rede de coleta que cobre quase toda o município, os moradores não o “percebem” como um problema fundamental, na medida em que ele é retirado de suas casas.

De qualquer forma, a pesquisa possibilita uma leitura importante de como os moradores se relacionam com vários temas, especialmente os relacionados à mobilidade. O que me parece mais relevante na leitura dos resultados é a adesão crescente à ideia de que a cidade não pode mais depender dos automóveis para circular e que para isso, o transporte coletivo e os chamados “modos ativos” de circulação – os pés e bicicletas – devem ser priorizados.

Entre os motoristas que usam o carro diariamente ou quase todos os dias, 90% são favoráveis à construção de faixas e corredores exclusivos de ônibus. Quando se ouve também quem usa prioritariamente o transporte público, a porcentagem de apoio aos corredores sobe para 92%. Da mesma forma, 76% das pessoas consultadas são favoráveis ao uso exclusivo de ruas e avenidas por pedestres. Os congestionamentos, antes considerados o quarto maior problema da cidade, caíram em relevância e agora representam o sexto maior incômodo na capital paulista, segundo a pesquisa.

Outro resultado importante é a percepção de melhora em praticamente todos os parâmetros adotados para avaliar os serviços de locomoção. O nível de satisfação com o número de faixas de pedestres na cidade, que em 2008 registrava nota 4,5, agora aparece com 5,5. A atuação das autoridades na prevenção de acidentes no trânsito passou de um nível de satisfação de 4 em 2014 para 4,4 em 2016. Apesar de estarem longe de serem considerados satisfatórios, os índices demonstram que há um reconhecimento da população sobre os avanços nessas frentes. Até em medidas mais controversas como a redução de velocidade nas vias expressas o nível de aprovação aumentou, passando de 43% para 47%.

Certamente isso tem a ver com o fato de que o tempo gasto em deslocamento em São Paulo não é muito diferente para quem se locomove de ônibus e quem conta com um veículo particular. A média geral de quem usa o transporte coletivo todo dia ou quase todo dia é de 2h12 minutos, enquanto que, para quem usa carro com a mesma regularidade, o tempo médio é 1h59. Entretanto essa aparente “democracia”, na verdade, esconde que quem está nas periferias, ainda que tenha adquirido carro nos últimos anos, continua fazendo deslocamentos maiores e mais demorados do que quem vive próximo ao centro.  Continua a desigualdade de renda marcando a qualidade da mobilidade. Quanto menor a renda– de carro ou ônibus – maior o tempo de deslocamento.

De acordo com a pesquisa, a saúde é principal desafio de São Paulo. Aqui também é necessário cuidado para interpretar esse resultado: muitos relacionam o dado à falta de equipamentos de atendimento, como hospitais e postos. Mas algumas das muitas doenças recorrentes da nossa cidade estão relacionadas com o trânsito, como as respiratórias provocadas ou intensificadas pela poluição atmosférica.  A baixa qualidade do ar de São Paulo aparece na própria pesquisa de percepção como um dos principais problemas da cidade. Entre os entrevistados, 64% relataram ter doenças relacionadas à poluição do ar. Nos anos 70 esse tipo de poluição tinha origem industrial, hoje ela é quase exclusivamente causada pelos carros, caminhões, ônibus e motocicletas. Isso sem contar os problemas traumatológicos decorrentes de acidentes e as doenças produzidas pelo estresse dos tempos e formas de deslocamento – horas passadas em ônibus e trens lotados.

Finalmente, os resultados da pesquisa apontam que 42% dos entrevistados pretendem participar do Dia Mundial Sem Carro nesta quinta-feira, dia 22. Mais que isso, 51% dizem que deixariam seu veículo na garagem sempre, se tivessem uma boa alternativa de transporte público. Parece que a cidade já começa a entender as vantagens de reduzir o uso do carro para se deslocar.

Publicado originalmente no Portal Yahoo!

Dia Mundial Sem Carro, com muito congestionamento

No Dia Mundial Sem Carro, celebrado no último sábado, 22 de setembro, a cidade de São Paulo registrou trânsito acima da média. O fato é que enquanto o transporte coletivo de massas realmente não for uma prioridade concreta, e enquanto houver políticas de promoção do uso do automóvel (via redução de IPI, por exemplo), que impulsionam a compra de carros sem parar, dificilmente abandonar o carro será uma opção individual para os moradores de São Paulo.

Confira abaixo algumas imagens do dia publicadas pela imprensa.

Nelson Antoine/Fotoarena/AE

Levy Ribeiro/BrazilPhotoPress/AE

Paulo Liebert/Agência Estado/AE

Paulo Liebert/AE

No Dia Mundial Sem Carro, estudo do Ipea mostra os impactos do aumento de veículos na saúde e no meio ambiente

A grave crise de mobilidade urbana pela qual o Brasil passa tem consequencias não apenas na circulação de pessoas, mas também na saúde de toda a população e no meio ambiente. É o que mostra o comunicado “Poluição veicular atmosférica”, divulgado hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como parte das mobilizações em torno do Dia Mundial Sem Carro.

De acordo com o estudo do Ipea, nos últimos 15 anos aumentou o transporte individual motorizado no Brasil, enquanto houve uma redução no uso do transporte coletivo, “o que, do ponto de vista da eficiência energética e ambiental, é uma tendência bastante preocupante”. Segundo o estudo, o número de automóveis cresceu 7% ao ano e o de motocicletas, 15% , ao passo que a demanda por transporte público caiu cerca de 30%.

O comunicado do Ipea aponta ainda que, entre 1980 e 2009, “as emissões de CO2 cresceram, em média, a uma taxa de 3,6% ao ano, mas as previsões indicam que esse crescimento passe para 4,7% ao ano de 2009 a 2020, muito em função da tendência de aumento vertiginoso da frota de veículos automotores no país”.

