Na semana passada recebi um e-mail da Clara, estudante do mestrado em desenvolvimento urbano da UFPE, sobre as mobilizações que estão acontecendo no Recife em torno de um mega-projeto imobiliário na região do cais José Estelita, que vem sendo chamado de projeto Novo Recife. Ela conta que na próxima quinta-feira, dia 22, será realizada uma audiência pública sobre o assunto, às 9h, no plenarinho da Câmara dos Vereadores e que mobilizações contra o projeto vêm ganhando força em redes sociais como o Facebook e através de um abaixo-assinado na internet. Pra quem não conhece essa história, um terreno de mais de 100 mil m², pertencente à União, foi leiloado em 2008 e arrematado por um grupo de empresas que hoje pretende construir na área torres residenciais e comerciais de luxo.
Mas a história é bem mais antiga. Desde pelo menos 2003, as prefeituras do Recife e de Olinda já vinham conversando sobre o Complexo Turístico Cultural Recife e Olinda, que, entre outras intervenções, envolveria um projeto na frente marítima que articula/divide as duas cidades. O governo do Estado, por sua vez, a partir de uma das diretrizes de planejamento metropolitano formulada em 2002, contratou, via Porto Digital, a Expo-Lisboa (empresa pública portuguesa que desenvolveu e gere o projeto de expansão de Lisboa em antiga área porto-ferroviária) para pensar um projeto para a mesma área, uma região muito maior do que o cais José Estelita – toda a frente marítima entre Recife e Olinda, área que concentra muitos terrenos públicos subutilizados.
Como havia terrenos da União nas áreas que estavam sendo pensadas para o desenvolvimento do projeto, o governo federal foi chamado para disponibilizar suas áreas. Era 2005 e, nesta ocasião, eu era secretária de programas urbanos do Ministério das Cidades, e nós – ao invés de simplesmente ceder ou não as áreas – atuamos na articulação de outros órgãos do governo federal, como a Secretaria do Patrimônio da União e o Iphan, para todos juntos formularmos um projeto. Foi então criado um Grupo de Trabalho, envolvendo os dois municípios, o Estado de Pernambuco e a União, e aí começamos a discutir o que ficou conhecido como Projeto Urbanístico Recife/Olinda. Chegamos a assinar um convênio entre prefeitos, governador e ministros, e planejamos, inclusive, a criação de uma entidade gestora, que seria responsável pela implementação do projeto e a quem seriam repassados não apenas os terrenos da União, mas também os do governo do Estado de Pernambuco.
A base do projeto era a disponibilização de espaço público e de transporte público de qualidade, interligando as duas cidades, e estavam previstos, por exemplo, 1/3 de habitação popular nas novas áreas a serem construídas e recursos para a urbanização de todas as favelas contidas neste perímetro. Uma proposta inicial – não totalmente desenvolvida e ainda não sacramentada por todos os envolvidos – foi lançada para debate público. Em 2007, no entanto, após as eleições, o governo de Pernambuco mudou e a nova gestão simplesmente não deu continuidade ao projeto. Dois anos depois o mesmo se deu, desta vez no Recife.
Hoje, na minha avaliação, dois fatores terminaram por detonar a possibilidade de implementação do projeto: o governo do Estado, por um lado, resolveu se desfazer dos seus terrenos no perímetro do projeto, privatizando uma área onde hoje está sendo construído um mega shopping center, e o governo federal, por outro lado, decidiu leiloar o terreno da União no cais José Estelita, que foi arrematado pelas três empresas que hoje pretendem implementar na área o projeto Novo Recife, que nada tem a ver com o plano que estava em desenvolvimento e sua estratégia mais global e intersetorial de implementação. No fim das contas, prevaleceram as negociações bilaterais a portas fechadas, sem conversa nem entre os entes federativos, nem entre os diversos órgãos setoriais envolvidos que os compõem, nem muito menos com a população da cidade.
Como diz a Clara na mensagem que me enviou, “é chocante que uma intervenção ali destrua a história da paisagem e com fins privados tão restritivos como são essas construções de luxo. É chocante que um terreno que foi da União tenha este fim, considerando o déficit social profundo e em aprofundamento que existe na Região Metropolitana do Recife.” Com toda razão, portanto, as pessoas no Recife estão se mobilizando, contestando e discutindo, a fim de intervir nos rumos que está tomando essa que é uma área tão estratégica e tão especial da cidade.
Obrigada pelo apoio à nossa movimentação!! Nesse momento crucial, o respaldo de profissionais comprometidos com a democratização das cidades faz toda a diferença. Essa história está apenas começando e desconfio que não será fácil nem curta…
Um abraço,
Ana Paula Portella
Um dos textos que estão circulando nos grupos do Facebook sobre o projeto: http://jampapernambuco.wordpress.com/2012/03/14/algumas-consideracoes-sobre-o-projeto-novo-recife-por-leonardo-cisneiros/
Raquel, sua contribuição com este texto é muito importante para o nosso movimento contra o Projeto Novo Recife e contra o modelo de ‘desenvolvimento’ em curso que vem destruindo nossa cidade. Obrigada pela colaboração! Queremos o Recife para todos e todas, uma cidade para cidadãos e cidadãs que aqui vivem, com direito à moradia digna, transporte público de qualidade, saneamento básico, ciclovias, áreas verdes, parques e praças públicos, iluminação… Vamo que vamo!
Texto muito bom, bastante explicativo.
Admiro muito o seu trabalho e agradeço por essa importantíssima intervenção sua nessa nossa luta por um Recife melhor urbanizado, com espaços que consigam ser abraçados por todos os cidadãos. Espaços de inclusão e dentro da escala humana.
