Remoção da Favela do Sapo é marcada por falta de soluções definitivas

Nesta sábado, 22, estive na Favela do Sapo e presenciei um panorama desesperador. A comunidade, como já comentei em outro texto, está sendo despejada em função de obras de limpeza de um córrego no âmbito da ampliação da Marginal do Tietê e da implementação da operação urbana Água Branca.

A moradia das pessoas nesta favela é hoje totalmente inadequada e não tenho dúvidas que o reassentamento das famílias que vivem sobre o córrego (aliás, um depósito de lixo) é necessário. Mas a maioria dos envolvidos não recebeu alternativas para onde ir e está enfrentando um processo repleto de desrespeito, desinformação, e muitas vezes, brutalidade.

Vi muitas mulheres sozinhas, com seis, sete filhos, na iminência de serem removidas sem terem para onde ir. Para estas um cheque de quatro ou cinco mil reais significará no máximo ir para a rua ou tentar montar um barraco em outra favela. Conheci uma senhora de mais de 60 anos, sozinha, prestes a ser despejada – para ela foi ofertado 1.500 reais e uma cesta básica.

O clima é de indefinição e insegurança, agravado pela presença de seguranças particulares na favela, contratados pela empresa que venceu a licitação para demolir os barracos. O enfrentamento é grande, e ouvi que os seguranças particulares estão estourando moradias ainda ocupadas.

O plano de reassentamento da Prefeitura contempla apenas as cerca de cem famílias mais antigas da favela. Algumas receberão temporariamente uma bolsa aluguel até que um conjunto habitacional seja construído nas proximidades, o que me parece adequado, e outras uma carta de crédito para adquirir uma moradia se conseguirem comprovar renda, o que às vezes é impossível. As trezentas famílias mais recentes não terão alternativa, a não ser irem para a rua ou mudar-se para outra favela.

Aliás, é exatamente por esta razão que esta favela cresceu tanto: parte das famílias “novas” na favela vieram de outras remoções. Durante os despejos, a Prefeitura costuma fornecer caminhões para a mudança, e há pessoas que dizem ter trazido seus móveis para a Favela do Sapo em veículos da própria Prefeitura. Um círculo vicioso que nunca acaba.

É preciso oferecer soluções definitivas de moradia. Isto é obrigação da Prefeitura, do Estado, do poder público, tanto para as famílias que têm renda quanto para as que não tem. Não podemos ficar empurrando o problema de um lado para o outro da cidade.

Sobretudo, o poder público deve tratar todos os moradores com respeito e dignidade: na Favela do Sapo ninguém sabe ao certo qual será seu destino, já que as informações não estão disponíveis e um espaço permanente de diálogo não existe. As remoções, quando necessárias, precisam ser acompanhadas de respeito, diálogo e soluções que resolvam definitivamente a situação, garantindo o direito humano a uma moradia adequada.

Recebi a informação de que cerca de três mil moradores do acampamento Olga Benário, no Parque do Engenho, extremo sul de São Paulo, serão despejados na segunda-feira, 24. Espero que haja uma solução que proteja essas famílias (foto) e ofereça a elas uma alternativa que não seja simplesmente engrossar a população de rua.

acampamentoolgabenário

Parece que a Prefeitura aceita assumir esta demanda desde que as famílias saiam de lá. Mas para onde levá-las entre o despejo e a solução definitiva?

5 comentários sobre “Remoção da Favela do Sapo é marcada por falta de soluções definitivas

  1. Também trabalho com favelas e, que eu saiba, ninguém é jogado na rua”. Quando a pessoa não tem direito a um atendimento (apartamento em conjunto habitacional, indenização) certamente é porque ela já foi atendida anteriormente e vendeu a moradia. Isso é o que vejo todos os dias.
    É um ciclo vicioso… muita gente recebe a moradia, vende, torra o dinheiro para em seguida procurar outra favela.

  2. Olá, Julia.
    Também trabalho em áreas de ocupação irregular e entendo seu comentário. Porem, gostaria de discordar, acompanho diversas comunidades, e SIM, muitas famílias são despejadas sem nenhuma alternativa, no máximo oferecem R$ 8.000,00, você tem que concordar, não encontramos nenhuma moradia em condições habitaveis por este valor.