Para ler o documento completo, clique aqui.

Neste dia, em que, mais do que deixar o carro em casa, somos chamados a refletir sobre essas questões, me chamam a atenção algumas alternativas que vêm sendo pensadas para incentivar o uso de transporte não motorizado, como a bicicleta – hoje, por exemplo, foi inaugurada uma ciclorrota entre a estação Butantã do metrô e a USP.

Medidas como essa são bem-vindas, mas estão longe de constituir uma política de mobilidade. A ciclorrota que sai da estação Butantã, por exemplo, chega apenas até o portão 1 da USP. Além disso, o número de bicicletas disponíveis para empréstimo na região – 10 no bicicletário da estação e 4 no programa Pedalusp – é ínfimo para atender a população que circula diariamente não só na cidade universitária, mas em todo o bairro. Desta forma, a medida parece muito mais um factóide do que uma política pública para incentivar de fato o uso da bicicleta.

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Desde a última sexta-feira, está acontecendo em São Paulo a Semana da Mobilidade. Além do Dia Mundial Sem Carro, tradicionalmente celebrado no dia 22 de setembro, a programação da semana inclui seminários, oficinas, intervenções, exibição de filmes, entre outras atividades.

A Semana da Mobilidade segue até o próximo sábado, dia 24, e terminará com a manifestação “A Cidade é Nossa: Passeata pelo Plano de Mobilidade Sustentável de São Paulo”, com concentração às 15h, no vão do Masp, na Avenida Paulista.

Para ver a programação completa e demais informações, acesse: http://dmscsp.blogspot.com/

Leia abaixo a Carta-Manifesto da Semana:

São Paulo é refém. Refém de uma lógica que privilegia o particular sobre o público. Que prioriza o transporte individual sobre o coletivo. Que tira dos cidadãos o direito de escolher como se locomover. Que transforma as pessoas em prisioneiros de bolhas de falso conforto. Que limita nossa possibilidade de viver a cidade.

Mas São Paulo é nossa. A cidade é nossa. E vamos retomá-la, uma esquina por vez, uma rua por vez. Queremos um plano de mobilidade que respeite todos os cidadãos. Demandamos participar da construção de nossa mobilidade, de nossa cidade. Um plano que contemple transporte de qualidade, com tarifa justa e durante as 24 horas do dia. Que nos leve onde precisamos ir e quando precisarmos ir. Um plano que priorize o transporte público e valorize a acessibilidade. Que fiscalize a legislação que protege a todos, que eduque para a cidadania no trânsito. Por um trânsito que não seja competitivo e sim cooperativo. Afinal somos todos pedestres e todos estamos em trânsito. Todos saímos, chegamos e vivemos a cidade.

Essa jornada já começou e não vai parar. Sairemos de nossas bolhas em direção à Avenida Paulista, onde transformaremos o símbolo da nossa cidade no símbolo da mudança. Onde iremos espalhar nossas demandas e nossas esperanças na forma de bolhas de sabão. Venha com a gente retomar a cidade. Ela é nossa. Saia da sua bolha e traga bolhas de sabão. Caminhar é preciso!

Que tal deixar o carro em casa amanhã?

O Dia Mundial sem Carro é um movimento que teve início na França no ano de 1997 por iniciativa de um grupo de profissionais ligados à questão do transporte e da mobilidade. Eles alertavam para a gravidade da dependência das pessoas em relação ao automóvel e as conseqüências ambientais do seu uso.

O próprio tema do congestionamento emergiu naquele momento na França de maneira bastante forte. Desde então, temos o dia 22 de setembro como dia de mobilização e nesta quarta-feira teremos mais um momento para que em todas as cidades do mundo sejam pensadas alternativas de mobilidade sustentável.

No Brasil, a data é celebrada desde 2003 e muitas prefeituras inclusive participam das iniciativas. Neste ano, por exemplo, a prefeitura do Rio de Janeiro está bastante engajada, propondo várias atividades. Já em São Paulo a prefeitura não está participando, e com isso o evento aqui é organizado por uma articulação entre ONG’s e associações da sociedade civil.

Acho que todos nós percebemos como o uso da bicicleta tem crescido, não só na cidade de são Paulo, mas em outras cidades brasileiras e do mundo. No ano passado, a discussão sobre o clima evidenciou muito claramente os limites do uso de automóveis com queima de combustível e suas consequências com relação ao efeito estufa. Parece, portanto, que essa pauta voltou com muita força.

E não se trata apenas de uma pauta relacionada à questão ambiental, mas também de possibilidades de mobilidade. Ou seja, o que temos no Dia Mundial sem Carro é, basicamente, um dia de conscientização. A proposta inicial é: o que vai acontecer se ninguém usar o carro no dia 22 de setembro? As pessoas terão que circular de transporte coletivo, de bicicleta ou a pé.

Mas nós nunca conseguimos experimentar isso totalmente nas nossas cidades, apenas parcialmente, em alguns lugares de cidades que pararam ou fecharam algumas áreas para o trânsito de automóveis. O fato é que não experimentamos ainda a sensação de circular numa cidade livre de carros. Fica o desafio: que tal deixar o carro em casa amanhã?

Amanhã, aqui em São Paulo, vão acontecer duas bicicletadas, uma saindo da Praça da Liberdade, e outra da Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, ambas às 18h. No Rio de Janeiro também vão acontecer vários eventos, como por exemplo, o regime especial de zonas trinta, no qual em nove bairros os carros só poderão circular a no máximo 30Km por hora. Haverá programação também em outras cidades do Brasil.