Obrigada!
Raquel,
Obrigada pelos esclarecimentos que vc faz a sociedade e ao movimento sobre as diferenças entre o Projeto Recife-Olinda e o Novo Recife. Amélia Reynaldo
Cara Amélia,
“O governo do Estado, por sua vez, a partir de uma das diretrizes de planejamento metropolitano formulada em 2002” escreve Raquel. Essa diretriz constava do Plano Metrópoles 2010 e referia-se aos “territórios de oportunidades” identificados na Região Metropolitana. O Projeto Capital (1999) já os havia reconhecidos no Recife e o Projeto Recife-Olinda (2005) concebido como multisetorial estruturava-se espacialmente nessa concepção de “territórios de oportunidades”
Afirmava o Projeto Capital (1999) :
“é preciso que se posicione a cidade com funções competitivas que lhe assegurem primazia em relação às realidades do Nordeste, do Estado de Pernambuco e da Região Metropolitana do Recife. Para tanto, há que considerar o novo paradigma de desenvolvimento nacional que apresenta, basicamente, duas variantes: uma, manifestada pela adesão incontinente ao paradigma mundial em curso, consubstanciado na globalização do capitalismo, na internacionalização financeira, na liberalização comercial e na integração macrorregional de mercados; outra, na perspectiva de um novo ciclo de crescimento sustentado para o país.” (RECIFE, Projeto Capital,1999)
Como esse ciclo de crescimento sustentado para o país chegou, podem ser concretizadas essas “oportunidades”, doravante reduzidas a oportunidades imédiatas para poucos agentes econômicos (os demais deverão esperar ser empregáveis) num modelo de desenvolvimento urbano que não leva em conta as externalidades negativas das atividades da construção civil sem regulação pública (vide o texto de Leonardo Cisneiros em http://jampapernambuco.wordpress.com/2012/03/14/algumas-consideracoes-sobre-o-projeto-novo-recife-por-leonardo-cisneiros/
Abraço
Jan
Caro Jean,
Nessa discussão do Projeto Novo Recife, sinto falta da abordagem de outras obras relacionadas, como a construção dos quatro viadutos na Agamenon Magalhães. Será que vão resolver o problema da mobilidade? Já imaginou o impacto urbanístico da obra? Viaduto é um equipamento feio que interfere na paisagem urbana em qualquer cidade do mundo. São solução, e até têm certa beleza,em estradas com uma perspectiva ampla em grandes espaços. Mas na cidade?! Sobretudo na nossa, com vias estreitas, mesmo a referida.
Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, estão querendo se livrar dos seus elevados( o minhocão e o elevado da perimetral respectivamente).
Quantos elevados existem dentro de cidades como Paris, Londres e Nova York?
Caro Jan,
O planejamento metropolitano que, em 2002, resultou no Metrópole Estratégica, foi uma importante experiência de planejamento democrático da cidade metropolitana do Recife. O Metrópole Estratégica foi elaborado conjuntamente pelos prefeitos e as equipes técnicas dos 12 municípios da RMR e teve como principal fórum de discussão o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (Conderm).
Deste ambiente de gestão compartilhada decorre a indicação dos territórios de oportunidade, recomendados para ser objeto de estudos capazes de subsidiar propostas de ordenamento socioespacial que conviessem às suas respectivas características. Entre os territórios indicados, destaca-se aquele que se estende da Colina Histórica de Olinda até o manguezal do Pina.
Estudos elaborados inicialmente pelos governos do Estado e municipais do Recife e de Olinda e, em seguida, acompanhados por vários ministérios, liderados pelo das Cidades permitiram que o Complexo Turístico Cultural Recife-Olinda avançasse no sentido de um modelo urbano e socioeconômico que atendesse aos principais objetivos abaixo relacionados.
Qualificaro centro da RMR com usos e espaços públicos;
Dotar a cidade metropolitana de importantes áreas livres e públicas;
Requalificar favelas e oferecer solo infraestruturado para a habitação, o comércio e os serviços populares,
Articular os 18 núcleos culturais existentes neste território.
A ideia norteadora, portanto,era tornar a área a porta de entrada do turismo cultural na RMR, colocando em prática a capacidade e a obrigação legal de planejar o solo urbano e o território pelo poder público.
A operação urbana contida no Complexo demonstra, por meio do modelo urbano – com índices de aproveitamento menores que os recomendados pelos atuais instrumentos normativos do Recife – e do modelo econômico propostos, que é possível o poder público planejar a cidade de forma contemporânea e com a participação do capital privado. A articulação destes dois modelos, além de garantir recursos com as despesas com os novos equipamentos públicos, espaços livres públicos, infraestrutura, etc. gera um superávit a ser aplicado na recuperação do patrimônio histórico e na melhoria da urbanização das favelas do entorno. Integram o Projeto Recife-Olinda as urbanizações da Comunidade do Pilar, Ilha do Maruim, ZEIS Santo Amaro e Milagres, todos os assentamentos ocupados por populações de baixa renda. A contribuição do Ministério das Cidades, através da arquiteta Raquel Rolnik, foi de fundamental importância para o desenho da inclusão social no projeto.
Portanto, essa articulação é um mecanismo de equidade e coesão urbana, possível quando agestão pública do projeto da cidade e do território põe em prática o instrumento da Operação Urbana Consorciada, definido pelo Estatuto da Cidade e previsto nos planos diretores do Recife e de Olinda. O Estatuto o define como “um conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo poder público municipal, com a finalidade de preservação, recuperação ou transformação de áreas urbanas contando com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados”, cujo objetivo “é alcançar, em determinada área, transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental.”
