Somos tod@s Clara: assistir ao filme Aquarius para pensar as cidades brasileiras

aquarius_divulga

Nada como o cinema para falar das coisas mais difíceis diretamente para a alma das pessoas. E nada como um grande filme, merecedor inconteste do Oscar e outros troféus, para conseguir colocar o dedo em praticamente todas as feridas que assolam o país e seus habitantes com graça, sutileza e delicadeza. Meu comentário desta semana na Rádio USP foi sobre o filme Aquarius.

Um dos aspectos mais interessantes tratados na obra do diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho é o valor dos lugares. O valor econômico, o dinheiro que o lugar pode gerar, é o único valor possível? A resistência da personagem Clara, interpretada por Sônia Braga, em vender seu apartamento na praia de Boa Viagem, em Recife (PE), traz justamente esses outros valores que também estão presentes no lugar e que podem e devem ser levados em consideração na cidade.

Para além do tema do capital imobiliário, sua força e métodos, o filme também problematiza nossas cidades divididas. A capital pernambucana foi uma das primeiras do país a reconhecer assentamentos precários, trazendo-os para dentro do Plano Diretor por meio da demarcação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). O mecanismo prometia integrar esses territórios à cidade de maneira definitiva. Mas no filme fica evidente que entrar na comunidade Brasília Teimosa, que fica ao lado da praia de Boa Viagem, ainda é avançar sobre um muro, metaforizado como o esgoto a céu aberto que os personagens têm de atravessar.

Ouçam a íntegra do meu comentário no site da Jornal da USP e não deixem de assistir ao filme!

Mais um bom programa: ver e sentir a cidade através dos clássicos do cinema

Para as indicações de hoje, escolhi três filmes clássicos do cinema mundial em que as cidades cumprem importante papel. São títulos que vale a pena ver e rever muitas vezes na vida, não só nas férias. Segue abaixo um pequeno resumo sobre cada um:

1. Rio 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos
O filme acompanha um domingo na vida de cinco garotos pobres que vendem amendoim nas praias do Rio de Janeiro. O corcovado, o Pão de Açucar, as praias e o Maracanã são alguns dos cenários que compõem a paisagem. De estética realista, marcadamente documental, o filme é um marco da nossa cinematografia.

2. Roma (1972), de Federico Fellini
A cidade eterna – seus tipos, suas cores, suas ruas, seus hábitos – é aqui sem dúvida a principal personagem. Com uma narrativa não-linear, sobrepondo tempos do passado e do presente, Fellini conseguiu construir um filme intenso, de cores fortes, apresentando um olhar peculiar sobre a cidade.

3. Manhattan (1979), de Woody Allen
A abertura do filme (abaixo) é considerada uma das mais bonitas da história do cinema. Filmada em preto e branco, a Nova York de Woody Allen é o cenário para as reflexões de seus personagens sobre os relacionamentos humanos, a filosofia e a sociedade.