Rio de Janeiro: campeão olímpico em preços de imóveis?

Ao que parece, o tema da escalada dos preços dos imóveis no mercado imobiliário do Rio de Janeiro entrou definitivamente na agenda, ao menos nas temáticas consideradas relevantes pelo núcleo de novelas da Rede Globo… Há exatamente um ano, Carol, a personagem de Camila Pitanga na novela “Insensato Coração”, enfrentou um problemão na hora de alugar um apartamento na zona sul do Rio. Os altos preços dos imóveis, causados pelo boom do mercado imobiliário, quase viraram motivo de crise conjugal entre Carol e André, o personagem de Lázaro Ramos.

Agora é a vez de Monalisa, personagem vivida por Heloísa Périssé em “Avenida Brasil”, de passar pela mesma situação. No capítulo desta terça-feira (30), a cabeleireira suburbana visitou o apartamento que pretende comprar na zona sul e quase caiu pra trás quando ficou sabendo o valor do imóvel: “Milhões? No plural? Por umas paredes e um piso de madeira velha?”. O que Monalisa não sabe é que o boom do mercado imobiliário está diretamente ligado à explosão de investimentos e ao marketing em torno da cidade do Rio de Janeiro, catapultados pela Copa e Olimpíadas, além de também refletir, como em outras cidades brasileiras, condições mais gerais do país, como a abundância de crédito habitacional e o crescimento econômico.

Em 2011, o mercado imobiliário na cidade do Rio de Janeiro teve um aumento de 44% em relação ao ano de 2010, foi o maior aumento do setor no país. Entre 2001 e 2010, este aumento chegou a 700%. Em declaração à imprensa, o Sindicato da Indústria da Construção no Rio de Janeiro (Secovi-RJ) avalia que “os preços tendem a se estabilizar, mas não vão descer de patamar”.

Este boom imobiliário é mais intenso justamente nas áreas que são objeto de investimentos para a preparação da cidade para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016: de acordo com o Secovi, bairros como Barra da Tijuca, centro, Deodoro, Jacarepaguá, Maracanã e Tijuca tiveram as mais altas valorizações do mercado por conta de sua proximidade com os locais de competição. O corredor olímpico, entre a Barra da Tijuca e o Recreio, valorizou 50% em 2010, concentrando o maior número de lançamentos de imóveis.

Eu diria ainda que, com a aproximação da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, é possível que a situação piore. Aliás, atualmente, o que mais ouvimos quando algo vai mal — nos aeroportos, nos congestionamentos ou nos trens superlotados, por exemplo — é: “imagina na Copa e nas Olimpíadas?”. Parece que a piada serve também para o mercado imobiliário carioca… que, basicamente, em 2016, poderá apresentar dois cenários: alcançar patamares nunca antes atingidos na história deste país, ou estar vivendo o chamado bust, ou a crise, amarga, que vem depois do boom. É o que hoje estamos vendo acontecer nos EUA e na Espanha…

Texto originalmente publicado no Yahoo!Blogs.

Lixão de “Avenida Brasil”: realidade ou ficção?

Em “Avenida Brasil”, novela do horário nobre da Globo, o público vem acompanhando o drama amoroso de Nina e Jorginho, cujo cenário é um lixão do Rio de Janeiro. Até cena de amor os personagens de Débora Falabella e Cauã Reymond já viveram no local. Seria o lixão de Nina e Jorginho (ou Rita e Batata) ficção ou realidade?

Infelizmente, nem mesmo na Cidade Maravilhosa os lixões são ficção de novela. Recentemente foi anunciado o fechamento do lixão do Jardim Gramacho, o maior da América Latina, muito conhecido por conta do documentário “Lixo Extraordinário”. Finalmente a montanha de lixo de 60m de altura que ocupa uma área de 1,3 milhão de metros quadrados sairá da paisagem do Rio de Janeiro, dando fim ao desastre ambiental que vem causando há varias décadas. Durante mais de 30 anos, todo o lixo produzido na capital fluminense e em mais quatro cidades foi jogado ali.