A adoção desse instrumento urbanístico evita, entre outros, que ocorram fenômenos, como os relatados por Marco Venturi (Seminário de Planejamento Territorial na Europa, 1994), sobre o caso das cidades italianas, a partir dos anos de 1980. Nessas cidades ocorreu o que ele define como “o período de ouro do urbanismo contratado, caracterizado pela passagem da utilização da transformação territorial das mãos pública para as dos grandes grupos econômicos. Formalmente, cabe à administração municipal a decisão final, mas esta não resulta do planejamento das necessidades municipais, mas como resposta de uma série de estímulos e pressão dos investidores privados. E ainda que se queira dar à operação uma aparência de normalidade, de fato se trata da subordinação institucionalizada do interesse público ao privado.”
A gestão pública do Complexo Turístico Cultural Recife-Olinda – além do visar o planejamento das necessidades e da vocação local e regional com vista à construção de uma maior equidade e coesão urbana, considerou a participação popular como elemento fundamental. Sobre este aspecto, vale ressaltar que os modelos urbano e econômico do Projeto em pauta previam ajustes decorrentes das discussões com a sociedade. Até o final de 2006, foram realizados dezessete seminários, dos quais resultou um dossiê de críticas e sugestões. O prosseguimento do projeto foi interrompido exatamente quando seria iniciada a etapa de ajuste em função do amplo e rico material obtido nas discussões com os vários segmentos da sociedade.
Lamentavelmente, a interrupção desse processo representou a entrega de parte do referido território de oportunidades ao setor imobiliário sem qualquer contrapartida que contribuísse para uma metrópole mais justa.
Cara Amélia,
Obrigado pela exposição do Projeto Recife Olinda (do manguezal do Pina até a Cidade Alta de Olinda). Ficou claro que se tratava no mínimo de um projeto intersetorial (abrangendo além das oportunidades imobiliárias as oportunidades culturais) e intersocial (tratando de alguns assentamentos de baixa renda que você listou – sem o Coque e a Vila Brasil, no entanto muito próximos do terreno da rede ferroviária).
Lendo seu texto, as hipóteses passam a ser:
1) o Projeto Recife-Olinda não teve sustentabilidade política
Mesmo ficando os dois municípios competentes no tocante ao uso do solo com os mesmos partidos no governo? houve mudança de governadores e de ministros da Cidade e isso foi decisivo no abandono do projeto?.
2) o Projeto Recife-Olinda em fase de conclusão não conseguiu interessar de verdade os proprietários e os investidores privados. Esses mais “pragmaticamente” e sem contapartida estavam respectivamente em busca de infraestruturas viárias viabilizando edificações em terrenos já apropriados e de terrenos para construir o que me pareceu já expresso no Projeto Capital de 1999?
Grande abraço
Jan
engraçado q na época da licitação não tinha ninguém reclamando… olhe sei não o povo protesta por qualquer coisa, aquela região é um NADA numa área muito NOBRE e em potecial da nossa cidade. Fazer obras ali trará desenvolvimento e infra-estrutura pro entorno, sem contar q certamente reviverá o centro comercial do recife e trará mais empresas… a galera quer oq? parques publicos naquele lugar esquisito todo do cais? só iria juntar drogado e sem teto… conjuntos residenciais populares? o recife dispõe de outras áreas para isso ( e a prefeitura está fazendo isso!) q não no cartão postal da cidade…
Concordo totalmente…
“é chocante que uma intervenção ali destrua a história da paisagem e com fins privados tão restritivos como são essas construções de luxo”.
Como assim?! que paisagem tem aquele cais todo obsoleto e perigoso? aposto que quem escreveu isso nunca foi caminhar no calçadão dali à noite para aproveitar essa paisagem… ¬¬ me poupe né pessoal, hipocrisia tem limite. Não entendo qual o problema de ter “construções de luxo” (que na verdade são apenas “torres residenciais e comerciais” – o adjetivo “luxo” utilizado pela escritora foi extremamente tendencioso e com tom depreciativo) naquele local, que certamente vai trazer desenvolvimento pra região.
Sinceramente, foi a primeira vez que vi uma crítica dessa a um projeto imobiliário em uma área TOTALMENTE INUTILIZADA…
Concordo com seus argumentos e só vejo benefícios para cidade.
Li o texto da Raquel e reitero o agradecimento por sua colaboração. Embora mesmo “pegando o bonde andando (o que é uma sensação ótima! Quem dera no Recife… rsrsrs)”, entro na conversa já deixando de lado (por concordar plenamente) as adjetivações ao que reivindicamos (uma cidade viva, com qualidade e para todos e todas etc. etc.). Por puro pragmatismo que o momento pede, parto para afirmações. Primeiro: a participação nas decisões sobre as cidades é um Direito Humano e um princípio democrático do qual não abrimos mão. Segundo, propostas: 1) revisão, ainda que radical, do(s) projeto(s), desde sua versão revisada coletivamente; 2) nele, o fundamental: reumanização do espaço (replantio de verde nativo, ou adaptável não-predatório; construção de conjunto habitacional experimental – por assim dizer – e acessível, com coleta seletiva de lixo que efetivamente funcione e articulada às cooperativas de coleta; energia eólica; espaço cultural e de convivência – praças de uso multigeracional, biblioteca pública, sala de cinema\teatro…). E por aí vamos. Bom, são propostas que espero coerentes com o que pensamos\queremos coletivamente e viáveis, e que a meu ver podem ser reconstruidas ou recuperadas. O certo é que estejamos, pois, na audiência para provocar a reinstalação desse processo de maneira mais responsável e democrática.
