Reunião da UNESCO em Brasília: como definir os critérios do que é ou não patrimônio da humanidade?

A Unesco – organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura – iniciou esta semana em Brasília a 34ª reunião do comitê do patrimônio mundial. É neste espaço que são votadas a inclusão de novos sítios ou monumentos como patrimônio da humanidade, assim como, eventualmente, a exclusão dos que estão em risco.

Nesta reunião do pleno da Unesco estão representados os países que aderiram à convenção do patrimônio mundial da Unesco. No Brasil nós temos 17 sítios históricos que, além de serem protegidos como patrimônio nacional, muitas vezes estadual ou municipal também, são patrimônio da humanidade. O primeiro a adquirir este status, já vai fazer 30 anos, foi a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Agora o Brasil está apresentando a candidatura da cidade de São Cristóvão, em Sergipe. E há uma discussão em torno desta candidatura na medida em que ela é um exemplar de arquitetura e urbanismo semelhante a outros que já estão tombados no Brasil.

O Rio de Janeiro também está preparando sua candidatura, mas acabou não apresentando nesta reunião. E é uma candidatura que traz um conceito muito diferente, que não envolve apenas a questão dos monumentos de arquitetura, mas também a ideia de paisagem cultural, inclusive a geografia da cidade que é muito especial. Mas como eu falei, a candidatura foi preparada, está pronta, começa agora a ser avaliada, mas não está em pauta.

Agora, há questões mais amplas envolvidas. Se pararmos para pensar durante 5 minutos, nos perguntaremos: como definir o que é que tem valor excepcional universal e que, portanto, se diferencia de outras coisas que não têm esse valor? Me parece uma discussão complicada.

Historicamente, na Unesco, os critérios de definição do que é patrimônio da humanidade valorizaram aspectos de uma arquitetura culta, de tradição greco-romana e do mundo medieval e renascentista europeu. Mas é claro que com a entrada mais pesada de países em desenvolvimento no pleno da Unesco, começaram a se apresentar candidaturas que não necessariamente tinham esse perfil.

A partir daí, apareceram, por exemplo, elementos de paisagem, como é o caso da cidade do Rio de Janeiro, que não tem a ver só com a arquitetura, mas com uma geografia que é muito particular. E desde então existe uma tensão.

A maior parte dos sítios históricos que são tombados no mundo, mais de 800, está na Europa e na América do Norte. E se a gente for ver a lista do patrimônio que está ameaçado, dos quais estão querendo tirar o título, a maior parte está em países em desenvolvimento.

E essa vai ser uma das questões importantes desta reunião de Brasília, que tem mais de 180 países participando. Nela poderão acontecer mudanças nos critérios, e novos sítios históricos que hoje não conseguem se candidatar terão a possibilidade de fazê-lo.

3 comentários sobre “Reunião da UNESCO em Brasília: como definir os critérios do que é ou não patrimônio da humanidade?

  1. O título “patrimônio da humanidade” pode até atrair investidores para uma região, contudo traz grandes responsabilidades. É o caso de São Cristóvão em Sergipe. Compreendo, enquanto morador do Estado, que tais honrarias deveriam vir acompanhadas de uma política patrimonial e cultural mais séria. Pior que ganhá-lo ( o título) é perde-lo.

    Não existe originalidade na praça em questão, em relação a outras localidades do Brasil, bem como, algumas afirmações sobre a história do Patrimônio são mantidas para conceder importância ao conjunto. A casa do ouvidor, por exemplo (hj prédio sede do IPHAN), nunca foi casa do ouvidor. Uma pesquisa histórica conjunta revelou outros problemas com outros bens. Só o Iphan e autoridades locais querem manter a importância da praça. Quais os propósitos disso?

  2. Raquel,
    A Praça de São francisco é, certamente, um dos lugares urbanos mais belos e interessantes que vi nos meus 30 anos de IPHAN. Orgulho e honra para os brasileiros e para a humanidade.
    É tão original quanto podem ser os espaços humanos construídos e reiterados ao longo de gerações, remanescentes ilustres da nossa face genial e resistente, mas também testemunho das nossas fraquezas, inconstâncias e desmandos.
    Esperamos que essa honraria estimule os responsáveis mais diretos – comunidade e governos – à retomada social da cidade e de seu entorno, quase tão dantesco quanto é bela a praça. Do contrário muito rapidamente ocupará a lista dos bens culturais em risco.
    Mas, mesmo sem ser vate ou advinho, digo que a honra é merecida e muito nos orgulharemos desse feito.
    Viva São Cristóvão!

  3. UNESCO atende aos interesses dos senhores do mundo.
    FORA UNESCO, FORA ONU.
    O Brasil sabe muito bem cuidar de seu patrimonio, não precisa de nenhum estrangeiro ditando normas para que isso seja feito aqui no Brasil.
    FORA UNESCO FORA UNESCO FORA UNESCO FORA UNESCO

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