    Reflita, antes de defender a Prefeitura, ela esta cada dia mais omissa.

  3. Olá!
    Sou da Equipe de Físico de Urbanização de Favelas e trabalho para uma Gerenciadora que atende SEHAB e suas HABI’s.
    Concordo com Beatriz em sua opinião. Presencio diariamente familias tendo que ser removidas por seus mais diferentes motivos ( canalização de córrego , risco de morte, solapamento, moradias de madeira entre outros), cada caso tem um encaminhamento especifico após estudo social da familia (que consiste em sua grande maioria: levantamento de composição familiar, titulo de concessão e renda), feito esse estudo são oferecidas as possibilidades disponíveis que podem ser: Unidade Habitacional, Verba de atendimento e/ou Permuta.
    Quanto as verbas de atendimento concordo plena-mente que os valores são mínimos e não propiciam a compra de uma moradia com condições mínimas de habitabilidade.
    Fica a duvida de quando nossas secretarias se mobilizarão para uma forma mais digna de atendimento.

    • Caro amigo Luiz;
      Você está certo, certíssimo…continue a fazer o seu trabalho, é digno e o faz com sabedoria, Esse pessoal que são desalojados ou estão na fila aguardando uma casa para morar com a familia, merecem todo respeito.

      Abraço,

      Arody

  4. Boa tarde Raquel.
    Estou muito nervosa com a situação na qual os ex-moradores da favela do Sapo estão tendo que enfrentar nestes últimos anos desde 2009, onde fomos removidos dos nossos barracos para sermos incluídos no programa BOLSA ALUGUEL. O fato é o seguinte em 2009 eu fui obrigada a sair do barraco com um auxilio BOLSA ALUGUEL DE R$ 300,00 por mês, nesta época foi pago um cheque no valor R$ 3.800,00 referente a um ano de beneficio, depois disso a prefeitura começou a pagar o cheque R$ 1.800,00 para seis meses, os dos primeiros cheques foram pagos dentro do prazo daí por diante a situação ficou precária devido ao atraso dos pagamentos do BOLSA ALUGUEL, no meu caso e em todos os outros beneficiados da ex-favela do Sapo, temos que retirar dinheiro do bolso para pagar o aluguel por falta de cumprimento dos deveres da PREFEITURA, por falta de informação não sabemos onde recorrer para que essa venha ser solucionada, ao entramos em contato com a prefeitura solicitando pagamento do beneficio eles dizem que temos que aguardar o contato e em muitos casos nos tratam muito mal por telefone chegando até a desligar o mesmo sem aviso prévio. A minha opinião é a seguinte a prefeitura não pode deixar de pagar o beneficio até que o mesmo não seja mais necessário coisa que só vai acontecer com a pose do imóvel prometido por eles em diversas reuniões, quero expor também a minha indignação com o valor do beneficio que é muito baixo para morar na região Oeste de São Paulo onde o minimo de um aluguel é de mais ou menos R$ 650,00 ou seja fora termos que cobrir os R$ 300,00 temos ainda o acréscimo de R$ 350,00 para pagarmos. Peço ajuda de todos para termos condições de manter este aluguel, sabemos que de 2009 para 2012 o salário minimo aumentou muito e a inflação nem se fala, é nosso direito receber em dia e com os ajustes necessários de VALOR para mantermos o ALUGUEL já que desde de 2009 até agora o valor do aluguel continua R$ 300,00 por mês isso quando é pago, pois quando não é ao pedirmos ajuda para resolvermos o problema as ASSISTENTES SOCIAIS dizem A PREFEITURA NÃO PAGA OS ATRASADOS.
    REFLEXÃO:
    ESTAMOS SENDO DESPEJADOS DESTA VEZ PELAS IMOBILIÁRIAS QUE POR SUA VEZ NÃO ACEITAM ATRASOS, E POR FAMILIARES QUE NÃO PODEM AGUENTAR MUITO TEMPO UM PARENTE E SUA FAMÍLIA TODA DENTRO DE SUAS CASAS.

    POR FAVOR AJUDE-NOS.

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