Acho válidas todas as propostas sugeridas, mas convenhamos que em uma cidade carente construir algo do tipo é pura utopia… Se o estado e município não têm capacidade de fazer isso, qual o problema de abrir espaço para a iniciativa privada? O que não podemos é ficar procrastinando projetos (ad eternum, até que o estado tenha capacidade para fazer o que foi sugerido por você) de uma área que, acredito que seja consenso geral, é extremamente mal utilizada e perigosa.
Preza Raquel, tive oportunidade de participar do Projeto Recie-Olinda como Gestor de Meio Ambiente. Na época, desenvolvemos uma madura discussão sobre a componente ambiental, principalmente depois da chegada da expertise dos profissionais do Parque Expo. Hoje essa mesma componente foi completamente esquecida e sequer apresentada. Temo pela qualidade ambiental desse importante trecho da RMR. Uma pena…
Moro no Recife e não sou de todo contra o projeto. O prórpio relato da Raquel nos mostra como é lento e difícil concretizar certas iniciativas apenas com a participação do poder público. Seria mais interessante que este projeto se concretizasse baseado numa série de regulamentações e contra partidas dos empreendedores para a cidade. Aquela área está há anos desconectada da cidade e sem qualquer uso…não seria melhor que de fato fosse feito algo ali, mesmo com a iniciativa privada como parceira do Estado?
a historia do parque Dona Lindú se repete …. perdemos …
a mobilização contra o shopping na Tamarineira foi VITORIOSA !!
vamos a luta mais uma vez !!
Luta para quê? manter a situação precária de como está o local? Luta contra a modernização? Ou para manter tudo dependente do Estado (que convenhamos mal consegue garantir os direitos fundamentais da população) e esperar que ele faça milagres imobiliários e parques?
Vamos ser mais realistas pessoal…
Boa tarde!
Seu texto é bastante esclarecedor e muito nos ajudará para informar as demais pessoas sem acesso às redes sociais.
Abraço!
Luciene Malta
Prezada Raquel,
Infelizmente, a história é mais antiga ainda e demonstra uma paciente estratégia por parte do setor imobiliário para investir o centro da cidade onde pouco se interessa pela recuperação das estruturas existentes e muito pela apropriação e valorização de terrenos para edificação de arranha-ceus em condomínios fechados num modelo estético vagamente inspirado de Dubai.
Há uma “prehistória”: A aquisição já há décadas do terreno da Bacardi (na margem direita da Bacia do Pina) por um grande empresário então dono do Bompreço (hoje Wallmart) e patrão do grupo de imprensa e TV Jornal do Comercio.
Há uma “história” cujas etapas são:
1) O Projeto Estratégico “Capital” em 1999 (Prefeito Roberto Magalhães) que mapeia “novas centralidades” – A Bacia do Pina (entre o centro histórico e Boa Viagem) e a Bacia de Santo Amaro (entre o centro histórico e Olinda) e projeta a “Linha Verde”, um novo acesso a Boa Viagem, viabilizando o uso imobiliário de terrenos (José Estelita, Bacardi, Aeroclube, Le Parc). Essa Linha Verde está sendo construida, denominada Via Mangue, incluida no PAC da Copa.
2) O Projeto Urbanístico Recife Olinda (2005), mesmo se pretendia também atender à reurbanização de alguns assentamentos populares e cuja implementação foi minguando, foi de fato mais um passo para justificar novos e grandes empreendimentos imobiliários numa conjuntura de crescimento econômico (que não existia em 1999) em grandes terrenos (Vila Naval em Santo Amaro – ainda em projeto,Shopping Rio Mar, Novo Recife – ambos iniciados, Aeroclube em projeto) Esse Projeto Urbanístico Recife Olinda deixava de fora do seu perimetro grandes assentamentos populares tais como o Coque (vizinho do Cais José Estelita) sinalizando o carater meramente “complementar” das intervenções na melhoria das áreas pobres frente ao objetivo principal de valorização imobiliária desses grandes terrenos.
3) O Plano Diretor do Recife deixou também claro essa orientação desenhando cuidadosamente o perímetro de “operações urbanas” correspondendo aos territórios do Projeto Urbanístico Recife Olinda deixando fora assentamentos populares, de modo a não sobrecarregar eventuais parcerias público-privadas. Retirou também do texto a prioridade da aplicação dos recursos das “operações urbanas” na melhoria das áreas de baixa renda e na construção de unidades habitacionais para as famílias removidas
Recuperando essa sequencia fica claro que o Planejamento Urbano de longo prazo foi feito pelo setor imobiliário que, numa conjuntura favorável, se operacionaliza por eventos espetaculares:
1) Edificação das torres gemeas (“aberrações urbanísticas cuja construção o Ministério Publico tentou sem sucesso barrar na Justiça” segundo uma matéria da Folha de São Paulo de 09/09/2010 sobre a qual a imprensa local silenciou).
2) Conflito da Tamarineira, onde como já havia acontecido em 1993, projetou-se um Shopping que foi barrado, como o foi em 1993, através de uma campanha do Jornal do Comercio em nome da defesa do meio ambiente que mobilizou a classe média. O dia seguinte foi anunciada a construção do Shopping RioMar na Bacia do Pina.
3) Arremate dos terrenos da União (Cais José Estelita) e projeto Novo Recife.
