Com a justificativa da preparação da cidade para a Copa do Mundo de 2014, mais um contra-senso do ponto de vista urbanístico está sendo proposto, dessa vez, em Brasília. É que a Terracap, empresa pública detentora dos terrenos de Brasília, pretende aumentar o gabarito de toda a quadra 901 Norte, no Plano Piloto, para permitir a construção de um grande hotel, alegando que a cidade não tem leitos suficientes para a atender a demanda que haverá durante a Copa.
Como diz a jornalista Regina Rocha em matéria no Portal 2014, “imagine um dia a cidade de Veneza fechando seus canais, só para aumentar a área disponível a novos empreendimentos. Ou Paris, a cidade luz, autorizando à iniciativa privada erguer arranha-céus ao lado da Torre Eiffel, roubando a vista do monumento às margens do Sena.” É mais ou menos isso o que vai acontecer com Brasília, se a proposta da Terracap for aprovada.
Em primeiro lugar, a cidade poderia construir mais hoteis dentro da norma, sem alterar seu plano urbanístico. Além disso, a informação de que não há leitos suficientes em Brasília é contestada pela própria associação dos hoteis de Brasília em função das características da hospedagem nessa cidade, que fica sempre subutilizada em fins de semana e férias, como é o caso do mês de julho, quando será realizada a Copa. Mexer no gabarito da Quadra 901 Norte seria uma interferência enorme no Plano Piloto, que, vale lembrar, é tombado pelo Iphan e considerado pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade.
O fato é que não estão muito claras as verdadeiras motivações dessa proposta. Aparentemente, essa alteração no gabarito seria um mecanismo para gerar uma valorização do terreno que poderia financiar a reforma do Estádio Mané Garrincha. A hipótese é plausível, já que a venda de excessões nos planos urbanísticos já foram propostas em outras situações semelhantes, como é o caso da Arena do Atlético em Curitiba, que eu já comentei aqui. De qualquer maneira, não há transparência alguma nesse processo.
Leia o manifesto “Urbanistas por Brasília”, contrário à proposta.
Gente, Brasília não é o Vaticano. Visãozinha mais retrógrada… Já estava na hora… Cidade precisa evoluir, respirar, crescer. “Congela tudo” é que não funciona. Fica essa ilha da fantasia do jeito que está.
Nessa lógica absurda, não deixaram o metrô passar onde deveria. Ficou lá, perdido do lado do Eixão Norte.
Não querem uma cidade, querem um museu a céu aberto, sem respeito pela escada humana. Sem respeito pela necessidade de infra-estrutura, de moradia, de custos mais baixos, de menores distâncias.
Isso vindo de uma urbanista. E professora.
Afe.
Bem, o que a gente poderia esperar de alguém que chama “escala” de “escada”…
Aparentemente o senhor não deve ter entendido o texto. O mesmo não condena a “expansão” de Brasília por motivos nostálgicos de preservação, e sim por não haver a mínima necessidade de tamanha agressão ao projeto original.
E só pra constar, a sua Paris do século XVIII era outra coisa. Imagina se não tivessem aberto os boulevards que hj são a cara da cidade no século XIX. Cada uma… Vamos congelar tudo!
Uma coisa é impedir o metrô: um estupidez. Outra é entender (e confundir) progresso e desenvolvimento de uma cidade com a falta de regulação sobre o solo pra investimentos imobiliários que nada te a ver com “espeito pela necessidade de infra-estrutura, de moradia, de custos mais baixos, de menores distâncias.”
Quartos de hotel em arranha-céus não parecem ser a prioridade para Brasília ou qualquer cidade brasileira.
Em Brasília o que espanta é a especulação imobiliária estar nas mãos do próprio Estado, proprietário de 51% do solo urbano. É de espantar a construção de um estádio – o mais caro da copa, cuja capacidade excede o requerido, cujo projeto não foi alvo de consulta à sociedade. Porém, o que mais espanta é que, para financiar a construção do disparatado futuro “elefante branco”, o governo busque recursos à custa de um projeto como o parcelamento da 901 Norte – evidente demanda encomendada, residencial disfarçada de hotéis, feita pelo setor imobiliário privado em um local já saturado do ponto de vista de tráfego e que, se realizado, colocaria em risco o tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. Felizmente a Casa de Lucio Costa e o IPHAN/DF se manifestaram contrários à proposta. Mesmo assim ainda há riscos.
