Matéria publicada hoje na Folha Online mostra como os paulistanos ocuparam este ano o Minhocão como área de lazer e eventos, entre os quais a Virada Gastronômica, o Festival Baixo Centro, o carnaval e a Meia Maratona Internacional de São Paulo.
A construção do Minhocão fez parte de uma série de intervenções urbanísticas da cidade através de vias expressas para garantir as conexões leste-oeste e norte-sul que cortam o centro, viabilizando a abertura de frentes de expansão imobiliária das classes médias, baseadas nos deslocamentos por automóvel.
A abertura destas vias rasgou diversos bairros residenciais centrais, gerando verdadeiras cicatrizes… É o caso do Minhocão na Avenida São João, que era espaço residencial de alta qualidade, e também do bairro da Bela Vista, de um pedaço da Liberdade… tudo isso para que os carros pudessem circular mais rapidamente.
A transformação do minhocão em área de lazer permanente – hoje isto ocorre apenas aos domingos e feriados – ou até mesmo sua demolição, como querem alguns, depende basicamente de um equacionamento da mobilidade urbana que dispense a necessidade destas vias expressas para os automóveis. Hoje em dia, do jeito que São Paulo está, não dá para simplesmente demolir o minhocão ou passar a utilizá-lo como área de lazer permanente. Para que isso seja possível, precisamos de um projeto de mobilidade mais integrado e mais completo para a cidade de São Paulo.
A ideia de afundar a calha dos trilhos da CPTM entre a Lapa e a Mooca criaria um espaço para uma via expressa que ligaria a ZL à ZO. Digo isto pensando somente no ponto de vista do fluxo viário. Moro na Vila Buarque, e garanto que se distribuíssem marretas para todos os moradores, o minhocão estava no chão em 2 dias! Mas apesar desse ódio dos moradores, existem 2 fatores importantes que devem ser equalizados: 1 – a área de lazer, que além da opção do minhocão (que é uma opção horrível), não há outra na região, visto que o Pq. D. Pedro II é um mar de viadutos e o vale do anhangabaú não tem um caráter de prática de esporte; 2 – a especulação imobiliária, que em uma possível demolição jogaria o preço dos imóveis na área (altamente residencial) para os céus! Visto o que ocorre hoje na Praça Roosevelt.
Agora vem a outra questão… para quem se quer demolir ou alterar a utilização do minhocão??? Pq a demolição abriria mais uma frente para a especulação imobiliária, tanto dos imóveis usados quanto para a construção de novos empreendimentos. Higienópolis já faz pressão nos Campos Elíseos, sem o minhocão isso só seria mais rápido. É possivel evitar essa esperada valorização do centro, talvez não. A utilização do minhocão como espaço de lazer criaria um espaço mais democrático, poderia se dizer um novo parque do ibirapuera? Com a “elite” utilizando durante a semana e o “povão” invadindo no final de semana, talvez… Toda (re) qualificação gera valorização, e toda valorização gera gentrificação, pois carecemos de espaços públicos e infraestrutura de qualidade, todas elas são disputadas a tapas ($). Por isso que o centro irá se valorizar, pois possui infraestrutura e se quer adicionar qualidade de vida a ele. Sem uma política para manter a população que hoje existe lá, ele será outro daqui alguns anos. Se essa mudança é para melhor, depende muito dos olhos de quem vê.
Olá, Raquel e demais comentaristas,
Gostaria compartilhar o maravilhoso projeto de Juliana Corradini e José Alves sobre soluções para o Minhocão.
O projeto venceu um concurso de 2006, venceu a 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e foi exposto na 10ª Bienal de Veneza.
Não deixem de visitar: http://www.arqbacana.com.br/arq!sobrou/FRENTES+ARQUITETURA
Um abraço
Olá… Acho que a intervenção uma vez feita, tornou muito difícil, senão impossível voltar a trás, sem trazer novos problemas meio insolúveis. As interligações entre as regiões Oeste e o restante da cidade seria gravemente afetada. Partiríamos então para um túnel como uma nova opção, algo muito caro e de difícil realização. Talvez um estudo de “retrofit” nas edificações vizinhas, com projetos de maior humanização nos prédios que foram os maiores atingidos.
Att.
Será que se naquela época a imprensa fosse livre o Minhocão seria construído ? Símbolo da ditadura, é uma aberração arquitetônica, querem transformar em parque até o momento em que jogarem um cidadão de cabeça na avenida lá embaixo, quem vai garantir a segurança dos frequentadores ? , “DEMOLIÇÃO JÁ”, não precisa nem pensar, embaixo dele é local mais ermo e inóspito que conheço em São Paulo, seria lindo ver uma bela avenida com canteiro central arborizado no lugar deste viaduto.