Se o modelo estético é inspirado de Dubai vale a pena lembrar que nesse emirado do petróleo com grande projeção internacional a população trabalhadora (a maioria) é formada por imigrantes com contratos temporários vindo de países (Paquistão, Filipinas, Indonésia) onde retornam após o contrato. Construir a cidade brasileira , um “novo Recife” exige levar em conta um outro contexto social: as pessimas ou mediocres condições do “habitat” (habitação, infraestruturas públicas, ambiente) da maioria dos nossos conterraneos. De fato, na sua mensagem, Clara expressou a repulsa frente à concretização do urbanismo de business
Agora sim a questão parece mais clara, Jan! De Lisboa e Dubai ao Recife: o “novo” urbanismo da desfaçatez. Quando viraremos o lugar comum das operações urbanas com seus mega-projetos desastrosos? José Tavares
Alguém já viu o projeto para ter esta movimentação toda?
Pois eu ficaria muito feliz se aquilo fosse convertido em uma área útil comercial ou residencial. É triste ver uma área tão bonita e vasta sem qualquer valor, com vários armazéns velhos que servem apenas de foco pra drogas e ladrões. Quem tem coragem de andar ali à noite? Quem tem coragem pra caminhar ali e admirar o rio, sem o risco de ser assaltado? Tornar residencial ou comercial diminuiria isso, e até valorizaria aquele ambiente, como uma new orla de Recife. Muito melhor do que ficar um lugar que é cartão postal em teoria, mas que turista algum tem coragem de ir visitar.
João Marcelo, eu e mais algumas pessoas fomos ao Ministério Público para debater sobre o projeto e vimos não apenas o projeto como toda a documentação referente aos processos para a sua implementação. Ao longo das últimas semanas, debatemos com o próprio MP e com vários especialistas sobre o problema. Elton e Virgínia, ninguém é contra a ocupação da área, somos contra esse projeto. Uma boa possibilidade seria a retomada do Recife-Olinda, como diz a própria Raquel. Convido todos vocês a comparecerem à audiência no dia 22/03, às 9h, no Plenarinho da Câmara. Nosso objetivo é levar a população a participar dessas decisões que nos afetam a todos.
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É importante promover o fim social para o imóvel urbano, conforme estabelece o Estatuto da Cidade, contudo deve-se primeiramente atentar para a destinação e o uso que se está dando ao bem público, independentemente de que nível de governo. Afinal de contas, as necessidades a serem atendidas são inúmeras, a começar pelas sociais. A área em discussão tem uma longa história de propriedade e de ocupação. A intenção da dinamização espacial na área é boa, evidentemente. O que não é boa é a forma como ocorrem as negociações, as definições de uso e ocupação, enfim, as negociações, pois se trata de um BEM PÚBLICO.
Temos que melhorar o espaço urbano, é verdade, principalmente quando a própria mídia local, através de estudos confiáveis, aborda a questão da inadequada distribuição de área verde e de convivência democrática na cidade, e aquele espaço bem que poderia servir para esse fim, garantindo o mínimo de humanização na urbanização da cidade como herança para os nossos netos. Desconfio que o olho grande dos capitalistas americanos não conseguiram, na época, construir seus arranha-céus de luxo na área do Central Park, em Nova York, no Millenium Park, em Chicago ou no Place de la Concorde, em Paris. Mas aqui, no país tupiniquim, meia dúzia de “coroneis”, olhando o próprio umbigo, ainda decidem o futuro urbanístico da cidade e em espaço da União, conquistado com os nossos impostos e que vai ser propriedade de poucos. O pior, o conjunto vai esconder a iniquidade que é a questão da moradia popular no Recife. Vai ser “obra para inglês ver”, dizer OH! e passar adiante, acreditando que viu a realidade… mas o capital vive mesmo de vender ilusões…
Viadutos na Agamenon?
Fabuloso, companheiros recifenses! Temos de protestar efetivamente contra esse projeto “Novo Recife”! Para que revitalizar essa área do Cais José Estelita? Vão acabar com a linda cracolândia que está cada vez maior por lá. Onde se concentrarão os viciados e os ladrões que assaltam os trabalhadores que por ali passam no retorno de suas jornadas de trabalho? E o que dizer dos mendigos que moram ali? Não há necessidade de relocá-los num lugar com mais estrutura. Devemos deixá-los ao relento! Isso sim é a “história da paisagem” de nossa cidade: a miséria!
As obras vão gerar 3.000 empregos diretos, mas quem precisa trabalhar para esses burgueses?!
Outra coisa, a “Marcha da Maconha” está chegando! Não se esqueçam! Vamos mostrar ao Brasil que o Recife tem um força absurda quando se trata de mobilizações (da classe média culta e de esquerda) para assuntos sem menor importância para o desenvolvimento do país! Viva o retrocesso e o discurso de D.A.!
Espero vocês por lá no século XIX!
Caro Apolonio, sugiro que se informe melhor, lendo os posts anteriores.
entenda bem, vejo que é um comentário sem maldade e sem intuito de ofender ninguém, porém, sem conhecimento técnico do assunto,
aquela região faz parte de um complexo sistema urbano, ligação entre bairros históricos da cidade, e apesar de estar abandonada, tem sim grande importância para o contexto urbano, e por isso mesmo tem de ser revitalizada. Concordo que é perigoso, É MUITO, mas não é colocando torres( serão 12 até agora ), que você vai resolver o problema, se fosse assim cidades como São Paulo, e o próprio bairro de Boa Viagem, seriam super seguros, coisa que não são.
Isso sem comentar o fato de que, o bairro do Recife é possuidor de um skyline baixo, onde as igrejas tomam parte como destaque na paisagem, é algo que já é marca de nossa cidade, e isso faz parte, junto com outros aspectos físicos e culturais, da composição da identidade do povo recifense.