Em Paris, um plano de alteração urbnística leva muitos anos de planejamento e debate público até ser posto em marcha. Aqqui se improvisam as coisas conforme a necessidade do momento. Sem transparência. Não fosse este Blog, nem estaríamos opinando. É isso que incomoda a mim e à autora: a falta de transparência.
O mais importante agora é a participação da sociedade, o que caracteriza a tomada de consciência da amplitude dos fatos, na área arquitetônica, urbanística, imobiliária e, ssobretudo, da gestão pública da cidade.
A cidade é um produto da sociedade enão dos seus governantes que. aliás, dependem do voto dos cidadãos. Obrigada Raquel, pela contribuição colocando a matéria em um universo maior. Brasília é a capital de todos os brasileiros, toda manifestação é importante para a ampliação do discernimento. Grande abraço.
Infelizmente, para a maioria dos brasileiros a palavra ‘progresso’ ainda está associada a outra bem mais perigosa: construção. Concreto, asfalto, vidro, aço, automóveis e barracos fizeram das nossas grandes cidades lugares hostis, sem áreas verdes. O vale-tudo urbano em nome do ‘ganhar dinheiro’ é o que vigora.
É sob essa ótica distorcida que muita gente vê São Paulo, por exemplo. Não é sem motivo que a metrópole agoniza sob o peso de 20 milhões de corpos espremidos em área menor que Sergipe, o menor dos estados brasileiros. Uma verdadeira serra-pelada urbana, um lugar para onde se vai a fim de ganhar dinheiro. O sentimento de pertencimento, de zelo pela cidade, não existe. Cidadania então, nem pensar.
É isso que podem esperar os moradores de Brasília.
Entretanto, creio que com a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU as coisas podem melhorar. Finalmente os arquitetos, pessoas que pensam sobre as cidades, começarão a ser ouvidos.
Eu nao sou da area, mas se nao me engano… nao foi o Le Corbusier que queria destruir bairros historicos na Franca para construcoes contemporaneas nos anos 20 e Paris simplesmente nao deixou? A populacao nao permitiu. E nao foi feito.
Questoes a pensar…
Olá pessoal,
Aproveitando o conteúdo acima, venho através desse contato a vocês para mostrar uma matéria que fala sobre a diferença do custo das obras para Copa – 2014 e Olimpíadas – 2016 em relação a outras edições dos eventos, bem como a dificuldade que o país pode encontrar para aproveitar toda estrutura que está sendo construída depois que os eventos terminarem.
http://kigol.com.br/blog/view/post/estrutura-deixada-pela-copa-2014-quem-vai-aproveitar
É incrivel como em um país carente de escolas e hospitais os politicos possam se preocupar tanto em construir estadios para copas ao inves de investir em saude e educação!
Pois é Ruth, estamos no Brasil né, aqui o futebol é levado mais a serio que os problemas sociais que vemos todos os dias. A minha intenção em divulgar a matéria acima é tentar abrir os olhos das pessoas e mostrar que a copa é um evento passageiro, irá trazer benefícios ao país, mais também estaremos gastando em ilusão. Gaste em saúde, em educação, em saneamento básico, não em estruturas que não serviram para a evolução da sociedade.
Em Belo Horizonte é a mesma coisa: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=197208,OTE&busca=verticaliza%E7%E3o%20pampulha&pagina=1
O pesadelo da 901 Norte, o vale tudo do mercado imobiliário, voltou com força total embarcado no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB. A Audiência Pública pro forma para aprovação desse crime será dia 9/6/2012 e precisamos do apoio da população de Brasília e dos brasileiros que lutam pela preservação de nosso patrimônio! Informem-se no http://www.urbanistasporbrasilia.com.br
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Importante apoio recebido de Raquel Rolnik.
E o pesadelo da 901 Norte continua!