Os mais de 1.200 catadores que trabalham no lixão do Jardim Gramacho estão preocupados com o futuro, já que é daquele lugar que eles tiram o seu sustento e de seus familiares. No total, mais de 13 mil pessoas moram na área, que depende economicamente do lixão. Com toda razão, eles esperam que o fechamento só aconteça depois que todos os catadores forem indenizados e as condições de sobrevivência econômica sejam asseguradas. Em São Gonçalo, trabalhadores do lixão de Itaoca, que foi fechado em fevereiro, reclamam não ter recebido a indenização que os catadores do Jardim Gramacho receberão e se encontram em situação pior do que a que tinham quando catavam no lixão: sem casa nem sustento.

Em todo o Brasil, do total de 5.565 municípios, mais de 4.400 (80%) ainda têm lixões. Em Brasília, por incrível que pareça, ainda está em funcionamento o lixão da Estrutural, surgido na década de 1960 logo após a inauguração da cidade. Uma das metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010 pela Lei 12.305, é justamente acabar com os lixões em todas as cidades do país. O prazo estabelecido para isso está perto: é 2014. Os dois casos que eu comentei, no entanto, mostram que o processo de desativação de lixões é complexo, com impactos não apenas ambientais, mas também econômicos e sociais.

“Avenida Brasil”, em que pesem as licenças poéticas da vida no lixão e a visão estereotipada do subúrbio carioca, tem ao menos o mérito de deslocar da telinha o entediante mundo repetitivo da zona sul e mostrar uma realidade pouco vista nas novelas.

Originalmente publicado no Yahoo!blogs.

Projeto de mobilidade para Olimpíada no Rio investe em corredores de ônibus

Farei alguns comentários sobre a proposta de mobilidade para a Olimpíada. Um dos pontos fortes do projeto apresentado ao comitê olímpico foi o seu realismo. Ele se baseia na criação de corredores de ônibus, que eles chamaram de BRT (Bus Rapid Transit) e que o prefeito Eduardo Paes já está chamando de ‘TransCarioca’. Trata-se de um corredor exclusivo, que em Curitiba é chamado de ‘Ligeirinho’ e em Bogotá de ‘Transmilênio’, um corredor com um desempenho próximo, mas ainda inferior, ao do metrô de superfície.

A proposta apresentada ao COI previa algumas novas linhas destes corredores de ônibus. A principal, que chama T-5, liga a Barra da Tijuca à Penha. Há outra que liga a Barra da Tijuca à Arena Deodoro, no bairro de Deodoro, que também receberá os jogos olímpicos. E está previsto ainda um BRT na Avenida Brasil, substituindo o caos de ônibus que existe lá hoje, também passando por Deodoro e chegando até o Maracanã.

Resumindo, o projeto permitiria uma ligação por meio de corredor de ônibus exclusivo entre todas essas áreas. Uma das hipóteses que foi levantada, inclusive, é que em algumas dessas avenidas as faixas para carros de passeio pudessem ser pedagiadas e o corredor fosse construído por meio de uma Parceria Público-Privada.

Esse projeto todo teria um custo de aproximadamente 5 bilhões de reais, dos quais uma parte já está hoje garantida no PAC da mobilidade, que é o corredor T-5. Acontece que nessa semana já se começa a falar no Rio de Janeiro de, em vez de fazer um corredor de ônibus de Ipanema até a Barra, se trabalhar com a extensão da linha do metrô. O que evidentemente torna o projeto muito mais caro e as perspectivas de realizá-lo um pouco menos evidentes.

Também já começou a desaparecer, na proposta que acabou de ser recolocada pela prefeitura, o corredor exclusivo de ônibus na Avenida Brasil, que a meu ver seria algo absolutamente fundamental.

Moral da historia. A única coisa que parece ser líquida e certa é o corredor que vai da Barra da Tijuca até a Penha, ligando esses espaços dos jogos olímpicos. Este sim está reafirmado, e estão estudando o que vai da Barra até a Arena Deodoro. No mais, a ver.

Qual é o problema disso tudo? Planejamento é planejamento. Uma vez planejado, a gente pega e implementa. Fazendo assim, reabrindo as discussões a todo momento, muito dificilmente teremos essas obras implementadas na sua totalidade, com controle do gasto público, até a data prevista, que é 2016.

Mas lembro também que esse não é todo o projeto de mobilidade do Rio. Há também melhorias no sistema de subúrbio e extensões de metrô já previstas e em obras, como até Ipanema e novas interligações, que também fazem parte da proposta do Rio de Janeiro.

O jornal carioca “O Dia” preparou dois infográficos sobre o projeto de corredores de ônibus. Estão disponíveis aqui e aqui.