Temos que preservar aquilo que cantamos com tanto orgulho nas músicas de carnaval, e no hino do nosso estado, somos a terra dos altos coqueiros, não das grandes torres, podemos e DEVEMOS cuidar daquela área, mas da maneira correta, a cidade deve ser de todos, e não de alguns.
espero ter posto uma luz no assunto, e quero dizer mais uma vez, que somos todos a favor da intervenção naquela região, assim como em outras espalhadas pela cidade, mas temos que fazer isso com responsabilidade acima de tudo, pensando no contexto urbano e social, e não apenas no lucro desenfreado que o mercado imobiliário visa.
Atenciosamente,
Henrique Mafra.
NÃO ESQUEÇAM QUE A ESTA ALTURA JÁ FORAM TROCADAS ÁREAS CONSTRUÍDAS PELOS POLÍTICOS ENVOLVIDOS É SÓ AGUARDAR.
INFELIZMENTE ELES QUE SÃO RESPONSÁVEIS PELA CONSERVAÇÃO, MAIS O DINHEIRO NA CUECA FALA MAIS ALTO, A CORRUPÇÃO É GERAL , POREM NÃO PODEMOS DESISTIR DE LUTAR . .
A S TORRES GÉMEAS, JOÃO PAULO, LAVAREDA, JARBAS E OUTROS GANHARAM APARTAMENTOS.
AS CONSTRUTORAS MANDAM NO POLÍTICOS E ÓRGÃOS QUE É PROIBIDO MENCIONAR
É isso mesmo, Henrique!
Nativo da região em questão e reconhecendo o pouco aproveitamento do local o que não quer dizer em concordar com o que querem fazer.
Historicamente rico, Forte de Cinco Pontes, Casa de Banho, do outro lado a Ilha do Nogueira (na Brasília), o próprio lugar era chamado de Campina do Bode, Areial, Vila dos Pescadores…
Quando A REFESA, fechou a passagem da Av: Saturnino de Brito para Av: Sul e Rua: Imperial, modificou toda estrutura do bairro, causando um verdadeiro transtorno e então O Cais José de Estelita passou a ser o principal eixo viário, veio a construção do viaduto e a via ficou sem a mesma importância para a passagem do trânsito.
Por que a área não fica reservada para estruturas educativas de todo o tipo: Museus, escolas, espaço de concentração para os movimentos de preservação da natureza usando a bacia como campo de estudo, ensinar as novas gerações o respeito pela história e ao maio ambiente… Quem sabe um núcleo de assistência aos mendigos dos arredores…
Este espaço sinônimo de tantas lutas por pessoas simples como os pescadores que outrora abasteciam o comercio da época, que assim como Brasília Teimosa tiveram de conviver com destruições dos seus casebres para dá lugar as empreitadas imobiliárias (onde hoje ficam os esqueletos dos armazéns) que simbolicamente sejam devolvidas ao aproveitamento das comunidades que geralmente não tem recursos para moradias decentes mais
que tem ter de nós o respeito de conhecer o passado histórico de nossa terra, de admirar e aproveitar um dos locais mais belos de nossa cidade.
COPACABANGA: A PORTA DO MAR.
Antes do porto do Recife, século XIX a bacia do Rio Capibaribe era a “PORTA DO MAR”, pois o rio pedia licença ao mar para desaguar lá.
Historicamente é fato que lá existia a “CASA DE BANHO” na recepção de escravos vindos nos navios negreiros.
Ali também a navegação pluvial iniciava o desbravamento pelo rio até o agreste do nosso estado.
Hoje a “PORTA DO MAR” fechou, pois lá está uma contenção do mar portuário e as “TORRES GÊMEAS” uma lembrança emprestada, uns espigões destoantes do esplendor natural do que chamo “COPACABANGA”.
Na outra margem o “RIO MAR” um shopping em construção que maior não há.
PAREM… Deixem o belo ainda como está.
Neste lugar existe o “ESPELHO DO CÉU” que em noite de luar na lâmina de sua água, as estrelas estão tão perto que dá vontade de tocá-las.
As garças voam e revoam como mensageiras do amor.
Deixem-nas exercerem está nobre missão na CABANGA, lugar onde nasci.
Apeles Duarte
Caro Henrique,
Agradeço sua atenção e o congratulo por sua argumentação bem construída. Mas, se me permite, gostaria de utilizar sua premissa “temos que preservar aquilo que cantamos com tanto orgulho nas músicas de carnaval, e no hino do nosso estado” para despejar aqui um pouco de meu ceticismo senil.
Partindo do pressuposto de que “temos de preservar o que cantamos”, pergunto: por que os senhores urbanistas e arquitetos detentores do conhecimento técnico não se unem para elaborar e propor um projeto de revitalização da Rua Velha por exemplo? Trata-se lá de um conjunto arquitetônico do século XVIII (salvo engano) que muito significa em termos de “identidade do povo recifense” – os sobrados estudados por Gilberto Freyre – e que se encontra completamente esquecido.
Outro exemplo. Por que não há projetos que debatam a revitalização da linda avenida Martins de Barros? Por qual motivo os urbanistas preocupados e atentos às necessidades do Recife não voltam seus olhares e força de mobilização para recuperar e reintegrar efetivamente esse belo cartão postal de nossa cidade que está negligenciado? Trata-se aqui de dois locais que poderiam ser restaurados e reincorporados à cidade de maneira bastante proveitosa para todos os recifenses. Imagine o senhor espaços culturais, atividades comerciais diversas, restaurantes, livrarias, cinemas e cafés funcionando nesses conjuntos? Seria fabuloso, concorda? Ou soa muito burguês a seus olhos?!
O fato é que não vejo esses problemas urbanísticos serem levados em consideração pelos que hoje se revoltam com a oportunidade de dar novamente vida ao Cais José Estelita. Nem mesmo no ativismo de sofá que é o Facebook…
O que existe, a meu ver, é uma repetição alienada (sim, refiro-me ao deus Marx) de discursos esquerdistas e supostamente socializantes, mas que preferem concentrar as benesses aos poucos “companheiros” e distribuir a miséria à sociedade pondo a culpa na classe média e vitimizando a grande massa de manobra que é o povo! Ou seja, a velha demagogia de sempre, só que agora encoberta pela cínica aura da pureza ideológica de esquerda.
Excelente! Poético! Dessa forma iremos bem longe… rumo ao caos! Quem sabe um dia não viramos Cuba?!
Cordialmente,
Apolônio de Carvalho
Colegas,
Vamos evitar o debate ideológico e os processos de intenção e partir da premissa que a todos importa é a melhora do centro do Recife que precisa de intervenções coordenadas.
Há no centro três tipos de espaços:
1) Os conjuntos edificados que retratam diversos periodos de intervenções passadas:
padrões do Recife colonial (a velha Boa Vista e o velho São José).
padrão do Recife do início do século XX com resquícios coloniais (Bairro do Recife)
padrões do Recife dos anos 50 e 60 (em Santo Antônio e na Boa Vista)
Conjuntamente, representam a memória do centro da cidade e o que nos desespera é que até agora não conseguimos como sociedade gerar intervenções de manutenção/recuperação em escala e ritmo compatíveis com a importancia desse patrimônio. Parece que tudo depende do dinheiro público e da captação de recursos externos (Tipo projeto Monumenta-BID). Será que o empresariado pernambucano não poderia na fase de crescimento econômico atual demonstrar seu apreço na recuperação dessas áreas. Reconheço que é um trabalho nada simples (propriedades muito divididas, questões jurídicas etc) e tecnicamente mais desafiante(restaurar é mais dificil que construir a partir de zero). Também envolve lidar com usos e populações existentes. Mas, confio que existem em Pernambuco competências para isso tanto no setor público quanto no setor privado. Temos um contra-modelo: São Luis do Maranhão onde tudo ficou a cargo do setor publico e um modelo no bairro de San Telmo em Buenos Aires (obviamente com as adaptações a nossas espeficidades!).
2) Os assentamentos auto-construídos por famílias de baixa renda (grandes como o Coque, Coelhos, Santo Amaro, Carangueijo-Tabaiares ou pequenos como a Vila Brasil e o Pilar). Em termos absolutos são as áreas mais populosas do centro e representam a continuidade histórico do Recife dos mocambos. Precisam e muito de intervenções para permitir condições decentes de moradia e o que nos desespera é a lentidão das melhorias a conta-gota (a minúscula Pilar demorou 26 anos para que acontecesse algo). Também acho que na questão de urbanização das favelas, existem competências técnicas e sociais em Pernambuco, faltando um melhor direcionamento dos recursos. Ora, esses poderiam hoje aparecer desde que nas operações urbanas houvesse contrapartidas reais negociadas às claras entre o poder público (público de verdade!) e os promotores privados dos grandes projetos demonstrando compromissos também de verdade com a responsabilidade social de estarem atuando em Recife (muito diferente socialmente de uma Florianópolis). O projeto Recife-Olinda avançava um pouco nisso prevendo 30% de construções sociais só que definição do teto de renda era mais para Florianopolis que para Recife (12 salários mínimos!). Obviamente, essas contapartidas reduzem o lucro imédiato desses promotores privados, mas se acreditem que a fase de crescimento econômico será sustentada e não um fogo de palha, podem pensar também além do imédiato para recuperar os custos engajados nos grandes projetos e alongar um pouco as previsões de lucro.
3) Os espaços “subutilizados” remanescentes das indústrias, armazens, patio ferroviário, aeroclube, desativados (partes de Santo Amaro, Recife, São José, Pina). São esses os espaços dos grandes projetos que estão sendo os alvos das intervenções espetaculares e que debatemos como eventos como se não podessemos pensar nas articulações entre todas essas partes do centro da cidade. Parece-me que o debate proposto é o dessa articulação (contrapartidas) e o da qualidade dos projetos (relações entre espaços privados fechados e espaços públicos de qualidade e padrões estétícos da arquitetura) e das suas relações com meio-ambiente (ou desconhecemos a geografia física da cidade com seu grave problema de escoamento das águas da chuvas e da maré?).
Peço desculpa por não ter conseguido ser sintético.
Em tempo, quanto à questão da droga que alguns levantaram penso que não se trata de simplesmente eliminar os espaços de consumo (as áreas abandonadas) mas de levar em conta que se trata de um circuito econômico e temo que um modelo muito excludente (edifícios de luxo sem contrapartidas consistentes e rápidas na melhoria das “favelas”) possa levar a “carioquização à Zona Sul” dessa parte do Recife com incremento de consumidores abastados acelerando o interesse do tráfico em controlar as favelas como áreas de despacho da “mercadoria”.
Abraço a todos
Concordo com os que responderam que a área é bastante perigosa e obsoleta, porém reflitam a contrução do condomínio de luxo não mudará a situação atual, onde a insegurança continuará do lado de fora!!!Só um pequenas parcela terá privilégios com o empreendimento por isso eu defendo pela contrução de áreas verdes e parques tipo a Jaqueira, sei que levará tempo, mas o assunto é a longo prazo, pois a gerações futuras e que vão sofrer com esse desenvolvimento urbano e declineo ambiental…
Assista aos vídeos da audiência pública, de 22/03/2012, para discutir o projeto imobiliário (Moura Dubeux) no Cais José Estelita – Recife – PE.
http://www.ustream.tv/recorded/21281730
http://www.ustream.tv/recorded/21282783
http://www.ustream.tv/recorded/21283192
http://lagentprovocateur.wordpress.com/2012/04/14/2-accion-reaccion-02-ojala-recife-tenga-su-orilla-del-turia/
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Aconteceu ontem no Cais em Recife o #OcupeEstelita: reunião de centenas de pessoas indignadas com a proposta imobiliária para o cais e com a falta de compromisso do poder público com a cidade. Foi um ponto importante no processo de mobilização que está acontecendo na cidade em função das perspectivas de grandes intervenções e da ocupação definitiva de áreas estruturais do Recife hoje “sub-utilizadas”, de certa forma protegidas pelo abandono que sofrem, guardadas como uma possibilidade hoje ameaçada pela fome do capital imobiliário e pela apatia do poder público.
O movimento tem uma origem clara nas redes sociais, e está crescendo disponível e desejoso da maior mistura possível com todos os habitantes da cidade e com as diversas formas de organização e manifestação de seus sentimentos e interesses em relação a ela.
Está havendo uma significativa repercussão da ocupação na mídia tradicional e principalmente na internet. A maturidade das respostas que estão sendo publicadas dispersa e espontaneamente às reações mais hostis ao ato, demonstram o avanço do debate que está se consolidando.
Foi muito bonito ver o cais apinhado de gente em favor da cidade. Mais bonito saber que isto é o anúncio de um começo, que há ainda grande possibilidade de abertura e contaminação, que o que vimos ontem representa a afirmação da possibilidade de debate, de envolvimento e de participação de cada um no processo de feitura da cidade.
Diante deste anúncio, quanto tempo o poder público poderá aguentar sem oferecer uma resposta? Sem se comprometer com uma mudança radical em sua postura?
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Aqui o texto de André Raboni no blog greekcafe, um dos bons exemplos de resposta às reações à ocupação: http://geekcafe.blog.br/index.php/2012/04/recife-a-cidade-cosmopolita-mais-provinciana-em-linha-reta-do-mundo/
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No blog Direitos Urbanos | Recife há uma compilação sobre o que está sendo dito.
http://direitosurbanos.wordpress.com/2012/04/16/clipping-ocupe-estelita/
Complementando alguns comentários de como será o Cais Engº José de Estelita em breve, acrescento; Existe um projeto de construção de uma nova ponte na região interligando a Brasília Teimosa com o Recife Antigo, isso explorando a orla, desde a Av: Boa Viagem (no Pina) até o Iate Clube do Recife na Brasília Teimosa (alternativa de mobilidade) e com a conclusão do viaduto Capitão Temudo todo tráfego da zona sul com a Av: Agamenon Magalhães será resolvido.
Afirmo, com estas obras prontas ” O CAIS SERÁ ANCORADOURO PRIVADO DAS 12 TORRES E DAS DEMAIS QUE SURGIRÃO”, pois não terá sentido de fluxo algum e o que falam sobre acesso para o bairro de São José, Ilha Joana Bezerra por certo deverão existir, porém com portarias para controle de passagem.
Abraços
Fotos 360 graus do dia 22 de abril no #OcupeEstelita – http://click360graus.com.br/tour/ocupa_estelita/
Como pernambucano que sou e em virtude da função que exercí, conheço quase todos estados do Brasil do Acre onde morei por seis anos, até o Rio grande do Sul. Recife é pobre em áreas de lazer e para ações culturais. Em vários estados que conhecí,as cidades principalmente são enrequecidas de parques com as mais variadas ferramentas de lazer.Ví ser construido o Parque Dona Lindú (em terreno público federal) sem muito a oferecer construido em uma pequena área para o que se propôe e ainda por cima, cheio de problemas de construção em suas edificações, um acabamento péssimo e hoje até o reboco de algumas áreas já estão caindo. Recife através dos tres poderes, poderiam ter aproveitado aquela área para instalar um grande parque e bem équipado pois o espaço do Cais José Estelita daria condições inclusive de abrigar um bom estacionamento para os que alí fossem visitar, sem que viesse promover o tumulto que o dona Lindú causa
em fins de semana e dias de eventos. Não precisamos ir muito longe, basta irmos conhecer a “Estação Ciencia” em Jõao Pessoa, ferramenta cultural dm forma de parque bem localizada e bem construido um exelente aproveitamento da área.
Existe um objetivo do atual Governo de Pernambuco e os grupos Petribu, Banco Gerador, Queiroz Galvao capitaneados pela Moura Dubeux de acabarem com os pobres do Recife.
A Ideia e supervalorizar as areas do Cabo, Jaboatao, Paulista, Olinda e Sao Lourenço onde estes grupos compraram milhares de hectares nos ultimos anos por mais ou menos R$ 4.000,00/HA e comecar a lotear, construir e vender por ate R$ 6.000/M2 construido (GANHAM 20.000% NA OPERAÇÃO) de forma que a classe media baixa e classes D e E sejam obrigadas a sair para as periferias mais distantes. Claro que os pobres voltam armados e farao desta regiao uma das mais violentas do Brasil, no minimo.
Mas eles tem helicopteros carros blindados e seguranças e nao estao nem um pouco preocupados.
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